2010-04-26

Cumprir Abril

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«A ala esquerda desta Assembleia parece recear a afirmação do sentido de nação, a ala direita parece temer o sentido do uso do cravo vermelho»

Aguiar-Branco, discurso na sessão comemorativa do 25 de Abril de 2010



Talvez Abril só regresse pleno quando os jovens que hoje já nem sabem bem o que foi Abril se transformarem no povo novo, herdeiro dos avós e bisavós que cantaram as portas que Abril abriu e saíram à rua quando foi preciso, depois de muita corda, depois da corda rebentar. Ficará então a minha geração de parêntesis, a geração que teve tudo para ser e não soube ser nada, excepto a geração que transformou os pobrezinhos mas respeitados em endividados sem respeito nenhum.

Aos jovens bem jovens de hoje pertence o amanhã: os cravos já não terão cheiro, as canções revolucionários o mesmo apelo que os hinos fascistas de antanho, os símbolos ficarão escondidos sob pó e teias de aranha, a pátria confundida com outro mito qualquer. Mas, por não lhes ser mais exigido que cumpram Abril, talvez finalmente Abril seja cumprido.

4 comentários:

I. disse...

Também tenho essa esperança, mas gostava que soubessem um pouquinho mais da história que foi e como acabou. Aprende-se muito com a história, a reconhecer sinais, não repetir erros. Que sirvam para alguma coisa.

(a minha sobrinha - 9 anos - sabe o que foi o 25 de abril. conforme for crescendo, mais saberá, que tem quem lhe conte e ensine.)

Anónimo disse...

Perfeitamente de acordo que NUNCA se esqueça Abril, mas penso que os valores essenciais da Revolução já foram há muito cumpridos: Liberdade e Democracia. Progresso e desenvolvimento, cabe-nos já a nós todos, aos nossos filhos e por aí em diante. Deixemos, portanto, Abril para a História.

Hipatia disse...

Mas eu quero mesmo ver chegar o tempo em que não haja discursos a discutir quem tem direito à pátria/nação e quem tem direito ao cravo. E, sim, o cravo não é símbolo da esquerda; é símbolo do 25 de Abril. E é por isso que não gosto de o ver abusado, nem pela esquerda, nem pela direita, muito menos por um fulano que diz que é presidente de todos e que, no entanto, nunca o usou. Talvez para o ano se lembre do cravo. Este ano lá se lembrou do Salgueiro Maia. Ena! Pobre Salgueiro Maia, que tão pouco respeito mereceu quando realmente precisava!

Hipatia disse...

Os desígnios de Abril - e não os desígnios específicos de quem fez aquele Abril e o quis levar mais à esquerda ou mais à direita ou saltar fora da guerra ou fosse o que fosse - foram há muito abusados pela corja que se apoderou do que havia. E é por isso que, todos os anos, os discursos são tão iguais. E é por isso também que, todos os anos, Abril fica por cumprir pela geração parêntesis, que é a nossa.