Desesperança é quando até o amanhã perde o gosto e já ninguém mais escreve cartas para o futuro. O futuro, aliás, transformou-se numa gaveta fechada. A chave? Alguém a perdeu. Talvez tenha sido eu. Ou todos nós, juntos, num silêncio bem ensaiado.
Acordar tem sido um gesto automático: não há mais café que aqueça o peito e desfaça as sombras. As notícias repetem a desgraça com palavras novas, enquanto o público finge surpresa.
Há uma pausa que ninguém preenche, um vácuo entre o que se quer e o que se tem. O mundo continua, claro, mas não convida, enquato as janelas permanecem abertas, mas só entra poeira e mosquitos.
A esperança era uma vela, mas hoje é só cera fria, moldada em formas de desistência. E mesmo assim há quem continue soprando o nada — por vício, talvez.
Mas ainda há um resto, um fiapo, não de esperança, mas de teimosia, de seguir mesmo assim, com os pés no barro e os olhos embaciados, porque às vezes continuar é a única forma de resistência.
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