Às vezes acho que as causas motivadoras desapareceram e
talvez por isso os partidos e os sindicatos nos pareçam hoje tão anquilosados.
Não basta só reclamar contra a merda dos políticos que nos sobram; é ver que a
causa está na merda em que se foi transformando o sistema que os pariu. E mesmo
que continuemos a acreditar na frase de W. Churchill de que “a democracia é a
pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas”,
também temo que esteja hoje demasiado desacreditada e fragilizada na sua última
encarnação para controlar as forças geradas por um dos mais velhos pecados: a
avareza. E esta última crise tem-nos demonstrado vezes sem conta como um
capitalismo desgovernado nos leva apenas em direcção ao precipício.
Ora, com os políticos que temos, só falta saber qual o
primeiro a dizer que é preciso dar mais um passo em frente. Aliás, no caso
concreto português, temos um homem que está farto de nos sugerir vários passos
em frente e o resultado está à vista. O precipício tem agora mais um número:
10,6% do PIB. Ao leme em direcção ao abismo continua Vítor Gaspar. E podemos
sempre alegar que não é bem um político, que é um técnico, que ainda há tempo e
que no fim do ano as contas vão dar certo. Mas eu acho que Vítor Gaspar
realmente acredita nas suas ideias económicas e que provavelmente nem entende
porque os seus modelos, tão bonitos no papel, nunca batem certo com a
realidade. Como também o acredito um bom técnico. Só que às tantas estávamos era
mesmo a precisar neste momento de um brilhante político na pasta das finanças e
já não sei se acredito que há uma coisa dessas. Para tal era preciso que não
achasse o sistema tão minado, o compadrio entre grupos económicos e forças
políticas tão sem açaimo, a corrupção tão galopante e a falta de uma ideia com
força suficiente para dar a um qualquer político - ainda por nascer e fora do
sistema entrincheirado que são os partidos - a força suficiente para se
libertar das formas velhas e falidas e encontrar a forma nova de uma democracia
regenerada para voltar a pôr ordem no sistema que devia servir o povo e não
fazer do povo seu servo.
Depois e para
complicar o que já parece quase impossível, ainda temos que até as próprias
ideias estão sujeitas hoje em dia às regras da oferta e da procura, do melhor
marketing, da visibilidade mediática. E de cada vez que a o marketing foi assim
aplicado à política, tivemos que lidar com propaganda e esta sempre foi a
melhor das ferramentas de todos os regimes que nada têm a ver com democracia.
Não, o progresso não está garantido. A única coisa que
podemos ter como garantida nos próximos anos é uma crise sem estertor. E talvez
seja só mais um dos tais casos em que é preciso bater no fundo. Mas o fundo não
é bonito e vai doer e não devia ser admissível não termos ainda encontrado os
anticorpos que não nos façam morrer antes das várias tentativas de cura.
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