2009-07-31

Números


aqui

Os números são coisas muito jeitosas. Se bem que, no dia a dia, seja fácil e evidente uma soma de dois mais dois (ou, cada vez mais habitual, um subtracção de quatro), há alturas em que até o mais pragmático dos resultados tende a esconder uma qualquer pirueta. E é com cada pirueta que já nem estranho o número: afinal, isto já é um circo há muito tempo.

E os números são especialmente jeitosos em anos de eleições, quando é preciso mostrar serviço ou convencer do serviço a fazer: dão para tudo e são pragmaticamente adaptados às piruetas que interessam. Tirando isso, não servem realmente para nada, ainda que seja óbvio o jeito que aparentemente dão.

Atolados na crise, nas insuficiências crónicas, nas sinergias perdidas, nas falsas promessas ou nas verdades mentirosas, já nem estranho o jeito que se dá aos números. Como se bastassem agora e fossem claros como cristal, usados como adagas ou, pior ainda, como arma de gatilho rápido ou uma qualquer caçadeira com mira num zepelim.

Depois, dá no que dá o espectáculo: há sempre alguém que também sabe fazer contas e usar os números. Como há sempre alguém que tem memória para os números de há uns anos atrás. E, aí, é o caraças e rais’parta os números: desde as contas feitas com convicção em prime-time desmontadas em vídeo no youtube até aos números do défice e de quem gastou mais ou menos, lá vêm os números e as piruetas.

No entretanto, restam-nos os números que sobram no fim do mês. Costumavam ser para os alfinetes. Agora já ninguém usa disso: é só mais uma pirueta e já está.

2009-07-29

Além


aqui


Penso que é essencialmente pela construção do imaginado que nos tornamos, tanta vez, impenetráveis uns aos outros. Mas não há nada que justifique a ausência de tentar descobrir.

Cambada de porcos, irresponsáveis e criminosos!


Continuo a ver, quase diariamente, pessoas a atirar alegremente a beata do seu cigarro pela janela do carro. Não há campanha de sensibilização que mude esta maneira tacanha de ser? Foge!
Eu gostava de perguntar a esses senhores e senhoras se gostavam que eu lhes atirasse alguma beata para dentro dos seus popós. Acesa! Ah, pois é, não gostavam mesmo nada. E se calhar batiam-me. Ou chamavam-me nomes cabeludos.
Pensem comigo (bem sei que pensar é árdua tarefa para alguns, mas adiante), por algum motivo os carros se começaram a fabricar munidos de um cinzeiro. 'Dasse!
Para começar não se deve atirar seja o que for pela janela do carro. É falta de civismo. Além de poluir o ambiente pode causar algum acidente. No caso dos cigarros (e porque estamos no Verão) acresce o risco de incêndio.
Os vossos paizinhos não vos ensinaram a ter maneiras?! Chiça!

2009-07-28

Intimamente


aqui


E, sim, tens razão: falo de intimidade. Ou talvez seja que, mais tarde ou mais cedo, tudo o que me dá tesão acabe transformado em palavras. Depois há o blogue onde é tão fácil colocá-las, nesta ilusão de que ninguém vê, ou que ninguém percebe. E as palavras vão dizendo o que sinto e o que quero, ou tão só o que gostaria. Acabo a misturar desejo com desejos, vontade com vontades, sonho e realidade. Acabo fragmentada pela excitação encerrada na palavra e quase fica tudo dito, não fizesse a realidade também parte da equação. E, aí, vão-me faltando as palavras, como se olhos nos olhos não tivessem nem arrumo, nem valor. E digo-as aqui, talvez porque saiba que não vens ler, que só cá chegas quando te enganas no caminho. Mas é libertador saber-te, saborear-te, longe das palavras que invento. Afinal, a voz continua a fugir-me. Largo-a para longe, lanço-a ao espaço. Olhos nos olhos, espero antes que me leias, enquanto permaneço muda. Ou falo demais, para nada dizer. Mas é que, contigo ao leme, limito-me a pedir bis. Várias vezes. Depois… bem, depois logo se vê para onde me fogem as palavras.


(repost cá pelas minhas razões)

2009-07-27

(...)

Piada velha (infelizmente!)


aqui

«COMO TRANSFORMAR PORTUGAL NUMA SUPER-POTÊNCIA MUNDIAL EM 12 PASSOS(*):



1º Passo:


Trocamos a Madeira pela Galiza, com a condição dos espanhóis levarem o Alberto João. Os espanhóis vão na onda (a Galiza só lhes dá chatices) e aceitam. Nós ficamos com os galegos (que nos adoram) e com o dinheiro gerado pela Zara (é só a 3ª maior empresa de vestuário). A indústria têxtil portuguesa é revitalizada, enquanto a Espanha fica encurralada entre os Bascos e o Alberto João.



2º Passo:


Desesperados, depois de verem que fizeram um mau negócio, os espanhóis tentam devolver a Madeira (e Alberto João). A malta, obviamente, não aceita. Em verdadeira aflição os espanhóis oferecem também o País Basco. Mas a malta mantém-se firme e não aceita.



3º Passo:


A Catalunha aproveita a confusão para pedir a independência. Cada vez mais desesperados, os espanhóis oferecem-nos a Madeira, o País Basco e a Catalunha. A contrapartida é termos que ficar com o Alberto João e os Etarras. A malta arma-se em difícil, regateia mas acaba por aceitar.



4º Passo:


Damos a independência ao País Basco, com a contrapartida deles ficarem com o Alberto João. A malta da ETA pensa que pode bem com ele e aceita sem hesitar. Sem o Alberto João a Madeira torna-se um paraíso. A Catalunha não causa problemas (no fundo, no fundo, são mansos).



5º Passo:


Afinal a ETA não aguenta com o Alberto João, que entretanto semeia o terror e assume o poder. O País Basco pede insistentemente para se tornar território português. A malta, fingindo grande sacrifício, aceita (apesar de estar lá o Alberto João).



6º Passo:


Proibimos o Carnaval no País Basco, o que leva o Alberto João a emigrar para o Brasil.



7º Passo:


Pouco tempo depois da chegada do Alberto João, o Governo brasileiro pede para voltar a ser território português. A malta aceita e manda o Alberto João retornar à Madeira.



8º Passo:


Com os jogadores brasileiros mais os portugueses (e apesar do Alberto João), Portugal torna-se campeão do mundo de futebol!



9º Passo:


Alberto João enfraquecido pelos festejos do Carnaval na Madeira e Brasil, não aguenta a emoção, e morre na miséria, esquecido por todos.



10º Passo:


Os espanhóis, desmoralizados, e económica e territorialmente enfraquecidos, não oferecem resistência quando mandamos os poucos que restam para as Canárias.



11º Passo:


Unificamos finalmente a Península Ibérica sob a bandeira portuguesa.



12º Passo:


A dimensão extraordinária adquirida por um país que une a Península e o Brasil, torna-nos verdadeiros senhores do Atlântico, de uma costa à outra e de norte a sul. Colocamos portagens no mar, principalmente para os barcos americanos, que são sujeitos a uma pesada sobretaxa por termos de trocar os dólares em euros, constituindo assim um verdadeiro bloqueio naval que os leva à asfixia. Os americanos tentam aterrorizar-nos com o Bin Laden, mas a malta ameaça enviar-lhes o Alberto João (que eles não sabem que já morreu). Perante tal prova de força, os americanos capitulam e nós tornamo-nos na primeira potência mundial...»




(... e ainda há a hipótese "tiro de caçadeira")


_______
(*)recebida há uns tempos por e-mail. Desconheço a autoria, mas colocava aqui o nome do autor de muito bom grado. Alguém sabe?

2009-07-26

hmm...


aqui


O que não falta são homens bonitos. Faltam sim homens que não precisam ser bonitos. Há neles qualquer coisa que nos tira o centro de gravidade...

Olá Sol!


Found at bee mp3 search engine


(no reino da insónia…)

2009-07-24

Ser feliz é...

... ser e fazer aquilo que cada um de nós quiser, onde, quando e como quiser. Desde, claro está, que não prejudique os outros!

E com esta imagem e pensamento vos desejo a todos um bom fim-de-semana!

2009-07-23

Olhem à vossa volta... encontraram a besta?

Já alguma vez, algum de vós se deu ao trabalho de observar os outros à vossa volta? Olhem com atenção, há de tudo.
Vou fazer aquela "comparaçãozinha-cliché": é como se todos os animais da selva e mais alguns nos rodeassem. Há os simpáticos e os antipáticos; os mais confiantes, os menos; os mais confiáveis e aqueles em quem não se pode confiar; há aqueles que são aquilo que se vê, e há os manipuladores, os dissimulados, e aqueles que são tudo menos aquilo que se espera ou pensa; há os sonsos e os insonsos; os previsíveis e os imprevisíveis; há os inteligentes e os que não dão mais que aquilo; os mais distraídos (grupo do qual faço parte), e os espertalhões que têm um olho no burro e outro no cigano (que me perdoem os ciganos, nada tenho contra, só precisei do provérbio); os que andam sempre à caça, esfomeados de assunto mesmo quando não o há; e há os aldrabões e os aldrabados; há os tímidos, e os que gostam de dar nas vistas; há os ingénuos; os autoritários e os assertivos; os bons e aqueles bem mauzinhos...
Bem, a variedade comportamental desta fauna humana é tal que me seria impossível aqui denunciar todos os tipos de pessoas. Claro, o ideal seria sermos todos bonzinhos, simpáticos, inteligentes, atentos (ou seja, nada distraídos), confiantes, confiáveis (atenção que há pessoas confiantes que não são confiáveis, nada de confundir estes apetecíveis termos) e assertivos, só para dar um exemplo.
É incrível como as pessoas que têm determinados comportamentos podem pensar que nós, os outros, nos comportamos da mesma forma que elas. Exemplifiquemos: um aldrabão ou um manipulador são tipos que não confiam that much nos outros e têm algumas vezes receio de estar, eles próprios, a ser aldrabados; ou então aldrabam pessoas que consideram aldrabonas, mesmo que venha a revelar-se que estas não o são. Esquecem-se que, ao contrário deles/as, há quem seja mesmo honesto, há quem não tenha maldade e seja apenas aquilo que se vê. Esse tipo de animal racional está sempre a ver coisas que alimentam a sua auto-estima e fazem-no à conta de atribuir aos outros uma máscara de maldade que eles próprios possuem. Chegam a afirmar-se, bem alto, como sendo espertos/as, dizendo que ninguém os consegue enganar, sem se aperceberem que espertas são as raposas e que se eles fossem mesmo inteligentes (isso sim) saberiam que há sempre alguém que os topa.
Enfim... há tipos, tipas, "tipagens", e meninas insuspeitáveis que afinal não são tão isentas quanto a maioria pensa, pois o seu comportamento só engana alguns broncos. Sendo que muitas vezes os broncos são pessoas com quem elas se dão bem, com quem fofocam, alimentando boatos (muitas vezes de cariz difamatório), e a quem se unem ocasionalmente para mandar as suas boquitas saloias a tudo e todos, a torto e a direito. Isto porque os broncos são-lhes necessários, marionetas nas suas mãos, têm o papel de fãs incondicionais. Assim têm garantido que a coisa nunca dá para o torto (mas só até um dia entortar mesmo), pois ganharam a amizade e apoio destes pobres coitados que os/as põem num pedestal. São do tipo que (me) dá nojo!

Ah! A selva-sociedade... um mundo de seres e tipos de seres... Não há documentário da National Geographic que consiga captar estas subtilezas!

Maravilhas do clima (Julho)


2009-07-21

Coisas que não percebo


aqui

Não sou – acho que nunca fui – uma moralista bota-de-elástico. Admito que sou bastante moralista, até um pouco empertigada no que toca aos meus valores e gosto de acreditar que são valores com uma saudável dose de tolerância para com os valores alheios, ainda que me passe com frequência com o moralismo à base de palas, fundamentado em silogismos e falácias.

É dos meus valores – e apenas deles – que quase sempre abusam os meus textos, sendo que as minhas batalhas, ou os meus ódios de estimação, foram sendo esparramados pelo Voz em Fuga, traulitanto alegremente no dogma católico ou na cassete comunista, passando pelos criacionistas e os homofóbicos, desaguando nos misóginos e nos demais lunáticos em maior ou menor grau. Tem destas coisas a mania de ter opinião, acabando por revelar quase tanto dos nossos enredos como os novelos que nos levam à reacção.

E é nesse sentido que me vejo, tanta vez!, a perigar na vizinhança do ar escandalizado, sem compreender realmente como algumas coisas chegam a certos extremos. A última foi a nova publicidade que a SIBS distribuiu pelas caixas multibanco. Não faço ideia como é que a coisa funciona, ainda que deva meter muito guito à mistura e se calhar estou até a atirar ao alvo errado. Mas, porra!, fazerem publicidade à pílula do dia seguinte? Num dos países europeus com maior disseminação de novos casos de doenças sexualmente transmissíveis, fazer publicidade a um abortozinho instantâneo sem bem antes se lembrarem de publicitar as camisinhas?

Tenham dó! Há coisas que seriam muito mais bem vindas. De preferência, anunciadas numa janelinha onde todos ou quase vão em algum dia da semana.

Cambada de maricas!

Ah, pois são! Basta haver uma ou duas nuvenzitas no céu algarvio que é como se já estivesse o pior tempo do mundo, a água está gelada mesmo que não esteja, e já ninguém põe o cu na praia. Resultado imediato: caos no trânsito. Pior, eu estou no meio do caos ao fim de um dia de trabalho.

Sois cá uma cambada!


2009-07-19

Piãozinho


Terra vista da Lua

«(…) ficámos irremediavelmente perplexos e desorientados sobre a nossa situação no mundo desde que soubemos que nos encontrávamos num piãozinho que gira em pleno céu à roda de uma bola de fogo. E quando compreendemos que o nosso Sol era um astro pigmeu perdido entre milhares de milhões de estrelas, relegado para a periferia de uma galaxiazinha dos subúrbios, perdemos toda a certeza fundamental acerca da nossa situação, do nosso destino, do nosso sentido.»

Edgar Morin, As Grandes Questões do Nosso Tempo


Nasci depois da Laika, depois de Yuri Gagarin, de Kennedy ter prometido que o Homem chegaria à Lua; depois do Projecto Mercuri e do Projecto Gemini; nasci depois da Lua ser finalmente pisada. E tenho para mim que o dia em que o Homem viu a Terra do lado de fora foi o início de uma percepção tão diferente do que somos e como somos, como antes o havia sido a tomada de consciência de que a Terra é redonda, de tal forma que nunca mais nada ia ser igual.

De qualquer forma, a tomada de consciência não foi imediata, nem houve mudanças em catadupa. Mas é impossível continuar a imaginar a Terra sem a confrontar com a sua aparência frágil contra o escuro do Universo e a fraca luminescência das estrelas distantes. Tem-nos servido de pouco, que o Planeta não parou de ser paulatinamente destruído, ao ponto de estarmos hoje na vizinhança de um ponto sem retorno, perigando de forma trágica um ecossistema que, até agora, apenas se provou viável neste ponto perdido.

Não sei é se seriamos hoje capazes de pensar seriamente a ecologia, se antes não tivesse havido alguém que sonhou passar além da atmosfera e viu como era do outro lado: à geração dos nossos pais calhou saber como era a Terra vista por fora; à geração dos nossos filhos cabe herdar esta Terra transformada e talvez salvá-la de nós mesmos.

Mais uma vez, sinto-me parte da geração de intervalo, uma que terá muito pouco a legar à história, tirando talvez os telemóveis e a quantidade de sucata que hoje roda connosco, lá na estratosfera e além dela, poluindo também o que fica para além de nós. Mas pelo menos agora sabemos que é frágil. Como é frágil! Um pequeno oásis de vida.

2009-07-17

Armar a giga


aqui

De cestinho cheio e pronta a deixar-lhes ficar lá uns quebrados, dirigi-me à fila das caixas do supermercado, tendo o cuidado de começar numa das pontas. Ok, a primeira é para grávidas e restantes diminuídos físicos; a segunda está fechada, a terceira fechada e outra fechada e mais outra fechada com miúda a contar moedas e a amiga a contar-lhe as coscuvilhices do dia; fechada, fechada, fechada, aberta para até dez unidades, fechada, fechada, fechada, aberta só para funcionários. O cestinho pesa, a falta de paciência vai crescendo, pelo canto do olho vejo duas marmanjas à conversa com ar de que está demasiado calor para trabalharem. Vou fumegando: é fim de tarde de uma sexta-feira no fim de uma semana do demo e estou a pé (e de saltos, porra!) desde as sete da matina. Nenhum dos funcionários parece interessado em prestar atenção ao bando de gente que se acotovela à espera de vez. De repente, a miúda resolve lembrar "aqui é só até dez unidades" com uma vozinha de falsete. E foi ai que o copo transbordou e minha voz desceu uma oitava: "Então, trate de chamar o seu supervisor e, de caminho, ele que traga o livro de reclamações. É que não estou grávida, tenho mais de dez unidades dentro do cesto e não tenho ar de pançudo com direito a fila própria". Atrás de mim, o maralhal concordou. E foi assim que quem me fez a conta foi um supervisor depois das duas marmanjas tagarelas terem levado uma corrida pública. O letreiro a dizer "só para funcionários" parece que, no entretanto, também desapareceu…