2006-12-17

Consoada no Blog

Deixa-me falar do Natal na tua casa? Eu sei que tens a lareira acesa à espera das minhas palavras.
Talvez passe a Consoada aqui no teu blog-casa; eu que tenho os filhos longe e os meus outros amigos passam o ritual afastados de mim, lá nas suas vidas.
Podia falar-te da minha Mãe e dos meus inúmeros irmãos... Queres?
Ahh... e quando a mana, que se portava mesmo mal, não acreditou que levasse carvão dentro da meia pendurada na chaminé: Não é que levou mesmo naquele Natal...
...E todos a falar ao mesmo tempo, risadas com sabor a cacau quente?

Mas o Natal mais duro que vivi foi aquele a seguir à minha separação.
Coloquei um pinheiro verdadeiro no centro do meu ateliê. Uma semana antes, eu e eles, os meus filhos, decorámos a arvore. A miúda, mais pequenina, lá conseguiu colocar a estrela no topo, empinada num banquinho de madeira.
Lembro-me que não sabia cozinhar e que liguei à minha sogra a perguntar como se fazia “bacalhau à Braz”. Foi rapidamente baptizado, pela minha filha, como “Bacalhau Meleca”, tornando-se muito popular nos Dezembros que se sucederam.
O presépio foi feito por nós, em barro, peças originais. O São José mais parecia o Gandaf do “senhor dos anéis”, coisas do meu filho.... Mas era o nosso presépio.
Abrimos prendas no meio das telas. Dissipámos os doces numa pressa comemorativa, mas havia um travo triste no ar.
Serei eu capaz de reinventar o Natal dentro de mim?

10 comentários:

Hipatia disse...

Claro que és! Natal celebra o nascimento. Só tens que te deixar (re)nascer um bocadinho. Às tantas para aceitares um qualquer convite que te afaste, nessa noite, das palavras apenas :)

Anónimo disse...

Também me parece que és. Basta que um bocadinho da criatividade que passas para as telas a passes para a tua vida. :) O que quero dizer é que em vez de se pensar no que foram os Natais passados e o que se perdeu mais vale concentrarmo-nos no que ainda queremos da nossa vida. :)
O futuro só pode ser melhor e ai dele que o não seja! ;)

(primeiro arrepiei-me a ler o texto porque por experiência vivida já senti exactamente o mesmo que tu mas felizmente há sempre gente para partilharmos as nossas esperanças se não a deixarmos morrer dentro de nós ;)

Anónimo disse...

eu ñ tenho grande espírito natalício, já o tive mas ñ penso recuperá-lo. sinto-me bem assim. no entanto, no caso deste texto... creio q ñ é bem o natal q se quer reinventar pq quem tem espírito, tem-no spr, nop, o problema é outro, é outra a ausência!

Elipse disse...

a gente não reinventa nada, Gaivina. andamos a fingir que está tudo bem mas a porra da tristeza pesa que nem uma puta velha com a maquilhagem esborratada.
parece que as vidas das pessoas são todas iguais, embora em certos dias nos sintamos os mais desgraçados do mundo. não, não é uma questão de egoísmo; é que cada um de nós merece mais um pouco, mais um pouco, ao menos!
este texto doeu-me. não pela tua dor mas pela minha.

Não te posso dizer mais do que isto e isto é tristeza. Raio de quadra que cada vez se repete com mais frequência!

Hipatia disse...

Às vezes esqueço como tenho sorte...

Querida Elipse, toma um beijo cheio de saudades!

Elipse disse...

não te preocupes, Hipatia... são apenas desabafos, também.
Aliás quando uma pessoa vai avançando na idade vai sentindo as memórias mais próximas... e não sei se alguém consegue desligar-se do passado nestas alturas. O texto do Gaivina aproximou-me delas!
No Palavras em Linha estou a tentar não falar em Natal. É de propósito.
Ando ainda a pairar depois de ter vindo da Islândia (trabalho!!!), ou antes, depois de ter vindo de outro mundo. Estou a atravessar bem a quadra, estas coisas ajudam, apesar da viagem ter sido um relâmpago... mas o contacto com gente do outro lado da Europa enriquece e faz-nos sair desta pequenez.

Anónimo disse...

Também me lembro de um Natal assim...mau,mau,mau.
Os meus pais não me deixaram lá ir a casa porque se ele te não batia não sei porque te separaste.
O melhor é esquecer.
Beijinhos.

Hipatia disse...

Quando digo que tenho sorte, tem muito a ver com quem me rodeia. Eu tenho uma família grande e unida, sempre pronta a estar presente, muitas vezes a meter demais o bedelho. Mas é muito bom que seja assim, que nem os meus lutos alguma vez puseram de lado a vontade que sinto sempre de me preencher dos cheiros do Natal, dos cheiros da minha família. Obviamente, uns anos são mais tristes que outros. Mas o tempo e a nossa memória selectiva ajudam cada vez mais, conforme os Natais nos aproximam e afastam.

Beijo

Hipatia disse...

Sabes, Marta, sempre me fez muita espécie essa ideia de casamento como um pacto tipo prisão perpétua de onde ninguém sai vivo. E, no entanto, a ideia tradicional de família fundamentava-se assim, mesmo que sobre as misérias de uns quantos. Ninguém merece, nem deve, viver condenado à infelicidade. E a infelicidade faz-se de bem mais do que enxertos de porrada.

Não esqueças. Arquiva na memória para saberes sempre que houve uma altura em que quiseste mais.

Beijinho

Hipatia disse...

E tu, amigo, desabafa o que quiseres. Antes dizer o que nos sufoca, do que ter um grito permanentemente amordaçado.