Às vezes imagino o suicídio do Papá Hemingway. Suponho que naquela manhã de 1961 se viu ao espelho e perguntou a si mesmo: E agora?
Lá fora estavam os montes de Idaho, as árvores, a pastagem, os pássaros e os seus gatos (...), tudo o que resumia a vida de um gigante. E agora?
Então engatilhou a espingarda com a decisão de acabar com a fraqueza que ameaçava acabar com o homem.
Luís Sepúlveda – As Rosas de Atacama
Às vezes imagino os suicidas. Às vezes imagino-os com aquela imaginação envergonhada de quem não teve coragem para o ser. Às vezes imagino o dia seguinte sem amanhã, a dureza de nos vermos frente a frente com o vazio. E o gigantismo da vida do outro lado do dia.
Às vezes imagino o pouco que faltou, a arma que não havia, a indolência para a procurar. Às vezes penso como é mais fácil, outras só como é difícil.
Às vezes temo ter em mim a desesperança, ter os genes carcomidos de um pobre povo suicida que teima em resistir.
Às vezes temo que já nem gigantes haja, que já nada faça sentido, que nem os montes ou as árvores nos apaguem dos olhos os sem-desígnios enlatados que nos serve o quotidiano.
Às vezes queria ser a arma, outras vezes o dedo que se cola ao gatilho. Outras ainda dou comigo a preferir ser os montes, as árvores, os pássaros, até os gatos, assustados pelo tiro.
Trinta e cinco anos depois, Muriel, a neta, foi fazer companhia ao avô no céu dos suicidas. No céu dos que tiveram coragem, não a tendo, para fazer da morte um postulado.
Às vezes penso nos suicidas e em como, algures antes de todo o tempo, antes de toda a história, antes mesmo de ser eu, também desejei ter uma lápide nesse céu, mas não tinha arma, nem engenho, nem a vontade certa.
Às vezes penso no que segura, o que já segurou, tantos de nós, o que nos fez escolher a vida. E às vezes penso que ousamos reclamar em demasia contra a banalidade, as banalidades, que nos resgatam para a vida.
Nem todos podemos ser um gigante como o Papá Hemingway.
Lá fora estavam os montes de Idaho, as árvores, a pastagem, os pássaros e os seus gatos (...), tudo o que resumia a vida de um gigante. E agora?
Então engatilhou a espingarda com a decisão de acabar com a fraqueza que ameaçava acabar com o homem.
Luís Sepúlveda – As Rosas de Atacama
Às vezes imagino os suicidas. Às vezes imagino-os com aquela imaginação envergonhada de quem não teve coragem para o ser. Às vezes imagino o dia seguinte sem amanhã, a dureza de nos vermos frente a frente com o vazio. E o gigantismo da vida do outro lado do dia.
Às vezes imagino o pouco que faltou, a arma que não havia, a indolência para a procurar. Às vezes penso como é mais fácil, outras só como é difícil.
Às vezes temo ter em mim a desesperança, ter os genes carcomidos de um pobre povo suicida que teima em resistir.
Às vezes temo que já nem gigantes haja, que já nada faça sentido, que nem os montes ou as árvores nos apaguem dos olhos os sem-desígnios enlatados que nos serve o quotidiano.
Às vezes queria ser a arma, outras vezes o dedo que se cola ao gatilho. Outras ainda dou comigo a preferir ser os montes, as árvores, os pássaros, até os gatos, assustados pelo tiro.
Trinta e cinco anos depois, Muriel, a neta, foi fazer companhia ao avô no céu dos suicidas. No céu dos que tiveram coragem, não a tendo, para fazer da morte um postulado.
Às vezes penso nos suicidas e em como, algures antes de todo o tempo, antes de toda a história, antes mesmo de ser eu, também desejei ter uma lápide nesse céu, mas não tinha arma, nem engenho, nem a vontade certa.
Às vezes penso no que segura, o que já segurou, tantos de nós, o que nos fez escolher a vida. E às vezes penso que ousamos reclamar em demasia contra a banalidade, as banalidades, que nos resgatam para a vida.
Nem todos podemos ser um gigante como o Papá Hemingway.
4 comentários:
Durante muito tempo pensei no suicídio como uma cobardia. Durante tempo nenhum pensei nele como uma coragem. No entanto, sei que existe essa dualidade. Mas continuo a pensar que é uma cobardia. Talvez porque não tenha coragem para o ver de outro modo.
Pescadinha...
duende
O suicídio será uma das poucas verdades absolutas a que não digo "não". Porque não sei. Ou pelo que sei. Eu talvez fosse um dos corpos que se viam a cair das torres gémeas. Isto é, não desdenho a hipótese de fazer do suicídio a minha "fuga para a frente". E acredito que a vida nos possa pesar tanto que escolhemos não a querer. Depois... bem, depois depende. Depende, por exemplo, de saber se a morte não nos pesaria ainda mais.
Obrigada
Não se lembram de ninguém, mas também já nem dívidas têm para tecer em palavras. E há sempre a hipótese de se ser um suicida falhado. :)
Obrigada pela visita
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