aquiEsta manifestação "classista" de ontem, em que tanto professor se deixou – crédula ou convictamente – enrolar pela bitola do reclamar por reclamar, sem apresentar alternativas, conseguiu o que pensava impossível ao fim destes anos de Governo de Maioria Socialista: pôs-me do lado do Governo e com vontade de defender a Ministra da Educação.
Não discuto o direito à manifestação; não descarto o descontentamento. Mas lembro uma entrevista passada da Ministra em que lhe perguntavam o que ia fazer com tantos professores desempregados que, mais uma vez, tinham ficado sem colocação. E a Ministra dizia que o Ensino Público não podia ser o garante do pleno emprego da classe. Pois não! Mas se há assim tanto professor desempregado, avaliem-se os que lá andam a progredir automaticamente nas carreiras, sem prestarem provas mínimas de serventia. E ponham na rua os que não prestam – que são muitos, demasiados, um que fosse já era demais – e tratem de dar lugar aos que não foram colocados.
O resto do País também trabalha e paga impostos. O resto do País tem avaliações e promoções por mérito. O resto do País é responsável pelo trabalho bem ou mal feito, exigem-lhe produtividade e empenho, pagam a crise com horários prolongados, quase sempre não remunerados. Para os que estão no Sector Privado, o desempenho de cada um compromete ou não o desempenho da empresa e os seus resultados e, no extremo, a continuidade de um posto de trabalho.
O resto do Sector Público, melhor ou pior, tenta seguir a lógica da avaliação, sabendo que em função de um Director ou de outro, serão bestas ou bestiais com um par de anos de permeio. Nisso, até é parecido no Privado, sendo que a nomeação política costuma até terminar mais cedo. Mas, entre as várias injustiças, houve muitas outras que deixaram de acontecer.
Foi assombroso ver tanta gente na rua. Suponho que terá até assustado este Governo e, especialmente, o Primeiro Ministro, sempre tão preocupado com a imagem. Alguns Ministros até já meteram os pés pelas mãos. Mas se a reforma não se faz agora com medo dos professores, nunca se fará, porque haverá sempre medo dos professores e das suas defesas corporativistas de privilégios que não fazem mais sentido.
E convém que os Professores não esqueçam que, quem olha de fora, tem de conviver com o resultado do que produzem diariamente, porque quem olha de fora é muitas vezes um Pai que sabe que o filho terá melhor ou pior sorte na vida se conseguir que fique entregue a um e não a outro professor, a uma escola e não a outra. E também fomos colegas de uns quantos quando andavam a estudar e sempre saberemos quem era bom e quem foi dar aulas porque – infelizmente – não era competente para mais nada. E alguns de nós até herdaram esses alunos acabadinhos de fabricar por eles quando chegaram à Universidade sem nem bem compreenderem português, ou incapazes de fazerem uma pesquisa, ou até mesmo de fazerem uma simples conta de multiplicar. E depois deverão também comparar os horários que têm, os dias de férias que de facto gozam, os ordenados que levam para casa ao fim do mês, o difícil que é serem despedidos por qualquer causa, seja ela justa ou injusta, o modelo da flexisegurança que nunca lhes será aplicado, nem a medição de qualquer espécie para os rácios de produtividade do País.
Depois disso, lembrem-se os professores que podem ser 100 000 a manifestarem-se no Rossio ou onde bem entenderem, mas que o País que olha do lado de fora tem pouca paciência para quem ralha de barriga cheia. E que nós – os outros – somos bem mais do que 100 000. Aliás, até os professores são mais do que 100 000. E que a manifestação pode não ser nada se não estiverem dispostos a irem para outras formas de reivindicação, também elas legítimas, como a Greve. Mas se voltam a fazer greve para o povinho os ver de cu sentado nos cafés em amena cavaqueira enquanto a fedelhada fica ainda pior do que está, então acreditem os Professores que serem 100 000 nas ruas de Lisboa não lhes vai servir de nada e, na hora de decidir, o prato da razão – e até mesmo o da Justiça em demasiados casos – não vai ser para o lado deles que vai pender.
Muito menos se continuarem a abrir a boca para reclamarem da perda de privilégios. É que os privilégios não são, realmente, para serem dados ao desbarato, a todo quanto levanta o braço. O privilégio deveria apenas premiar os melhores. E há muitos bons professores. Tantos, que não mereciam sequer ser metidos no mesmo saco de tantos outros que são, na melhor das hipóteses, apenas medíocres. Pior ainda: que sabem que são medíocres e que os colegas também sabem que são medíocres. E se há coisa que temo de facto é que, na manifestação de ontem, estivessem demasiados medíocres, os tais que estão cagados de medo mediante a possibilidade de avaliação.
A ser assim, 100 000 é de facto um número profundamente assustador. Não necessariamente para o Governo, antes para nós, que sustentamos toda esta classe e que, no mínimo, deveríamos saber o resultado das avaliações de quem pagamos para nos prestar um serviço e a quem entregamos a responsabilidade de promover e medir o desempenho dos putos que hão-de ser a geração seguinte.