Des divans profonds comme des tombeaux,
Et d'étranges fleurs sur des étagères,
Écloses pour nous sous des cieux plus beaux.
Usant à l'envi leurs chaleurs dernières,
Nos deux coeurs seront deux vastes flambeaux,
Qui réfléchiront leurs doubles lumières
Dans nos deux esprits, ces miroirs jumeaux.
Un soir fait de rose et de bleu mystique,
Nous échangerons un éclair unique,
Comme un long sanglot, tout chargé d'adieux;
Et plus tard un Ange, entr'ouvrant les portes,
Viendra ranimer, fidèle et joyeux,
Les miroirs ternis et les flammes mortes.
C. Baudelaire - La Mort Des Amants (Les Fleurs du Mal)
Que coisa esta que agrilhoa a vida a uma simples mensagem escrita, pesa-nos a eternidade e foge num fogacho de momentos brevíssimos sem retorno. Que coisa esta de estar à espera, construir a espera, agarrar cada segundo e deixar o tempo partir. Deito fora os relógios, as ampulhetas, degredo-me para o sofá, espero. Carrego a grilheta do desejo, quase não vejo. Espero. Que coisa esta!
Que tempo este, o meu, onde o sexo é cada vez mais simples que o amor e é mais fácil abrir o corpo do que a alma. Espero. Adio. Contesto a voluptuosidade do gesto. Marco passo e enrodilho-me no que já não sei. Que tempo este!
Pedes que te reviste pelo fim da tarde, nos tempos cansados dos desencontros dos dias. Prefiro sarar o corpo primeiro e resisto, traçando os passos que me levam ao banho que me falta. Digo-te para vires depois. E talvez te venhas, mas já não comigo, que o jogo do empurra leva o desejo para mais além e fica apenas o amargo na boca do beijo semi-beijado, do corpo semi-tocado, da alma que resiste. Pedes-me e eu peço e não sabemos pedir, ainda assim. Como se o tempo de cada um não soubesse ser o tempo comum e cada segundo fosse história diferente, paralela gigantesca de desencontros.
E fomos jantar depois. Um jantar banal na data que não o é. E a semana e o dia seguinte à porta e o tempo que satura e empanturra a fleuma do cansaço. Gostas de amar corpos cansados, como eu gosto de amar corpos cansados. Mas não podemos permitir a aventura do cansaço a dois. Não hoje. Não neste tempo em que já não sabemos viver, correndo por entre os tantos de quilómetros que nos separam e a vida que nos quer separar e este já não saber como construir a espera, que estamos por demais habituados ao imediato. E o tempo resiste e aparta, como o espaço, e ninguém ainda descobriu a nossa equação do espaço-tempo.
E ficamos presos ao tempo que tentamos deitar fora, enquanto agarramos esse mesmo tempo com bocas e corpos sôfregos. Sobra apenas uma mensagem escrita, perdida, finita, como bandeira luminosa da distância.
Que adianta saber entregar o corpo se a distância se constrói, dia após dia, na alma vagabunda das histórias paralelas?
Que tempo este, o meu, onde o sexo é cada vez mais simples que o amor e é mais fácil abrir o corpo do que a alma. Espero. Adio. Contesto a voluptuosidade do gesto. Marco passo e enrodilho-me no que já não sei. Que tempo este!
Pedes que te reviste pelo fim da tarde, nos tempos cansados dos desencontros dos dias. Prefiro sarar o corpo primeiro e resisto, traçando os passos que me levam ao banho que me falta. Digo-te para vires depois. E talvez te venhas, mas já não comigo, que o jogo do empurra leva o desejo para mais além e fica apenas o amargo na boca do beijo semi-beijado, do corpo semi-tocado, da alma que resiste. Pedes-me e eu peço e não sabemos pedir, ainda assim. Como se o tempo de cada um não soubesse ser o tempo comum e cada segundo fosse história diferente, paralela gigantesca de desencontros.
E fomos jantar depois. Um jantar banal na data que não o é. E a semana e o dia seguinte à porta e o tempo que satura e empanturra a fleuma do cansaço. Gostas de amar corpos cansados, como eu gosto de amar corpos cansados. Mas não podemos permitir a aventura do cansaço a dois. Não hoje. Não neste tempo em que já não sabemos viver, correndo por entre os tantos de quilómetros que nos separam e a vida que nos quer separar e este já não saber como construir a espera, que estamos por demais habituados ao imediato. E o tempo resiste e aparta, como o espaço, e ninguém ainda descobriu a nossa equação do espaço-tempo.
E ficamos presos ao tempo que tentamos deitar fora, enquanto agarramos esse mesmo tempo com bocas e corpos sôfregos. Sobra apenas uma mensagem escrita, perdida, finita, como bandeira luminosa da distância.
Que adianta saber entregar o corpo se a distância se constrói, dia após dia, na alma vagabunda das histórias paralelas?
14 comentários:
"Que adianta saber entregar o corpo se a distância se constrói, dia após dia, na alma vagabunda das histórias paralelas?"
texto lindíssimo, deixa-me dizer!
quanto a esta parte:
"Que tempo este, o meu, onde o sexo é cada vez mais simples que o amor e é mais fácil abrir o corpo do que a alma."
acredito k isso possa acontecer.
acredito k aconteça, realmente, talvez com a maioria das pessoas.
no meu caso, ñ seria possível, por ñ conseguir separar as duas coisas.
:)
Obrigada pelo elogio, SoNosCredita. Quanto ao que afirmas, digo-te que é também o que penso e por isso torna-se tudo tão complicado. Mas não sei esquecer o sentimento, por mais que tente.
Amiga: este é o tempo de aprendizagem do que não queremos para que chegue o tempo que sonhámos... Será? Espero que sim. Um dia estará lá ao nosso lado o corpo cansado de outras paragens que por desatino não chegou antes ao nosso conhecimento.
Espero que chegue o tempo sonhado. No entretanto, presto atenção aos sinais e estes só me dizem como aprendi a descartar o simples, enfeitando tudo de elaborações mais ou menos complexas. Na ânsia de me proteger da vida, descubro-me quase incapaz de viver. E apenas partilho jogos, cada vez mais insatisfatórias, cada vez mais ritual sem conteúdo. E o jogo nunca é apenas meu. Estou a ficar demasiado velha para tanta espera e já nem é tanto o corpo cansado: é a alma que se enrodilha e encarquilha. O pior é que, do outro lado, vejo apenas os mesmos medos.
Não te consigo animar. Apenas subscrever as tuas linhas e sobretudo, o último parágrafo.
Será desadequação da vida ou exigir-lhe demais?
Talvez as duas coisas, não é? Como se a sofreguidão com que tentamos viver não chegasse nunca e a instisfação se acolitasse na sombra à espera. E pode ser qualquer coisa a confrontar-nos. Até pode ser um simples convite para jantar a 14 de Fevereiro :)
Parece que nos vamos tentando proteger fugindo do sonho...
beijo Hipatia - texto bonito
E deixa, a alma logo encontrará o seu "lugar" :)
E, no entanto, gostamos sempre de acreditar que ainda há lugar para uma frase do tipo "o sonho comanda a vida". Mas, raios, está difícil!
Beijo, Sofia
Sobretudo porque não consegues "esquecer o sentimento", consegues transportar para as minúsculas todo esse sentir . Que texto magnífico, mas sobretudo porque ecoa dentro de nós. Porque todos esperamos algo, alguma vez na nossa vida...porque todos nós desejamos alguém que veja o valor ilimitado que somos e atribuímos (merecidamente) a nós mesmos. :)
Quando esse encontro de almas acontecer para ti e o teu corpo ressoar o que ela diz, (não tenho mesmo dúvidas que isso acontecerá para ti, e sabes....sou bruxa ;)) eh pah, cravo-te um bolo!! :p
Beijos para tu, com um trudilu em tchim tchim (é para acompanhar o bolo!)
Lata (mas não me farto ;))
Bruxa? Nunca dei por nada :)))
E claro que haverá o dia para todos nós. O mal é se, de tão destreinados, já nem o soubermos ver, não é?
Obrigada! Beijo
Bem vinda ao clube das que não conseguem separar o sentimento do resto...
Torna tudo mais complicado, mas também torna tudo mais bonito.
O treino nunca se perde, mas podemos é nessa altura achar que já é demasiado tarde e que já não vale a pena fazer mudanças...
Mas se não mudamos, deixamos a vida passar, não é? Nunca vi a mudança como algo mau. Mas acho que, facilmente, nos atolamos numa série de medos que dificultam tudo, até a mudança :)
Os medos devem ser ultrapassados, só devemos ter medo de deixar de viver aquilo que nos apetece viver, só porque temos medo...:)
Só nos devemos arrepender do que deixamos por fazer, tudo o resto, se o fizemos foi de certeza por uma razão válida, mesmo que venha a doer mais tarde, é sempre bom enquanto dura...pelo menos não doi por termos deixado de fazer. :)
Mas nunca é assim tão simples, não é, Cruzeiro? Com o passar do tempo, vamos acumulando demasiado lastro, demasiadas contas, demasiadas responsabilidades, demasiadas histórias, demasiados vícios...
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