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Há muitos anos atrás, quando comecei a aceder à Internet, fazia-o essencialmente para pesquisa. Só bem depois, já estando a trabalhar, contratei um serviço lentíssimo - pelo telefone, obviamente, que no sítio onde vivia as mariquices da banda larga teimaram a chegar - que me custava os olhos da cara. Mas a partir daí a minha ligação à Internet passou a ser também lúdica. Cirandei por vários espaços sem me prender em nenhum, até encontrar um pequeno fórum onde todos pareciam conhecer-se. Como nunca fui pessoa envergonhada, arranjei um nick e tratei de mandar uns bitaites. Não foi preciso muito e já estava a ser insultada, com direito a e-mails e tudo. Obviamente que dei de frosques, ingénua como só se foi realmente ingénuo durante muito pouco tempo neste meio.
Passados uns tempos, por curiosidade ou rebeldia ou pêlo na venta ou fosse o que fosse, arranjei outro nick e voltei ao mesmo fórum. O nick novo era a combinação das três letras do meu nome (como depois passou a ser habitual nos blogues) e dava-me uma trabalheira enorme manter convenientemente unissexo, para evitar insultos gratuitos à minha condição de mulher, como tinha acontecido antes.
Foi já com esse nick que recebi um e-mail muito simpático de uma outra frequentadora do fórum, a que respondi agradada. Desde esse dia, ela é minha amiga, mesmo com muita distância pelo meio. De todos os amigos que fiz na net é, sem dúvida, (mesmo que por semanas ou até por dias) a amiga mais antiga.
Através dela, conheci-lhe a família: três filhos incríveis e lindos que vi crescer e um maridão fantástico, que adoro, um doce de homem. E esse homem fabuloso está a morrer. Deram-lhe uma semana de vida e eu só posso descer a sul no Sábado. E eu ando a adiar descer, por mil e um motivos que nem sei bem se eram realmente importantes. E eu hoje só tenho lágrimas e tristeza e muita pena. Além de uma raiva imensa de estar tão longe, de ser tão impotente, de não poder salvar a minha amiga da dor e o seu amor da morte e aqueles meninos lindos que eu vi crescer de perderem um pai.
Por isso, não estou cá, nem vou responder aos comentários ou ler seja o que for. Perdoem, mas hoje só vim para o desabafo. Aqui, como sempre, consigo gritar. Não resolve nada, mas alivia.