2025-08-16

Paranóia

A paranóia é quando a cadeira te observa de volta.

E há um zumbido, sempre um zumbido, que começa pequeno, como se o silêncio estivesse engasgado, mas instala-se logo atrás dos olhos.

É o frigorífico que pisca; o vizinho que tosse duas vezes às 3h14; são os passos que sabem o nosso nome, mesmo quando ninguém nos chamou.

É o mundo que te olha de lado, a rua que te olha de lado, o poste que finge que não viu.

E atravessas com a sensação de que alguém tomou nota da forma como pisas no chão, ou que há uma câmera de filmar no espelho.

Segues com os olhos nas costas, os ouvidos nas paredes e a alma na ponta dos dedos, tateando o invisível.

Lembras-te de quando era só medo. Agora é mais — é o sistema.

A paranóia é uma fé torta.



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