2009-08-11

Preto

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«Acreditem: nós vamos ter um deputado que no exacto dia em que tinha de se apresentar na Polícia Judiciária para um teste de caligrafia foi ter com um cunhado que é médico no Hospital de Santa Marta, no serviço de cirurgia vascular (!), para engessar um braço por completo, do ombro até ao pulso. A Ordem dos Médicos considerou que colocar o gesso foi "má prática clínica". Não consigo encontrar um adjectivo para classificar a prática do deputado. Mas consigo classificar a prática da lista do PSD: uma vergonha.»

Ricardo Costa - Uma lista de braço ao peito


Encaminhada por um amigo, cheguei ao artigo de opinião de Ricardo Costa no Expresso. Já farta das tricas da pré-campanha e pensando apenas nas férias que estão quase a chegar, não esperava nada de maior: outro sarranho num qualquer político português – quase todos eles nódoas por direito próprio e adquirido na convivência com o pilim da praça –, já não me consegue surpreender. Ou pensava que não: é que o desengano com a classe política vai sendo grande e há muito que duvido da sua honradez e vontade de servir a causa pública. Mas isto passa todos os limites. Um braço partido para escapar a uma perícia na Judiciária? Um médico como cúmplice? Se a mala do dinheiro já vai sendo comum ao pequeno pulha que habita a política à moda da casa, a fuga consciente à polícia por meio fraudulento é do grande crápula. Depois de tanto rasgão e anúncio de política de verdade e afins, Manuela Ferreira Leite arranjou a verdadeira mancha negra. É que é preta. Bem preta!

8 comentários:

Bartolomeu disse...

A próxima campanha eleitoral, adivinha-se "jeitosa".
Adivinha, adivinha!
E esta merda está toda de pantanas, não ha orçamento, não ha produção interna, não ha investimento, já não sei até se ainda ha país... se houver é porque os espanhois ainda não decidiram quanto é que vão pedir para ficar a tomar conta disto.
Mas, mesmo no caos emque a economia, a educação, as finanças, a justiça, em suma, o Estado se encontram, ainda assistimos a um porradão de "caráças" a atropelarem-se à má-fila para conseguir chegar ao poleiro.
Ou eu estou com uma monumental e permanente moka nestes kornos, ou então os gajos são kamicase, ou ou então taliban daqueles que se armadilham e... badungas!!!
Mas se estão a pensar nas mil e não sei quantas virgens... fodem-se, bem podem começar a esgalhar o pessegueiro... é que as virgens já foram, agora já têm o buraco maior que o do orçamento.

Bartolomeu disse...

Quando o gajo colocou o gesso no braço, passou a ser conhecido pelo «preto no branco»

Hipatia disse...

A campanha já está aí e há muito tempo, Bartolomeu. Se não damos mais por ela, é que mesmo quando mudam a fotografia e a cor da merda nos outdoors de frases estapafúrdias e populistas, a verdade é que o cheiro é sempre o mesmo. Depois, que houvesse conivência dos media, dos construtores civis e dos habituais da política do tacho, já ninguém estranharia. Esperava-se porém que não chegasse à fraude evidente para evitar prestar contas à justiça, a lembrar um qualquer pelintra que arranja a desculpa certa para dar o golpe do seguro. É que da corrupção já se sabe, mas um golpe de braço ao peito tem mesmo que estar muito à frente de qualquer golpe de punho no ar.

Esperemos é que alguém ponha branco no branco esta história. Como de costume, espero sentada, mesmo que o julgamento até já esteja agendado. É que, nestas coisas, todos sabemos que o preto é sempre o outro e vão sobrar muitos cinzentos e talvez um qualquer bode expiatório – que nunca o homem da mala, claro – para salvar a honra da lista e perder a vergonha na AR. No entretanto, aposto até que se afirma que a culpa afinal é da manipulação da justiça pelos outros.

(Ups! Parece até que já foi dito, ou insinuado, ressuscitando o Eurojust à falta de algo melhor, que não convém também abrir demais o bico com tanto barão atolado no BPN e quejandos).

E a Manelinha, no entretanto, não achou melhor para desculpar o Preto que dizer que não está acusado de nada no exercício de funções públicas, ainda que eu não perceba muito bem como é que a mala e os votos do PSD Lisboa possam ser só do domínio do privado quando metem uma concelhia política e a política é, por inerência, do domínio da polis e uma fuga descarada ao dever de prestar informações verdadeiras à Judiciária se transforma em anedota manipulada e, aparentemente, a PJ anda é a investigar os braços privados engessados à pressão.

Hipatia disse...

Esqueci isto e, mesmo que não seja necessariamente para ires ler, Bartolomeu, eu quero deixar estas preciosidades junto com o post:

http://www.jornaldenegocios.pt/index.php?template=SHOWNEWS&id=382080

http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1395655&idCanal=12

mfc disse...

O Senhor Preto... é um músico!

Hipatia disse...

Diria que uma orquestra inteira :)

Bartolomeu disse...

A mim parece-me mais um show de David Coperfield, ou de Luís de Matos, pretendendo-se desviar a atenção do público para aquilo que o ilusionistas querem que ele veja e não para o que se está realmente a passar no palco.
E os realizadores do show (os jornalistas) ajudam à festa, compondo a imágem por forma a que o efeito final seja uma monumental miríade compactada num ecrã de 15x15. Deste modo, fica toda a gente bem na fotografia, os jornais, revistas e televisões vão-se vendendo, os partidos vão recebendo o guito para fazer as campanhas, com a promessa aos financiadores da adjudicação de obras, o guito que sobra vai pró bolso, que o diga El-Rei D'Oeiras e a máxima é sempre a mesma: pelo povo, para o povo, com o povo.
E povo vai votando e pagando.
Triste povo este que os gera, alimenta, dá-lhes instrucção, vota neles, elege-os e no fim é enrabado à má fila.

Hipatia disse...

E "o povo é sereno" como sempre. Pergunto-me até que dia.

Mas sabes o que estranho realmente? Com tanto podre tão notório e tão conhecido, o pouco que realmente se sabe dos assuntos, por entre cortinas de fumo variadas. E tanto tens gente que nem suspeita é julgada em praça pública, como arguidos que até se podem provar inocentes já queimados e, depois, tens assim uns manfios de que ninguém fala ou quer falar, convenientemente distantes das tricas mediáticas que continuam, sistematicamente, a escapar por entre os pingos de uma justiça que se arrasta ao sabor de interesses cada vez mais corporativos e cada vez mais manhosos, enquanto os media fazem a festa com insinuações e todos se provam supra-partidários na sem-vergonhice, enquanto não interessa a alguém arranjar um qualquer cordeiro sacrificial.

Depois, vejo coisas como o Mário Crespo a comparar os cornos do Pinho com o braço engessado do Preto e pergunto-me: será que não vê o abuso e o absurdo da comparação? Onde é que Pinho incorreu em crime e em fraude, se nem sequer tentou esconder os corninhos? Como comparar com tamanho à vontade com um braço ao peito para fugir a uma perícia criminal?