As eleições chegam como quem promete mudança, mas sempre com o mesmo cheiro a mofo. Caras novas, discursos velhos. Voto como quem joga moeda ar: esperança misturada com descrença. A cidade enfeita-se de santinhos que ninguém pediu, promessas que ninguém vai cobrar. E o pessoal ali, entre a vontade de acreditar e o cansaço de tentar. A democracia vira teatro, com palanque e plateia — e a gente aplaude, por inércia. No fundo, votar ainda é um ato de fé, desses que não se explicam. Porque até pensamos em desistir. Mas não dá. Ainda não. Em Maio lá estou...
2025-04-16
2025-04-12
Fascismo
O fascismo não chega com botas sujas e gritos histéricos — chega de mansinho, de fato novo, palavras doces e promessas fáceis. Vem travestido de ordem, embrulhado na bandeira, sorrindo para a câmera. Alimenta-se do medo, cresce na ignorância, floresce onde o pensamento se cala. É quando chamam à crueldade justiça, à censura moralidade. Quando o “nós” vira arma contra o “eles”. O fascismo mora nos silêncios que fazemos por conveniência, nas piadas que deixamos passar, nos absurdos que viram rotina. Não são precisos tanques ou fuzis: basta o conforto da indiferença. E enquanto muitos acham que tudo está sob controle, o fascismo infiltra-se nos corredores do poder, nos algoritmos, nas escolas, no cansaço de mais um dia de trabalho, na anestesia do quotidiano. E um dia acordamos e já é tarde. E o grito preso na garganta vira eco inútil.
2025-04-10
Chuva
Choveu dentro de mim ontem. As paredes do peito desabaram em silêncio. Fiquei ali, olhando o chão molhado de memórias, os nomes perdidos escorrendo pelas frestas, a saudade pingando, gota a gota, até fazer poça. Tentei secar com palavras, mas elas escorregaram. Fracas, frágeis, feitas de vento. A noite veio sem pressa. Deitei-me com fantasmas que me embalaram a voz. Sonhei com o que não foi. Acordei com ausência na boca. E um gosto amargo de adeus.
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