Eu nunca gostei deste Papa que sucedeu a João Paulo II. Não gostei de quase nada do que fez ao longo do pontificado, dos retrocessos evidentes que lhe encontrei em direcção a padrões de fundamentalismo que pensei que o Catolicismo estaria paulatinamente a abandonar, desde as missas de costas voltadas para os fiéis, passando pelo facto de me ter chamado terrorista aquando dos debates sobre o referendo à IVG, com os escândalos da pedofilia dos padres de permeio e acabando no canto gregoriano. Não que eu tenha alguma coisa contra o canto gregoriano, ou sequer o Latim, mas pareceu-me sempre estranho que o chefe da ICAR se empenhasse em transformar as celebrações de fé em algo em que os crentes permanecessem alheados, como que meros espectadores do evento, em lugar de envolvidos e participativos no mesmo. E, no entanto, em alguns momentos, Bento XVI conseguiu surpreender-me profundamente, eu que sempre fui tão renitente em apreciar-lhe qualquer qualidade. Como agora. Ser chefe máximo da ICAR é ter um tremendo poder nas mãos; será talvez também um fardo impensável. Mas os grandes homens, mais do que saberem persistir, devem saber quando chega a hora de saírem de cena. E agradeço especialmente não necessitar voltar a assistir a uma agonia televisionada, como a de João Paulo II.
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