Há quase nove anos que tenho um blogue. A vários níveis, é um verdadeiro "blogue de gaja", pejadinho de emoções, com dias de séria evidência de que a PMS bateu forte, outros manso e tranquilo, de vida pouco amotinada. Também foi sempre um blogue de crítica contundente e opiniões fortes. De insultos é que não. Vá, de insultos personalizados quase nunca, tirando a algumas aves raras que me questionaram directamente na caixa de comentários. Crítica (quase) insultuosa a políticos muitas vezes, mas sempre remetendo directamente para qualquer opinião expressa pelas criaturas e, que me lembre, comentário – que pretendi como piada e acho que assim foi entendido – a realçar traços específicos de qualquer figura pública, talvez o nariz do Sócrates, a altura do Marques Mendes, a dentadura de Cavaco Silva e o sapatinho vermelho do agora Papa Emérito. Mas eu também nunca precisei de mais, num blogue marginal que sempre quis ser anónimo e anódino, onde sempre se falou da vida sem pudor, com bastante vernáculo à mistura mas – espero – o mesmo respeito pelos outros que gosto que os outros reservem para mim.
E confesso que me farto facilmente de ver declinações sucessivas de temas e pessoas que querem sempre enfiar tudo e todos em fatos por medida, esquecendo a visão enviesada com que o fazem só para poderem continuar a enfiar-se em determinado figurino onde, por vezes, só cabem esquartejadas e com demasiados rabos de fora. E irrita-me a pose sobranceira de gente ignorante por opção. Quaisquer bons neurónios funcionais vão valer sempre muito mais do que uma carteira Gucci, ainda que vá continuar a haver gente a achar que é a roupa que faz a pessoa, deixando à mostra para lá do figurino o vácuo abjecto, porque promovido "ad nauseum" no sem assunto relevante e alimentado a folclore revisteiro e "calúnias" sociais.
Não sei se gosto sempre do meu blogue. Ultimamente já nem o tenho nas rotinas diárias. E não sei sequer se gosto sempre de ser quem sou; há muitos dias em que enjoo de mim. Mas já estou demasiado crescidinha para querer parecer o que não sou. E demasiado empurrada pela vida para cá e para lá para reconhecer que, ao publicar e deixar qualquer flanco a nu, o melhor é fazê-lo com respeito, uma pitada de piada, frontalidade e sem olho nas "page views". Há vida e sentimentos do outro lado do ecrã. Sempre houve. E quem não sabe respeitar, não merece respeito. E quem se limita às aparências está, depois de correr toda a tinta necessária, condenado a ser o idiota de serviço, aquele por quem temos apenas uma espécie de vergonha diferida. É que sempre houve na "blogocoisa" um reflexo perfeito do que se passa para lá dela: há as cliques, os ódios, os interesses, as modas, as votações em qualquer coisa, as micro e macro causas e muita, demasiada gente, que encontrou aqui um púlpito onde tentaram fazer-se maiores ou melhores do que os outros. Alguns transitaram para a política activa, outros nela continuaram mas com visibilidade reforçada, outros ganharam os seus quebrados falando do que sabiam e não sabiam e outros só porque eram o exemplo acabada de um certo nicho que, na realidade, nunca deu para mais. Depois, estamos nós deste lado, os que têm e os que não têm blogue, os que já viram demais e conhecem além do projecto apresentado e sabem que, no fundo, uns e outros vivem em função da imagem que projectam e pelam-se de medo de apenas serem o que são. Uns provam-se interessantes; outros ficam reservados a serem "sound bites" ou pixéis supérfluos. No fim, cada um tem o público que merece e mais não se pode esperar.
8 comentários:
Excelente post, Hipatia! Gostaria de o assinar com uma ou outra pequena adaptação pessoal. Acompanho-te desde há muito tenho sempre muito prazer em passar por cá. É certo que muito menos do que dantes mas também deixo o meu abandonado dias e dias... Outros tempos.
Leva-o então e faz com ele o quiseres. Sei que não há nada nos teus acrescentos que me vá irritar. Ao contrário de tanta coisa que li esta semana: não gosto de me imaginar confundida, só porque tenho um blogue, com uma qualquer coisinha minguada e sem nada dentro da cabecinha :(
Há poucas pessoas capazes de transmitirem por tanto tempo uma energia destas nas palavras. Os meus respeitos, nortenha.
Ui que agora até corei! E ando tão silenciosa e havia tanto assunto para me fazer debitar disparates atrás de disparates com muito vernáculo à mistura :(
Obrigada :)
Nem sempre comento, mas visito regularmente. Deves ter orgulho no teu blog porque o que realmente conta é nunca nos deixarmos comprometer com algo que não tem nada a ver com o nosso ser.
Gostei deste teu desabafo.
Saudações alienígenas
Ando muito afastada, mas ainda é o meu bichinho de estimação. E eu também não tenho passeado por outros espaços, o que é uma vergonha. Mas gosto de me fazer recordar porque mantenho a Voz, porque a comecei, como sempre a tentei manter e porque me vou eternizando por aqui, tão parecida com o que sou fora da net e ao mesmo tempo tão livre no meu anonimato.
Gostei muito deste post e apesar de passar pelo blog há muito tempo, só agora me apeteceu fazer um comentário :)
Isabel Mouzinho
Obrigada, Isabel. Desculpa só ver e publicar agora o teu comentário. Tinha ficado retido no spam. E serás sempre bem vinda, apesar da Voz andar tão paradita :)
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