2007-12-07

À minha avó


Desafio Uma Imagem... Mil Emoções



No espaço dessa mão estão as minhas rotas silenciosas; está esta crença que tenho em mim de que repetirei os teus passos de forma nova, mas ainda assim com os mesmos caminhos. Está a evidência genética do que sou, esta coisa em que me transformo enquanto as minhas rugas, ainda tão diferentes das tuas rugas, se vão construindo em desenhos semelhantes.

E está em ti hoje toda a minha noção de eternidade, avó: uma eternidade que cabe na palma da tua mão enrugada; que está nessa essência que sou sendo parte de ti, parte da mãe que pariste e que me pariu a mim; nas pernas que herdei orgulhosa; no formato do corpo, no tom de voz, na falta de mariquices…

Chegasse eu a ter essa mão feita pano enrugado, cinzelada a linhas de história e de crescimento, sei que seria muito parecida com o que és hoje: pequenina, frágil, com medo da morte que é cada vez mais como a vizinha que te pisca o olho todos os dias. Chegasse eu a essa idade, ia querer ter essas mãos sulcadas pelo destino. Chegasse eu à tua idade, queria ter uma palma da mão onde coubesse ainda a família, num retrato desbotado pelo tempo, quando o tempo ainda era medido em mais do que instantes.

É que sei que herdei nos genes isto que me faz tão parecida contigo, mesmo sendo tão diferente. É que sei que a eternidade se mede não num qualquer paraíso que tantos julgam intuir como verdade, mas sim na memória que os outros não querem perder de nós. E uma mão assim sulcada é uma mão eterna: já acariciou e foi acariciada por tanta gente que, ao ser tão amada, será eterna enquanto permanece indelével na memória daqueles que seguraste nas tuas mãos, contra o teu peito, no teu carinho.





(desta vez, respondo ao desafio sem ser desafiada; e amuada por te teres esquecido de mim. Grunft!)

15 comentários:

deep disse...

Que sorte tem a tua avó por ter uma neta assim, que lhe escreve com alma e coração; que sorte tu tens por teres conhecido, pelo menos, uma das tuas avós. As minhas conheci-as apenas pelas memórias de quem as conheceu.

Fica bem, Bom fim-de-semana. :)

Toze disse...

Não fiques amuada , não foi esquecimento ! Lancei o Desafio e deixei-o lá ficar, tinha curiosidade em quem iria responder, ainda bem que lá chegaste :)))

Toma um beijo
Toze

Toze disse...

Ahhhhhhhhh... assim pode ser que os teus leitores, te sigam até lá... ao Desafio :))))))))))))

Hipatia disse...

Tive a sorte de conhecer os dois avôs e as duas avós e ainda um bisavô e uma bisavó. Hoje, sobra-me apenas esta, a que casou mais cedo (aos 16 anos) e que é ainda a matriarca da família, à volta de quem tudo gira. É! Sou sortuda :)

Beijinhos, Deep

Hipatia disse...

Já devias saber que eu chego sempre aos teus desafios, moço.

Agora, se estás à espera que daqui sigam muitas leituras lá para o teu barraco, isso é que está pior: as minhas rotas andam a ficar todas silenciosas e às vezes temo que a blogosfera esteja a ficar um reduto de tudo e mais alguma coisa, excepto o prazer desinteressado de andar por cá por pura carolice.

Toze disse...

Chegaste à conclusão , onde eu já tinha chegado à muito Hipatia.

Mas que foi engraçado nos inicios, isso foi :))))))))))

Hipatia disse...

Já não é de agora. Na verdade, penso que é uma coisa que, gradualmente, se tem tornado mais evidente no último ano e, neste momento, com tanta gente silenciosa, mais ainda.

Mas, sabes, estou na fase do "eu resisto". E é apenas isso: sempre escrevi essencialmente para mim e os leitores e amigos foram o brinde que nunca mereci. E vou ficando, mesmo que já por várias vezes tenha pensado se vale a pena manter os comentários abertos.

Uma coisa sei: se deixarmos de escrever os nosso blogues por carolince, então todos os que chegaram à blogosfera por interesse vão ganhar. E perde-se mais uma vez liberdade, quando as vozes realmente alternativas se calam e se cansam. Será que vale mesmo a pena desistir para ver apenas alguns a ficarem, mais uma vez, com a parte de leão?

Esta Voz já entrou no quarto ano de vida. É, como sempre foi, um blogue anónimo, perdido. Já chegou a ter posts com centenas de comentários; já teve posts com dezenas; ultimamente quase ninguém comenta. O número de visitas diário é exponencialmente inverso ao número de comentários que me deixam. Antes, era exactamente o inverso. Para muitos, há muito que não sou uma desconhecida; para muitos outros, continuo a ser um blogue que não interessa reconhecer como existente, mesmo quando me entram página dentro a fazer de conta que não vêm. E, neste momento, pouco importa: comecei desconhecida e sem comentários, acabarei provavelmente da mesma forma. Mas não desisto de um espaço onde dizer, se achar que devo dizer: uma opinião que vale tanto como as outras, ou se calhar mais ainda, porque sem compromissos com as agendas de quem tomou de assalto este espaço e vai exaurindo a vontade de tanta gente ficar.

Eu fico. Por agora. Mas, ainda sim, fico. Com ou sem leituras. Com ou sem comentários. Fico por mim e pela tanta de história minha que aqui está. Posso não publicar tanto e até deixar passar muitos dias sem palavras. Posso também eu já não comentar em lado nenhum: mas leio e fico.

E respondo aos teus desafios, claro :)))

Toze disse...

E como gostei de te ler agora Hipatia. Roubaste-me as palavras sem saberes :)

"Eu fico. Por agora. Mas, ainda sim, fico. Com ou sem leituras. Com ou sem comentários."

Eu também fico, vou ficando...

Um Abraço apertado

Hipatia disse...

Será que não somos apenas teimosos? Sei lá!... É que, apesar de tudo, vai moendo :(

Toma beijo

I. disse...

Olé. Aqui a super-cusca esteve a ler esta troca de comentários (tchh, não há vergonha) e deu-me cá na ideia meter o bedelho. Nada a fazer: a velhota que vive dentro de mim não resiste.

Isto também me parece, cada vez mais, um reduto dos bem-pensantes. E estes acham que os outros, os que têm o bloguito-diário, o bloguito-da-minha-opinião, são (somos) uns tristes. Já reparaste na sobranceria com que tantos bloggers bem-pensantes falam da blogosfera? Como se eles fossem uma classe à parte...

E sabes que mais? Quero lá saber. Eu até leio e gosto de ler alguns desses bem-pensantes, não me podia importar menos se eles me consideram um insectito, bom para audiência mas insignificante para opinar. Eles também não sabem o que eu penso deles... e sou eu e os muitos que por aí andam que formam as opiniões, lhes compram os livros e os jornais: é que aui é de borla, vai-se lendo, quando é a pagar, é o pagavas, pelo menos para mim, que tenho melhor onde gastar o dinheiro do que em livrinhos decalcados de blogues feitos pró status.

Eu cá ando, com poucos leitores, pouquíssimos comentários, mas porque me apetece. É a melhor razão, para mim. Dá-me gozo, é um entretém, faz-me pensar em coisas, enfim, diverte-me. E gosto de andar por aí à cata do anónimo: descobrir blogues de gente normal, ler-lhes as opiniões e os sentimentos. É um meio bestial para conhecer e apalpar (salvo seja!) o que o cidadão comum pensa. Mim gota.

E pronto: que se lixem os que buscam a auto-promoção, os onanistas em grupo, os pseudo-intelectuais que coleccionam fãs e almejam publicar o livrito do blogue, os opinion-makers da treta, os whatever. Leio-os, mas não lhes reconheço a superioridade moral para largar larachas sobre o petit-blogger, que também sou eu.

E cá andamos. E que nos dê gozo, é o que desejo.

Hipatia disse...

Tu mete o bedelho quando e quanto quiseres, mulher!

E depois a ver se te respondo como mereces, que o jantar onde era para não ir, afinal está no ir que os senhores resolveram assumir os custos :D

I. disse...

Ah, ganharam juízo, os senhores? Se calhar pouca gente ia, de outra forma :P

Por acaso acho que é um bonito gesto oferecer um jantar ou almoço ao pissoal. Não é por isso que vão abrir falência, e a quem trabalha sabe bem ;)

(aqui vamos fazer um lanchinho de cada um traz o que trouxer, ou então vamos a um almocinho. o mê cachopo vai mesmo largar 30 e tal broas por um jantar. safou-se a um, ao outro tem que ir. contrariado, mas vai :D)

Hipatia disse...

Acho que tiveram medo de ter que fazer a festa sozinhos por falta de comparência :D

E não abrem de certeza falência. Tinham até para muito mais, se quisessem. Mas obviamente que não querem, que os patrões de agora sabem exigir, mas nunca dar mais do que dores de cabeça.

(por acaso o vinho provocou-me algum mal estar, mas não garanto que não tenha sido antes dos dois irlandeses que tomei para fazer a digestão da merdice que deram de comer, lol).

E olha que trinta aéreos e sem conseguir escapar? Eu escapava: mesmo que não o fizesse de forma ranhosa, haveria de se arranjar nem que fosse uma caganeira :)))

Claire-Françoise Fressynet disse...

Há os que tentam fugir aos seus próprios genes afirmando-os ainda mais.
Digam o que quiserem que cá para mim isto dos blogues é 1 excelente ferramenta suporte ou coisa do género. quanto ao teu blog Hip sinto-me com muita sorte

Hipatia disse...

E eu espero que te sintas em casa por cá, Claire. É que ter os teus comentários é um privilégio :)) Há é quem se esqueça que damos muito pouco, comparando com o tanto que os outros, desperdiçando um tantinho de tempo com as nossas bacoradas, nos dão em troca em cada comentário que nos deixam.