2010-06-02

Um "Exodus" (*) para a Palestina?


© Mako Moya


A expedição internacional "Frota da Liberdade" incluía cerca de 750 pessoas de 60 nacionalidades e pretendia entregar 10 toneladas de ajuda humanitária à população da Faixa de Gaza.



Não questiono que Israel tem as suas razões. A política do Hamas – ultrafundamentalista e belicista – é abjecta, os seus líderes nunca deveriam ter tido espaço para chegar ao poder, as suas intenções são funestas. E a intervenção humanitária é, demasiadas vezes, ingénua nas suas boas intenções, mas ingerente e, pior, presa fácil de interesses não tão evidentes como isso.

Posto isto – que me parece importante – há a questão da própria política de Israel para Gaza e a total falta de respeito por normas que, mais do que do direito internacional, deveriam ser do senso comum: Israel enfiou aquela gente num gueto sem direitos, sem ajuda internacional, sem acesso ao mais básico. E os políticos israelitas parecem ter aprendido demasiado bem a lição dos algozes do seu povo no que toca a guetos e lebensraum.

Há ali uma desproporção de forças assustadora e, acima de tudo, o espaço limitado, fortificado e fechado onde os palestinianos devem estar a sentir-se encurralados, simples alvos sem fuga possível, mesmo com a fronteira a sul agora aberta após mais este ataque alucinado de que sobram apenas vítimas, muitas palavras e solução alguma.

Lá como cá, há os políticos e os seus jogos; e depois há a religião onde todos se escudam muito para além de qualquer tolerância. Mas há também as pessoas anónimas, que não mandam e desmandam, que apenas são vítimas. E pergunto-me quantos de nós, aprisionados pelas razões dos outros e por betão armado, conseguiríamos não pegar em pedras. Ou quantos não seríamos ainda ingénuos o suficiente para nos metermos num barco e sonharmos em salvar o mundo para acabar, afinal, como só mais uma vítima rapidamente esquecida.

Longe de todas as utopias, vejo vítimas. Cada vez mais vítimas. E, assim empilhadas e esquecidas, sendo mártires, resumem-se cada vez mais apenas a um número.


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(*)Sobre o "Exodus 1947", ler aqui.

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