2007-03-08

Silent Spring


aqui

We still talk in terms of conquest. We still haven't become mature enough to think of ourselves as only a tiny part of a vast and incredible universe. Man's attitude toward nature is today critically important simply because we have now acquired a fateful power to alter and destroy nature.
Rachel Carson


Em 1962 foi publicado um livro chamado Silent Spring. A sua autora, Rachel Carson. Hoje parece óbvio que foi essa obra que deu origem a toda uma linha de pensamento que desagua em espectáculos mediáticos, como a entrega dos Oscares ou os € 1500,00 que Al Gore cobrou em Lisboa para dizer o óbvio.

Na verdade, disponível para quem quiser ler mais do que as súmulas fáceis ao alcance de qualquer link, existe publicada desde a década de 60 uma bibliografia cada vez mais extensa, em que diferentes apelos sustentam que, para reduzir a degradação ambiental e para a humanidade salvar o seu habitat, as sociedades deveriam reconhecer que a Terra é finita, no sentido que a capacidade de recuperação ambiental do planeta não é inesgotável.

Este tem sido o grande núcleo do discurso verde. A sua assimilação tem sido lenta e, muitas vezes, alvo de ataques cerrados de lobbies estabelecidos. Rachel Carson, por exemplo, foi violentamente atacada pelas empresas que dominavam o mercado de pesticidas. Foi acusada de exageros e até de mentir quando sugeriu que o DDT era cancerígeno. Mas hoje (espera-se) já ninguém usa DDT...

Há um tempo para tudo. Um tempo para vozes solitárias com uma causa; um tempo para questionar; um tempo para tentar compreender; um tempo para contemporizar e estudar alternativas, um tempo para transformar as causas em circos mediáticos com evidentes laivos de hipocrisia... Até há um tempo para profetas e, como sempre, alguém que se senta (ou tenta sentar) no trono de S. Pedro. Nas questões ambientais, também isso se passa e Al Gore só está a tentar o caminho óbvio para se transformar em Papa da sustentabilidade.

E eu, que sempre gostei pouco de religiões organizadas e a forma tentacular como se agarram ao poder e ao compromisso, não preciso gostar para lhes reconhecer alguns méritos: alguma parte da mensagem passará algum dia e talvez os filhos (que não tenho, mas isso agora pouco importa) dos meus filhos tenham ainda um mundo decente onde viver, com biodiversidade (que a Terra não pertence só ao Homem), ar para respirar, terra arável, água pura ou uma atmosfera viável. Até porque o meu cinismo ainda não chegou ao ponto de achar que, como tudo, até nós não passaremos de poeira na História e, por isso mesmo, pouco importa agir.

Talvez por isso, hoje - neste dia que dizem que é de homenagem às mulheres -, o meu elogio continua a ir para Rachel Carson. A sua mensagem passou, pouco importando se tudo o que disse estava correcto. O essencial ficou e fez a diferença: a Terra, vista agora como a nossa casa em perigo, tornou-se finita aos olhos do Homem. E se ainda temos pássaros a cantar em cada Primavera, talvez seja porque esta mulher se decidiu a falar.

3 comentários:

Nelson Reprezas disse...

Apenas um reparo, muito breve e sem entrar em pormenores, sobretudo porque se trata de um assunto que domino bem. E é sobre o DDT.
1 - O DDT (diclorodifeniltricloroetano, abreviado)nunca chegou a ser cientificamente considerado cancerígeno, apesar do seu LD50 baixo. Continua, porém a ser a bandeira de eleição dos ecologistas, sobretudo dos que não fazem a mais pálida ideia do que é o DDT e dos benefícios que o DDT trouxe à humanidade. E ainda traz. E traz, porque:
2 - O DDT ainda hoje é usado em muitos países africanos sob a forma WP (sigla para wettable powder ou pó molhável)normalemente em concentrações de 75%, porque é o mais eficaz (de longe) meio de combate ao anophellis, transmissor da malária.

3 - Ainda hoje morre muito mais gente de malária do que que de Sida. Deve-se ao DDT (entre outros produtos menos tóxicos, mais caros e menos eficazes)não morrerem muitos mais.

Deixo este pequeno reparo, podia comentar mais sobre as razões do DDT estar banido na Europa, mas quiz só corrigir a parte em que dizes que o DDT já não é utilizado. Na verdade, é. E graças a ele muitas crianças têm sido salvas.
beijinho para ti

Hipatia disse...

É o que dá escrever de cor :) Tens razão, sim senhor. E o pior é que eu até sabia disso, lol. Na verdade, ia dizê-lo no parágrafo em que digo que nem tudo o que ela afirmou estava correcto. Mas a questão pertinente é exactamente essa: ela disse-o e, ao fazê-lo, houve consequências. O Gore não inventou esta pólvora. Ela está lá já há muitas décadas e a ser atacada por tudo quanto é lado, porque não é conveninente. Nisso o tipo acertou: o nome que deu ao documentário parece-me dolorosamente óbvio. O que eu não sei é até que ponto, com a instituição destes lobbies ambientalistas, não se perdem as verdades necessárias, por mais inconvenientes que sejam. Até essa de que me esqueci: entre crianças mortas com malária e o uso de um veneno como o DDT, a escolha continua a ser evidente. Mas tem as suas consequências, que é preciso encarar.

Anónimo disse...

Mais Vozes

Passional este tema ... mas nos não passamos de poeira na historia , por isso temos de agir (só temos esta vida ).Nos temos pássaros a cantar , mas os nossos putos sabem lá que aquela fatia a que chamamos bifes embalada num tabuleiro com penso higiénico é parte de um animal.
A natureza não brinca mas nos sim ou já viste mais algum animal a precisar de ter € para ter casa ???
ela anda a partir pedra e eu n | Homepage | 03.09.07 - 7:20 pm | #

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Claro que é passional, Claire. E move demasiados interesses, o que complica tudo. Por cada estudo que surge a alertar contra uma qualquer evidência, aparecem logo dois a dizer que não é bem assim. E, no fim, matam-se os pombos das cidades porque cagam os monumentos, mas não se ensina aos fedelhos que são vida, tal como as árvores e até os pombos cagões
Hipatia | Homepage | 03.11.07 - 10:47 pm | #