«A ala esquerda desta Assembleia parece recear a afirmação do sentido de nação, a ala direita parece temer o sentido do uso do cravo vermelho»
Aguiar-Branco, discurso na sessão comemorativa do 25 de Abril de 2010
Talvez Abril só regresse pleno quando os jovens que hoje já nem sabem bem o que foi Abril se transformarem no povo novo, herdeiro dos avós e bisavós que cantaram as portas que Abril abriu e saíram à rua quando foi preciso, depois de muita corda, depois da corda rebentar. Ficará então a minha geração de parêntesis, a geração que teve tudo para ser e não soube ser nada, excepto a geração que transformou os pobrezinhos mas respeitados em endividados sem respeito nenhum.
Aos jovens bem jovens de hoje pertence o amanhã: os cravos já não terão cheiro, as canções revolucionários o mesmo apelo que os hinos fascistas de antanho, os símbolos ficarão escondidos sob pó e teias de aranha, a pátria confundida com outro mito qualquer. Mas, por não lhes ser mais exigido que cumpram Abril, talvez finalmente Abril seja cumprido.
Aos jovens bem jovens de hoje pertence o amanhã: os cravos já não terão cheiro, as canções revolucionários o mesmo apelo que os hinos fascistas de antanho, os símbolos ficarão escondidos sob pó e teias de aranha, a pátria confundida com outro mito qualquer. Mas, por não lhes ser mais exigido que cumpram Abril, talvez finalmente Abril seja cumprido.
4 comentários:
Também tenho essa esperança, mas gostava que soubessem um pouquinho mais da história que foi e como acabou. Aprende-se muito com a história, a reconhecer sinais, não repetir erros. Que sirvam para alguma coisa.
(a minha sobrinha - 9 anos - sabe o que foi o 25 de abril. conforme for crescendo, mais saberá, que tem quem lhe conte e ensine.)
Perfeitamente de acordo que NUNCA se esqueça Abril, mas penso que os valores essenciais da Revolução já foram há muito cumpridos: Liberdade e Democracia. Progresso e desenvolvimento, cabe-nos já a nós todos, aos nossos filhos e por aí em diante. Deixemos, portanto, Abril para a História.
Mas eu quero mesmo ver chegar o tempo em que não haja discursos a discutir quem tem direito à pátria/nação e quem tem direito ao cravo. E, sim, o cravo não é símbolo da esquerda; é símbolo do 25 de Abril. E é por isso que não gosto de o ver abusado, nem pela esquerda, nem pela direita, muito menos por um fulano que diz que é presidente de todos e que, no entanto, nunca o usou. Talvez para o ano se lembre do cravo. Este ano lá se lembrou do Salgueiro Maia. Ena! Pobre Salgueiro Maia, que tão pouco respeito mereceu quando realmente precisava!
Os desígnios de Abril - e não os desígnios específicos de quem fez aquele Abril e o quis levar mais à esquerda ou mais à direita ou saltar fora da guerra ou fosse o que fosse - foram há muito abusados pela corja que se apoderou do que havia. E é por isso que, todos os anos, os discursos são tão iguais. E é por isso também que, todos os anos, Abril fica por cumprir pela geração parêntesis, que é a nossa.
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