2006-12-19

Tão longe!


aqui


Tenho andado para aqui a queixar-me, muito ou pouco, não importa agora. Mas a queixar-me, ainda assim. Há também um ar de desmaio em quase tudo o que escrevo e, quando sinto assim as palavras queixosas, melancólicas e abatidas, tendo a encolhê-las, desarmando a exposição prolongada ao seu feitiço.

É que estas coisas das palavras apenas, especialmente por esta altura, deixam-me um travo tristonho nos sorrisos. Como sempre, sinto tudo demasiado pouco, sôfrega que sou de pedir o sol para ver se me calha a lua. Não queria só palavras. Queria quem as diz e as escreve. Queria o calor dos abraços apertados e beijos doces que reservo para uns quantos. E queria que o Porto não me parecesse, por estas alturas, tão longe de sítio nenhum, tão longe dos meus sítios, que são, essencialmente, os meus afectos.

É que eu acredito mesmo que nenhum de nós é uma ilha e, hoje, sinto como se eu fosse só o farol perdido na extremidade mais distante da ilha mais longínqua do arquipélago mais remoto. Tão longe, mas tão longe, que nem cá chega o cheiro das rabanadas, ou o brilho de qualquer estrela pespegada no topo de uma árvore de Natal enfeitada com carinho. E queixo-me, queixo-me… Ou, então, fico-me pelos meus silêncios, para os quais já nem a falta de tempo serve de desculpa.

Queria tanto que todos vós – aqueles cujas palavras já têm sorriso e olhar; ou aqueles de quem as palavras não vejo a hora de enfeitar de sorrisos e olhares – estivessem aqui ao lado, talvez ali na Maia, ou até mesmo já lá mais ao fundo em Espinho…

Os postais – que ainda não mandei – não me chegam. E a culpa de ainda não ter enviado nenhum, quando o IncrediMail anuncia mais outro a chegar, ainda me deixa mais de rastos: já sei que vou acabar a mandar palavras vãs, escritas à pressa. E sei bem como as vou sentir sem calor. É que eu não queria só palavras e postais este ano. Eu queria-vos. A todos! Alinhados para um abraço, desalinhados para os sorrisos, tresmalhados aqui bem perto. Porque raios morais todos tão longe? Porque raios não vos consigo teletransportar até ao meu abraço?

E até sei bem que sou uma ingrata que, como sempre, protesto de barriga farta, cheia que está do vosso carinho que vai chegando todos os dias. Mas eu nunca soube pedir pouco à vida. Nem às palavras. E é por isso que me queixo. E é por isso que teimo em calar-me. É que as minhas palavras estão pobres demais, estão em maior crise que o País ou a minha carteira no após compras de Natal.

Mas – aqui tão longe – espero que saibam que são a arma que me resta para vos sentir perto. E é por isso que ando para aqui aos trancos e barrancos à cata de palavras que façam sentido (e sentimento) para vos desejar Feliz Natal e significar mais do que a expressão vazia.

Os postais ainda hão-de partir…

7 comentários:

Anónimo disse...

até podia deixar aqui um comentário género:
-deixa lá que estão longe mas no coração,importa é o que sentimos, o que conta é a intenção e outras merdas que tais.Mas não.
Prefiro dizer-te que a distancia é uma arma de dois gumes, e que nunca mais inventam uma forma rápida de nos juntarmos numa bolha para rir e chorar de mãos dadas tipo palermas.

E a propósito, ainda estou á espera da porcaria do postal!!

Hipatia disse...

Rápida e económica, Jaquelina Pandemónio. Que a gasolina está pela hora da morte, as portagens nem se fala... e Lisboa parece-me sempre demasiado longe. O Algarve, então... E se penso no resto do mundo, ainda me dá aqui uma crise de choro :(

Lisa disse...

Abracinho Virtual! A-bra-ci-nho! A-bra-ci-nho!
Lol, aqui eu a brincar com coisas sérias, mas entendo-te bem. Caraças, eu também me queixo que me farto, refilo, amuo, e afinal até tenho barriga cheia. Mania de quem tem sempre como alvo o tudo, mesmo sabendo que o pouco que calha já é muito.
E abracinho, mesmo que virtual :)

Hipatia disse...

AbracinhoS, Lisa :) É que não resisto em ser exagerada ;-)

E toma lá um beijo de Boas Festas (mas pequenino) que ainda não me habituei a ver a rota do 28 parada.

Anónimo disse...

Tease this... :p

Teletransporte de abraços...caraças, o teletransporte era mesmo uma boa, para se dinimuir as distâncias...Já para diminuir as alturas... Bom, não me digas (que eu já pensei) que as orelhas do Dr. Spock, davam jeito...quer dizer...para o efeito....(mas...isto dos tamanhos nem importa, não é? ... cof cof... :P)
(na volta gastava mais em cotonetes... lol)

Um bom Natal para tu, quentinho, dos afectos, da barriga aquecida...ui ui... com comidinha! (agora decide tu o que te aquece a pança...eu nem tenho lata para imaginar tanto..cof cof...Lol)

Tudo de bom! (meu postal já chegou!) Ho Ho Ho! ;)

(subindo pra cima de uma cadeira e...) Beijo nessa bochecha! :p

Hipatia disse...

Lata, gaja... Estou com saudades! E, sim, melhor nem imaginares o que tanto quero... Sabes bem como sou exagerada :D

Feliz Natal, menina. Cheio só de coisas boas. As más, mete-as num saco do lixo, aperta bem e põe já à porta para se irem embora com este 2006.

Sem querer parecer um gajo qualquer de um anúncio, a ti digo apenas "até já". Mesmo que demorem uns mesitos até à próxima :)

Anónimo disse...

Mais Vozes

hum.......... q cheirinho a sentimentalismo natalício!
fábula | Homepage | 12.20.06 - 4:47 pm | #

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É mesmo, Fábula. Demasidados afectos distantes dão nisto...
Hipatia | Homepage | 12.20.06 - 6:42 pm | #