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Então Cavaco sempre autorizou? Apesar de tudo, estava a querer acreditar que não e que tudo seria a consequência do zelo de um fuinha manga de alpaca interessado no que pensa que pode agradar ao chefe e armado de um poder maior do que aquele que pode, comprovadamente, ser-lhe atribuído.
Posto isto, digo já que nunca votei Cavaco Silva; nunca gostei de Cavaco Silva; acho que a fauna produzida pelo cavaquismo é profundamente nociva e que o BPN é apenas a ponta da meada; não acho sequer que o cavaquismo tenha sido um período de desenvolvimento conseguido e acho que foi, essencialmente, um desperdício dos tantos de milhões que serviram variadíssimas negociatas ao grande e ao pequeno nível da pulhice.
Mas acho também que a culpa de termos Cavaco Silva na Presidência da República é da esquerda que, nas últimas eleições presidenciais, deu um valente tiro no pé e, como sobra, apanhamos com Cavaco Silva em Belém e agora é aguentar e esperar pela não reeleição nas próximas que, se a memória não se provar mais uma vez curta, será a consequência necessária de um enviesamento perigoso e nocivo do que é a função da Presidência da República e de um cargo que é suposto defender, além do badalado "todos os portugueses", também a dignidade das instituições nacionais e da democracia.
E é por isso que, a ser verdade que o Presidente da República autorizou que fossem feitos dossiers stasistas e lançou, via Público, um tiro ao porta aviões em início de campanha eleitoral que, qual bomba velha, acabou a rebentar-lhe nas fuças semanas depois, então este PR é incompetente até nas artes de Maquiavel e, acima de tudo, demasiado nefasto para tentar sequer armar-se em garante da democracia. Além disso, faltou-lhe inteligência: a seguir a um Público, aparece sempre um DN e, o mais certo, é continuarem nos próximos dias a aparecer mais uns quantos e-mail e, talvez, até uns exemplares dos tais dossiers.
A campanha vai feia e suja. Os chamados "casos" substituíram-se à política e a verdade, quer invocada, quer apenas sempre esquecida, é arma ou defesa vazia de sentido quando apenas importam os podres e jamais o interesse da polis. E o silêncio de Belém (ou comentários estranhos apenas aparentemente inócuos) assusta-me, como me assusta a história de que já mandaram fazer uma varredura – mas sem SIS, também invocado aparentemente sem provas e supostamente sem dossiers – para saber se havia escutas e não se encontrou nenhuma. E dizem agora que o director do Público também há-de ir à vidinha depois das eleições (ainda que a Manelinha tenha ido antes dessas), como se apenas mudando as pedras do xadrez se mostrasse qualquer real alteração e como se não fosse mais do que previsível que, mesmo que sufragados (dificilmente de forma universal), os políticos portugueses, quando mudam e vão à vidinha, não ficassem irremediavelmente substituídos por outros que tais e a merda continuasse a cheirar ao mesmo.
E, depois do dia 27 de Setembro – com Freeport por resolver, com o Preto e a outra de mala (e talvez cuia) na AR, os sobreiros e os contentores, o TGV, o aeroporto e os espanhóis, os grupos económicos e a comunicação social serviçal –, se houve escutas teremos um provável governo à espera de demissão (se o PS ganha as eleições e se provam as escutas, não pode haver nem alternativa nem perdão) e um PR que, caso continue a calar e a consentir e não consiga provar nada, talvez devesse começar a varrer assessores e, caso não resulte, que se varresse a ele próprio para outra freguesia.