Cavaco Silva está podre de velho. Alegre também. Mas Alegre perdeu e os outros não sei se tinham realmente importância, mas de novos nada têm. E ao deparar-me com o discurso poucochinho do presidente minguado, tirei o som à televisão e fiquei a olhar-lhe para a cara franzida de amarguras e fel e a pensar que era velho, velho, caduco em tanta coisa, cavernoso nos ângulos da cara que sempre teve mas que agora se aguçam, já que a velhice não lhe adoçou nem o feitio, nem os humores, muito menos a canície latente que talvez traga nos ossos desde novo, desde o carro a fazer rodagem, desde antes disso, nas finanças a pôr a coisa a jeito para o FMI ou na Universidade a ser velho, mais velho do que qualquer trapo, para os alunos que por certo bocejavam a ouvir-lhe a oratória do jeitinho ou da doutrina também ela velha. E é um espelho de uma certa classe que as pessoas já não suportam, pelo menos aquelas que querem só um amanhã novo, sem o ranço e o bolor destes políticos que não morrem nem saem de cima. Velhos, alheados do povo que somos mesmo quando falam dos pobrezinhos, agarrados ao que são e sempre foram e aos laços que coseram de mil traços de interesses e conveniências. E o povinho, mesmo o pobrezinho, já nem lá vai, não lhes vê valia, a estes velhos demasiado velhos de um País que nunca soube livrar-se de todos os velhos do Restelo, mesmo quando os enfiam em Belém. Talvez tenha sido a última vez e, daqui a cinco anos, talvez apareça alguém que pense de forma nova e não tenho aquele ar de caverna bafienta. Ou talvez este esteja velho, muito velho, tão velho que ainda morra pelo caminho. Ele e todos como ele, os que agora estavam com ele, alegres, nobres, coelhos, defensores e xiquinhos. Tudo podre. Tudo velho. E o Portugal que há-de ser – e já é agora – olha para esta velharia toda e vai antes gozar o domingo para outro lado, não sei bem se em protesto, mas certamente em fastio dos gajos à moda antiga, com campanhas à moda antiga, as passeatas como antigamente e os discursos onde apenas sobram teias de aranha e maledicência e déjà vu remoto e alheado.
8 comentários:
Uma delícia, ler isto.
Estou rendido.
E no entanto é tão triste :(
obrigada!
(essa foto da caixa de comentários está catita, eheheh)
(ao menos esta sei mudar...)
(e mudas; eu continuo verde e de pantufas, que até para isso me falta vontade)
Muito bem dito, verdadinha, e muito triste. Me mate anda com uma indigestão com o fulano, talvez porque lhe ouviu pedaços do discurso de vitória (asco, do que me contou). Eu ando a entoar o mantra "só mais cinco anos".
Juro que ando desconsolada, não vejo gente de valor a chegar-se à frente, ou são velhos ou são jotas wannabes, até o Sócrates é um jota, nascido e criado na política, que nunca teve um emprego a sério, nunca viveu no mundo dos demais. Até quando, ó rais parta?
Um asco mesmo. Nunca vi tal coisa. Pobre e a mostrar o que sempre foi, a falta de chá, a vingança pequenina engatilhada, o umbiguismo sem rasgo, a incapacidade de conviver com quem não pensa igual a ele, o assumir de ódios e inimigos em vez se meros adversários. E talvez esteja tão velho que morra mesmo pelo caminho. Pum!
Não gostas mesmo do velho :))) e para que não penses que não entendo o sentido da velhice que apontas, entendi. Mas não gostas do velho, prontes :)))
Dos velhos, Espumante. Era a convenção geriátrica, de corpo e mente e forma de fazer política, tomando a polis para seu interesse e nunca pelo interesse da polis. E ganhou a fava. Ou saiu-nos a fava. Não gosto deste velho, não. Mas sei que tu gostas. "Clubismos" à parte, que raio de discurso foi aquele? Conseguiste gostar daquilo, identificar-te com o discurso do velho azedo, ressabiado, vingativo, que até "os dele" ostraciza, tirando se fizeram negócios em tempos ou lhes pediu para ir tomar um cafezinho numa avenida qualquer ou levam à borla a cantar o faduncho a todo o lado. E a Micas, sempre a querer pôr-se à frente dele que, coitadinha, só ganha uns quebrados mas não vale perguntar onde andam os descontos do resto, se os fez sequer, ou nunca se saberá, que deve estar tudo na gaveta da escritura. E a verdade é que nunca foi nem soube ser o presidente de todos os portugueses. Agora menos que nunca. Agora vai começar o bailinho da vingança. Pequenino, minguado e velho. Muito velho!
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