Um Estado débil, incapaz de fazer cumprir a lei (pois se ele é o primeiro a violá-la...), beneficia os espertos sem escrúpulos e os poderosos que sempre arranjam maneira de se safarem. Mas é a desgraça dos que, por falta de recursos, não são capazes de sobreviver na lei da selva.
Cada vez que penso no que sobra do meu ordenado depois de me comerem percentagens para aqui e para ali, a mais a prestação da casa que, de seis em seis meses, dá mais um pulinho; cada vez que me lembro como sou - em quase tudo que realmente pesa na bolsa - duplamente tributada, às vezes triplamente tributada; quando penso que ando a descontar para pagar as reformas da Cardona, do Mira Amaral e de todos os outros espertalhaços de quem ninguém fala; quando penso nas pensões vitalícias de mais de 300 políticos que não fizeram praticamente nada pelo País e por mim; quando penso na lista dos devedores, escarrapachada à boa maneira totalitária, sem que antes aparecesse a lista das dívidas do Estado e das autarquias e os seus prazos de pagamento superiores a dois anos; quando penso nas burlas, nos burlões e até nas diferentes Ordens Profissionais e na forma como, até elas, às vezes parecem demasiado laçadas a uma qualquer teta pública; quando penso em todos os que fogem porque podem, nos que fogem porque os deixam e na desgraça de quem, como eu, não pode fugir pedaço; quando penso nas barrigas fartas dos gajos do futebol e mais em todos os Planos Mateus e o raio que os parta... Ai que azia! Ai que nojo! Ai que vómito!
E o meu IRS? Onde estão as migalhas que me hão de devolver depois de me chularem o ano inteiro? Onde anda? Atrasado? Que ideia! Todos os anos avança um mês, mas não há de ser nada: aos que vivem à conta do Estado e dos meus impostos e sentam o cu na A.R. quando lhes dá jeito (ou inventam mais um lugar de assessor com ordenado chorudo enquanto mandam os coitados que estão lá em baixo, no cu de Judas dos privilégios, continuarem a sobreviver com ordenados congelados ou a aumentarem várias vezes abaixo a inflação), não deve faltar tostão para as férias que, se formos a ver bem, gozam todo o ano.
É azia, é. Uma azia cada vez maior e sem remédio. Talvez devesse emigrar... É que estou farta da lei da selva e de tanta macacada!
(e nem me falem mais na Gisberta, ou ainda me dá uma coisinha má...)
10 comentários:
Sentimentos tão justificados, os teus! Hoje vejo a realidade toda a essa luz, à luz dos desequilíbrios na vida social do nosso país e depois a nível planetário, onde os favorecidos têm mais cu que nós, que só temos ânus e nádegas coladas à cadeira de onde vendemos em saldos, por uma pechincha, o nosso suor, o nosso trabalho.
Mas também vejo a massa de gente que se conforma, que não reage ou se rebela (e não apenas por não ter como o fazer), não digo pela violência, mas pela perspicácia activa e reactiva, por uma conjugação de esforços no sentido de se libertarem, de se emanciparem de quem os suga até ao tutano.
Pelo contrário, muitos podem ver a acção injusta mas, como estão e permanecem isolados, não há acção, não há qualquer espécie de sinergia, de coordenação de perspectivas. É o efeito pernicioso do individualismo. Metidos na securitária, presidiária casa conventual, que é hoje o lar, e recluídos no popó, estamos no céu da tranquilidade. Nada nos falta. Para quê preocuparmo-nos?!
Eu, por mim, com todas as forças do meu ser, recuso-me a ser sugado e lutarei pela libertação de essa condição de tributado e mal pago, de explorado pelos bancos e pelos governos e pelas seguradoras e por todas as estruturas que nos induzem a pagar; pela libertação de um trabalho desdignificado e, pior, constantemente soslaiado.
Não suporto (nem admito) ser olhado de viés por ninguém.
Tenho um caminho.
Tenho um cérebro.
Tenho armas.
E sou resiliente comó caralho!
Eu também tenho um caminho e tenho um cérebro e tenho as minhas armas. Mas também tenho dívidas e, à conta delas, acabo prostituída ao horário fixo e aos desmandos de uns quantos. Era fácil ter ideais antes de ter contas para pagar. Agora resigno-me, como todos, agrilhoada à necessidade de garantir o vil (e escasso) metal que me põe comida na mesa, luz, água, gás, televisão, internet, gasolina e todas as tretas onde, por mais que tente, parece sempre impossível poupar.
Conformada? Nunca! Mas manietada sim. Porque há coisas que não me posso dar ao luxo, infelizmente, por mais que - tantas vezes, em tantos dias - me apeteça mandar tudo para trás das costas, mandar uns cantos para o caralho e fazer de conta que sou livre.
E é por isso que ranjo os dentes, escrevo um post e, amanhã, bem cedo, estarei a bulir outra vez, à espera que a semana passe depressa, que as férias venham rápidas e que, no final da tarde da próxima 6ª, possa bater a porta com estrondo e um sorriso de orelha a orelha para partir para três ínfimas semanas de férias.
Só que estava a contar com o IRS para ajuda das despesas e... o costume :(
É a triste realidade do país de merda em que vivemos!
Nem é bem o País, não é? É o aparelho e toda a parafernália de aparelhinhos do Estado e/ou que gravitam à volta do Estado :(
È verdade é o país que temos.
É uns continuando esperando o reembolso do IRS.
È outro a bulir e cada vez mais para conseguir o vil metal para fazer face ás custas existentes da casa mas esperando pelo dia anunciádo para ir de férias, claro que esperando receber algum do que pagou adiantádo , mas vá esperando sentádo.
Os politicos que tivemos desde o celebre 25 de Abril estão-se marimbando para a questão do zé português , querem é o deles e sabem como passar a parede para arranjar mais algum , os tachos são enormes como se sabe , em compensação teem as viagens garantidas , umas férias além das férias com tudo pago pelo estado.
Claro que eu sou um pouco do que alguém disse e muito bem , fecho-me em casa sento-me ao computador e dirigo a palavra a vários bloguistas dizendo da minha justiça e á qual tenho resposta.
Tenho a praia a 800 metros mas molhar os pés é o caraças.
Mas enfim fugi ao tema que me encontrava a responder. touaqui
Essa de não ir molhar os pés é que não percebo. Nem uns passeios na borda de água? Afinal, (ainda) é de graça :)
Eu devia ter ido para a política. Talvez estivesse agora em visita de Estado ao Brasil, a assessoriar alguém...
Bem vind@ ao Voz em Fuga, touaqui
Bom, na verdade não venho acrescentar nada, vocês já disseram tudo o que penso bem melhor do que eu. Venho só dizer que também estou aqui, venho fazer número... Vou 4 dias (4!!!) à ilhota aqui ao lado, só para "sentir férias"... E ainda não sei bem como vou pagá-los. Mas não há-de ser nada!
Eu sei como pagarei as minhas: indo ao plafond da conta ordenado, na esperança que cumpram a promessa de me fazer a devolução do IRS até ao final do mês ;-)
Boas (mini) férias, já agora. Que esses dias sirvam para esquecer as tretas do costume.
Bem vinda às Vozes e ao Voz em Fuga. Espero que gostes de estar por aqui e que nunca te sintas só "a fazer número" :)
Hipatia sinceramente me confessei , não vou á praia molhar os presuntos , não por medo mais por preguiça , a não ser claro que seja obrigádo e ai muda tudo de figura, a água aqui é muita fria , passeios á borda da água vou ter que os fazer antes de fazer a prova de esforço que já tenho marcádo para Setembro e ai sim vou ser obrigádo a fazer umas marchinhas se quizer fazer essa prova de esforço, tambem vou estar ausente uns dias , porque os netos hoje teem mais força que eu no antigamente tinha perante os meus pais e mal levantava uma orelha levava uma ripáda mas tudo bem, só te posso desejar um bom fim de semana e áh o diefe que vá para as ilhas e depois que pense como pagar ahahahahah, a vida hoje está viajar e pagar depois eheheheheheh.touaqui
Mais Vozes
Já emigrei e rapidamente voltei. Depois de ver tudo o que é "tipicamente português" noutros países.
E.A. | Homepage | 08.07.06 - 7:54 pm | #
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Não sei se em todos Na maioria será semelhante, sim. Alguns pior; outros melhor um bocadinho. A Escandinávia - não fosse o frio - seria sempre uma opção. E eu até gosto de loiros
Claro que - por mais que barafuste - nunca iria. Não me conseguem sequer convencer a sair do meu Porto, do meu Norte. E sempre tive consciência que desperdicei oportunidades por não ter avançado, das várias vezes que a hipótese se me colocou - para Lisboa. Mas eu não saberia viver sem esta coisa das raízes e da família, onde me prendo e me sustento, que está (apenas) aqui.
Hipatia | Homepage | 08.07.06 - 11:06 pm | #
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E a comidinha, hum? E o mar, hum? Foram das coisas que mais me fizeram falta, além das pessoas.
E.A. | Homepage | 08.08.06 - 7:32 pm | #
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Sou "boa boca", E.A. Afinal, até me atrevo a comer o que tento cozinhar Mas ia, sem dúvida, sentir muita falta da comidinha da mamâ, da vovó, da ti-tia... O mar nem tanto. Mas os cheiros... ui! E o café? Só de imaginar-me a beber a zurrapa a que alguns se atrevem a chamar café...
Hipatia | Homepage | 08.08.06 - 9:15 pm | #
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