Com Copérnico, o homem deixou de estar no centro do Universo. Com Darwin, o homem deixou de ser o centro do reino animal. Com Marx, o homem deixou de ser o centro da história (que aliás não possui um centro). Com Freud, o homem deixou de ser o centro de si mesmo (que também nem sequer existe, é apenas um lugar vazio, uma brecha, uma voragem).
Eduardo Prado Coelho
No centro de mim está a voragem, está o vazio. Povoo-me à volta. Povoo-me em torno. Descentro-me. Espremo limites. Dedilho acordes de memórias banais. Não tenho história. Não tenho reino. O meu Universo é um tecto baixo e as estrelas vão fugindo.
Há em mim um esforço cansado para encontrar na magia de outros a minha voz. Tenho a imaginação a tingir-se de rouquidão e a voz a apagar-se. Foge-me... Não sei como dar a volta ao vazio. Não sei como reclamar contra o sem mistério da existência que se arrasta.
Estou cansada de mim. Estou cansada de quantos, antes de mim, me roubaram o meu lugar no espaço e no tempo. Estou em rota de colisão contra quem me rouba os mitos, quem teoriza a minha sem importância no mundo, no meu mundo.
Quero encher os meus sonhos das formas e dos signos de uma existência de dignatária. Quero ser a bruxa, a feiticeira, o feitiço. Quero ver o Planeta pelo lado de fora e a alma dos outros pelo lado de dentro. Quero baptizar uma estrela, faze-la minha. Quero fazer um filho e quero voltar ao útero. Quero bocejar e assim fazer as asas de uma qualquer borboleta, tremeluzente em torno de uma qualquer luz, baterem mais rápido e provocarem a transformação da essência das coisas do outro lado da Terra. Quero ser roda e quero ser o pedal que move a roda. Quero um lugar que seja só meu, uma música que seja só minha, um sonho nunca antes sonhado.
Quero correr atrás do céu e do inferno; quero fazer as coisas acontecerem. Quero encontrar a minha voz, segurá-la, travar-lhe a fuga...
Eduardo Prado Coelho
No centro de mim está a voragem, está o vazio. Povoo-me à volta. Povoo-me em torno. Descentro-me. Espremo limites. Dedilho acordes de memórias banais. Não tenho história. Não tenho reino. O meu Universo é um tecto baixo e as estrelas vão fugindo.
Há em mim um esforço cansado para encontrar na magia de outros a minha voz. Tenho a imaginação a tingir-se de rouquidão e a voz a apagar-se. Foge-me... Não sei como dar a volta ao vazio. Não sei como reclamar contra o sem mistério da existência que se arrasta.
Estou cansada de mim. Estou cansada de quantos, antes de mim, me roubaram o meu lugar no espaço e no tempo. Estou em rota de colisão contra quem me rouba os mitos, quem teoriza a minha sem importância no mundo, no meu mundo.
Quero encher os meus sonhos das formas e dos signos de uma existência de dignatária. Quero ser a bruxa, a feiticeira, o feitiço. Quero ver o Planeta pelo lado de fora e a alma dos outros pelo lado de dentro. Quero baptizar uma estrela, faze-la minha. Quero fazer um filho e quero voltar ao útero. Quero bocejar e assim fazer as asas de uma qualquer borboleta, tremeluzente em torno de uma qualquer luz, baterem mais rápido e provocarem a transformação da essência das coisas do outro lado da Terra. Quero ser roda e quero ser o pedal que move a roda. Quero um lugar que seja só meu, uma música que seja só minha, um sonho nunca antes sonhado.
Quero correr atrás do céu e do inferno; quero fazer as coisas acontecerem. Quero encontrar a minha voz, segurá-la, travar-lhe a fuga...
3 comentários:
"(...)
Deixem-me só com o dia
Peço licença para nascer"
Pablo Neruda em Estravagario
Escolhido pelo 'voltar ao útero'.
Aqui está a diferença. Começou um blog e não tem à nascença 50% da blogosfera nos links. Aliás, não tem um sequer. Gostei.
duende
Eu também gostei! Essa de fazer um lençol de links, também nunca foi coisa que apreciasse.
Mar
Este blog talvez tenha surgido para que me refugie num útero e, a partir de lá, consiga apreciar o meu umbigo, Duende. Às vezes tanto quero ver que me esqueço de ver a mim e aos meus pormenores. E "a nossa única riqueza é ver".
Obrigada.
___________________________________________________________________
Mar, não sei sequer se vou ter links alguma vez. Talvez mude de ideias. Mas, para já, sou um ponto perdido não linkado e sem links. Ainda sou qualquer coisa à espera de ser, à procura de mim, não necessariamente numa montra.
Obrigada.
Enviar um comentário