2008-03-16

Sweet Sixteen


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Serei um ser anacrónico, pelo que me é dado ver. Cada vez acho mais que sou. E, em muitas coisas, não o serei sequer pela minha mão.

Sou profundamente igual a toda a gente, tão igual que estou perfeitamente em casa dentro da multidão. Sou caucasiana num país maioritariamente caucasiano; praguejo invocando o nome de Deus ou o do seu filho como toda a gente; sou mulher, como cerca de metade da população e heterossexual como a maioria; não tenho qualquer impedimento físico, ainda que a carta de condução fale em óculos ou óculos especiais e os impedimentos emocionais têm sido até agora coisa apenas minha. Sou profundamente banal e simples e anónima. Em muitos dias, sou profundamente anódina também, que não é preciso andar a dar nas vistas para se ser.

E sou muito – tanto! – fruto da educação que me deram em casa. Os meus pais puseram-me uma série de limites e obrigações enquanto crescia. E a responsabilidade para lidar com as consequências, mas apenas quando demonstrasse capacidade para entender e interiorizar as consequências das minhas escolhas, especialmente se fossem de carácter permanente.

Nesse sentido (como já disse por aqui algumas vezes), os meus pais não me baptizaram, para que eu pudesse escolher um dia, quando soubesse o que era um compromisso com a religião. Não sou baptizada por escolha, porque decidi não me comprometer com a fé mediada seja por quem for, com base em dogmas que não entendo e com regras feitas para ninguém as cumprir, como de facto não cumprem. Escolhi aos dezasseis anos e dou-me muito bem com a escolha que fiz quando os meus pais me perguntaram o que queria fazer. E assim não sou obrigada a encarar a minha vida como um constante violar de regras, porque ninguém me obrigou à nascença a cumpri-las.

Sempre tive algumas chatices quanto à roupa e até quanto aos penteados, para já não falar na maquiagem. Aliás, durante uns tempos a minha mãe chegou mesmo a dizer que se recusava a sair à rua na minha companhia. Mas suponho que nunca tiveram grandes preocupações quanto a isso e se limitavam a não gostar, esperando que a mania gótica passasse. E, obviamente, maquiagem só depois dos dezasseis anos.

Engravidar na adolescência não se pôs sequer como possibilidade. De alguma forma os meus pais fizeram-me compreender que há coisas que é preciso ter idade para fazer. Neste aspecto em particular, fizeram bem mais do que apenas discutirem métodos contraceptivos. Conseguiram que eu me convencesse que deveria fazer amor pela primeira vez apenas com alguém que amasse de facto e não porque toda a gente fazia. E como eu não me apaixono facilmente, acabou por acontecer que fui, verdadeiramente, tarde. Tão tarde que o meu melhor amigo dizia que eu era a última cidadela ainda por cair. Mas não sinto sequer hoje que tenha caído, ainda que as duas camas se tenham separado e tenhamos caído de facto ao chão. Mas isso já é outra história.

Também impuseram os dezasseis anos como a data mínima para decidirmos, a minha irmã e eu, se queríamos ou não ter as orelhas furadas. Não pegaram em nós com meses de idade e foram mutilar-nos. Mais uma vez, decidiram-se por uma idade – que não é sequer a da maioridade legal – como a idade suficiente para compreendermos as implicações. Eu, que cheguei aos dezasseis anos antes da minha irmã, decidi não fazer qualquer tipo de furo. A minha irmã, aos dezasseis anos furou as orelhas. De lá até agora, já furou ainda mais as orelhas e espetou um prego no umbigo. Tivemos a mesma educação e os mesmos limites, decidimos coisas diferentes. Ninguém está mal com ninguém, os meus pais não disseram mais nada.

O mesmo se passou com as tatuagens, aliás. Quando chegou a moda, já tínhamos as duas idade para ter juízo e decidir sem pedir permissão aos pais. Até agora, nenhuma de nós fez uma. Eu não a vou fazer. A minha irmã poderá ou não fazê-lo, ainda que eu duvide.

E em minha casa também nunca se achou criminoso que alguém pedisse um suicídio assistido. Nunca calhou haver um na família, mas suponho que se alguém quisesse se arranjasse uma solução. Talvez emigrássemos para a Suiça, por exemplo. Mas não haveríamos de ter um “Mar Adentro” dentro de casa, só porque não concordamos com a lei que nos impede de dispormos do nosso corpo e morrer com dignidade.

Quanto à Lei do Tabaco, tenho a dizer que não passei a fumar menos. Posso não fumar em todo o lado, mas tenho até, suponho, fumado mais. É que aqueles cigarros que apenas queimavam entre os dedos agora vão parar direitinho aos pulmões. Mas também aquela lei nunca quis ter nada a ver comigo. Adiante!

Depois, convém que diga desde já que, na prática, estou profundamente contra um qualquer decreto que queira limitar à maioridade o direito de fazer alguma coisa ao corpo, seja ele um buraco, seja uma pintura permanente, seja o que for. E acho no mínimo alucinado que alguém se lembre de levar uma coisa destas à Assembleia da República.

Agora, uma coisa ninguém me evita questionar: onde foi que os pais se demitiram de educarem os filhos, que os deixam fazer tudo e mais alguma coisa sem limites e sem consciência, a tal ponto que algum louco já tenha a ideia peregrina de passar a legislar o corpo alheio, face aos evidentes exageros, cada vez mais prematuros?

19 comentários:

Filipa Paramés disse...

"onde foi que os pais se demitiram de educarem os filhos, que os deixam fazer tudo e mais alguma coisa sem limites e sem consciência...?"

Pois, também não sei!! Mas os pais têm-se demitido de tanta coisa que é assustador. Acho que esta geração não é fácil de educar, mas não me parece que as outras tivessem sido mais fáceis. Há uma libertinagem e um exagero surreal.
Não sei o que se passa, mas esta gente de 13s-15 anos é um enigma com uma pedalada de bebidas, drogas, piercings, sexo e sabe-se lá mais o quê.

Independentemente disso, é-me mais difícil entender esta suposta futura legislação que deve ir para a frente.

beijinhos
fil.

Claire-Françoise Fressynet disse...

O cerco esta a ficar muito cerado (((

Maria Arvore disse...

Nem as orelhas tenho furadas quanto mais um piercing ou uma tatuagem mas parece-me absurda esta crescente precupação higienista que grassa na legislação nacional.

Se calhar seria mais acertado diminuir o nº de horas de trabalho dos pais/mães, ou as pressões laborais e económicas a que nos últimos anos estão sendo sujeitos e lhes imprimiu a mentalidade de primeiro o trabalho e depois, o trabalho e só quando não há mais para fazer é que existem os filhos.:((

Hipatia disse...

Obviamente que a legislação não vai em frente. Está visto que o deputado do PS bateu com a cabecinha e a coisa vai ficar por ai, depois de ser explorada à exaustão para se reflectir no Governo.

Tirando isso, acho de facto estranho que os pais deixem putos tão novos como de 12 anos andarem à solta e os deixem fazer tudo e mais alguma coisa. Obviamente que esta é já a minha versão "cota" a olhar para as coisas, esquecendo convenientemente que também comecei a sair por volta dessa idade, mas desde que acompanhada por "dois cães de fila" que eram os meus primos mais velhos.

Mas o facto de eu ter saído cedo não quer dizer que concorde com o sair cedo. E também sei bem que todas as gerações vão forçar os limites até onde puderem. Mas o meu eu de hoje olha para trás e lembra muitos amigos sem regras nem limites, filhos de pais que nada tinham e, soterrados pela novidade da liberdade que Abril de 74 trouxe, quiseram dar tudo aos filhos demasiado depressa. E, desses amigos, poucos sobreviveram. Se esses pais de então exageraram, os de agora às vezes parecem já não querer saber. E isso assusta-me.

Hipatia disse...

Acho que há algumas pessoas que sentam o cu na Assembleia da República sem nada fazerem durante anos e, depois, olham para determinada conjuntura e lembram-se de se sair com uma alarvidade qualquer. Este Governo, com algumas das suas medida "higienistas", deram a um parolo mais a sua proposta estapafúrdia um lugar para existir. E isso também é cerco, mas dos mais pobrezinhos.

Hipatia disse...

Maria, sou filha de dois funcionários públicos que sempre trabalharam fora. Admito que o trânsito não era tão mau e que talvez houvesse menos pressão profissional. Mas económica? Económica não, que lembro bem como foi lá por casa quando o FMI nos entrou portas adentro e de como era não esbanjar dinheiro. Acho mesmo que há muitos pais que se demitem, que aceitam sem pestanejar que, se os amigos dos filhos fazem isto ou aquilo, então não podem proibir aos deles. Ora, quem mais é que o pode fazer? Tirando o absurdo da proposta legislativa, tenho visto vezes suficientes os pais a tentarem empurrar esse "encargo" para terceiros.

vanus disse...

Duas coisas:
primeiro acho que esse diploma é uma mera diversão, até porque constitucionalmente nunca passará, e se o PS foi a favor da IGV na base que no corpo da mulher manda ela... isto vai servir para desviar atenções, permitir ao governo dizer que dentro do partido há liberdade e depois mostrar com têm bom-senso.
Entretanto vão aprovar qualquer coisa de escabroso e ninguém vai dar conta disso.

Quanto aos pais não ligarem aos filhos, demitindo-se da responsabilidade de os educar, penso que não seja bem assim.
A geração dos 20 anos hoje é muito responsável, muito consciente do que se passa à sua volta, e até muito activa. A geração seguinte, na qual já se inclui a minha filha tem um grande problema; não é a demissão dos pais, mas são precisamente os pais da geração que nasceu em abril, que foram muito mal conduzidos em termos de expectativas para com o futuro, e que depois se viram a braços com uma grande falta de integração.
A demissão que falas é uma tentativa de integrar os filhos em tudo o que possam, o excesso de bens de consumo e permissão tem como objectivo não deixar os filhos de fora de nada, fazê-los estar sempre na crista da onda. E isso passa-se com aqueles que têm possibilidades para isso.
Depois esqueces-te que o país sofreu uma grade vaga de imigração, e aí sim, há pais que tiveram que se demitir dos filhos, comparando o país com aqueles em que viviam e pensando que aqui os outros/estado e a condições que encontravam seriam suficientes para isso.
Nunca houve uma falta de liberdade tão grande em relação às crianças, um proteccionismo tão exagerado como agora. Sabes bem onde é a escola dos meus filhos em relação à minha casa e ela ainda não vai sozinha para a escola. Vais às portas dos liceus e vês montanhas de pais a irem buscar os filhos. Viste bem como à saída dos HIM a rua do coliseu estava cheia de cotas a esperarem os filhos de 18 anos.
Os pais querem que os filhos façam as coisas, mas não lhes dão a maturidade para que o façam sozinhos. A infantilização é cada vez maior, a responsabilidade cada vez menor, e isso porque de facto os pais não largam os filhos da mão.

Eu não vejo mal nenhum num puto meter um piercing aos 13 anos ou fazer uma tatuagem, vestir-se assim ou assado, desde que ele perceba a consequência dos actos, e mesmo que se arrependa depois. a vida é a falhar para que se aprenda.
Também uma bebedeira ou isso aos 15é normal, experimentar drogas também. O problema é o que os miudos trazem de trás. Não é a demissão dos pais, mas é o tipo de educação dada pelos pais, que de facto estão muito pouco preparados para educarem, uma vez que agora tudo se baseia na verdade por um lado, e na mentira/fingimento/aparência por outro.
Eu tenho por experiência ter-me recusado a ir a um jantar de turma na minha filha no 1º ano porque eram 25 euros por pessoa, o que dava 100 euros e simplesmente disse que não tinha dinheiro. Ela sofreu com isso, chamam-ma de pobre na escola e essas merdas todas. mas aprendeu que mais vale fazer o que estar certo e não ter vergonha disso do que aparentar uma coisa que não se tem.


Educar custa como um cão, passa-se o tempo todo a vergar os putos e a maioria dos pais prefere carregar as responsabilidades do que dá-las aos putos. nada é deles, nada conquistam, tudo lhes é empretado pelos pais. Não há confiança. Isso faz toda a diferença na forma como crescem.

I. disse...

Tive uma educação e percurso muito parecido com o teu: baptismo, nem pensar, quando tiveres idade para saberes o que queres logo decides. Até fui eu quem sempre decidiu se tinha religião e moral na escola e tudo - desde pr'aí o ciclo que era eu quem preenchia os impressos. Deu o que se vê, ateia até à medula. Mas agradeço e serei sempre grata terem feito fé na capacidade de pensar e decidir por mim. É um bem maior.
As orelhas, furei-as aos 13, mas com conhecimento e autorização de mamãe. Nem me passava pela ideia aparecer em casa com brincos sem antes dizer nada!E não me passa pela cabeça que um/a xavalo/a vá fazer um piercieng ou tatuagem sem dar cavaco. Até pelo preço que aquilo custa: alguém tem que lhes dar o dinheiro, não?
Sinceramente, se tivesse um filho (cruz credo) não o deixava tatuar ou furar mais que as orelhas antes dos 16. Podem estar a dar cabo de todo um futuro, basta uma marca num sítio mais visível e adeus (certos) empregos. Comigo era certinho.
Mas a função de proibir, permitir ou punir seria minha, e era o que faltava ter o poder coercivo do estado a interferir na minha família, e num assunto que não tem qualquer importância para a ordem pública!
Mas deve haver muitos paizinhos a suspirar de alívio, tipo, ai menos uma para eu queimar os neurónios.
Não entendo, pá. Estou rodeada por pais e mães destes, mas não entendo.

SK disse...

Subscrevo.
Orwell parece cada vez mais perto... Medo!

Anónimo disse...

Como Mãe que sou nunca estive (nem espero) que seja o Governo do meu País a fazer leis ou e emitir opiniões sobre o que o meu filho pode ou não pode fazer.
Sinceramente sempre odiei coisas definitivas na vida tais como as tatuagens. Acho que se se decidi fazer uma temos que ter a consciência que é para a "vida" portanto antes que a façamos temos que pesar bem os "prós e contras" dessa atitude.
Quanto a furos em orelhas nem eu nem o Pai do meu filho (que usa brinco desde os seus 16 anos e eu que tenho 5 furos nas 2 orelhas) temos "moral" para dizer: filho tu não podes fazer furos.
De qualquer maneira e embora eu goste de ver um homem de brinco (não argolas gigantes lol) não gostaria que o meu filho o fizesse muito cedo embora o estigma de "homossexual ou drogado" já tenha abrandado com o passar dos anos em relação a um homem que usasse brinco.
E sim os Pais optam por não se chatear...infelizmente alguns se não se demitiram pouco lhes falta pois como alguém disse aqui educar dá trabalho, educar é dar amor, responsabilidade mas também passa por proibir, castigar e fazer sentir que fizeram mal pois aos 13 anos que sabemos nós da vida? Aos 16? Talvez tenhamos a mania que sabemos tudo e que não precisamos dos nossos Pais mas como filha que também fui (e sou) acho que os meus fizeram muito bem em me proibir e castigar quando foi necessário pois, infelizmente, alguns dos meus amigos já não estão "neste Mundo" porque os deles já se tinham "demitido" :-(
Eu fui conquistando o meu lugar, tinha que me esforçar por ter as coisas, nunca (e sou filha única) me foram levar, em dias de greve, às aulas, nem buscar a festas...hoje só de pensar que não consigo entrar em casa porque os Paizinhos me travam a rua com os carros para irem buscar os "meninos" à escola ...
Enfim o melhor é eu ir aguardando pois ainda não sei para o que estou guardada mas vou esforçar-me, vou investir, vou lutar para ver se faço do meu Becas um Homem.

deep disse...

Alguns pais de hoje - não quero generalizar, porque seria injusto - não estão para se maçar a educar os rebentos, porque dá muito mais trabalho e dores de cabeça do que satisfazer-lhes os caprichos. Muitos meninos não estão habituados a conquistar as coisas nem a ouvir um "não", por isso são egoístas e caprichosos. Eu sei que este ponto não é o cerne do teu post, mas já que tocaste no assunto...

Boa semana. :)

Hipatia disse...

Miga, tocaste no ponto. A demissão dos pais não se faz só pelo deixar para os outros a responsabilidade; faz-se também na infantilização dos putos, não os deixando assumir que há limites e regras e que há nãos que é preciso ouvirem.

Tu conheces-me. Sabes bem que sempre fui bota-de-elástico em relação a muita coisa. Conforme os anos passam, não fico melhor. É certo que cresci a testar limites. Acho que os testei a todos e experimentei tudo o que havia para experimentar. Mas tinha os limites e, como é óbvio, ouvi muitos nãos e levei não sei quantos enxertos de porrada por pisar o risco. Hoje sei que só se perderam as que não apanhei. Sei também como foi saborosa cada conquista.

Hoje os pais parecem-me profundamente dependentes do “peer-pressure”. Bem mais do que os putos. Como se só fizesse sentido por comparação e não como algo ponderado. Poder-se-ia culpar, por exemplo, as famílias desfeitas com os putos a porem (como é da especialidade deles) um pai contra o outro para conseguirem o que querem. Mas sabes bem que nem é assim: há famílias mono-parentais em que os putos têm regras e limites, ouvem nãos, recebem palmadas, não têm tudo o que exigem, antes aquilo que merecem, em função das possibilidades dos pais. Como há famílias mono-parentais em quem acontece o inverso. E famílias com dois progenitores empenhados e outras em que as coisas não funcionam.

E depois há tudo o mais de permeio, desde os computadores nos quartos e os pais completamente a leste do que fazem os filhos, até miúdos cada vez mais novos com ritmos de vida que não lhes podem fazer bem de forma alguma. Diz-me quantos dos colegas dos teus filhos têm hora de dormir e a respeitam? E quantos percebem o não quando não há dinheiro, especialmente se antes havia e foram criados a ter tudo o que pediam?

A demissão dos pais é bem mais do que não quererem saber. A demissão é quando não assumem que são educadores e formadores de personalidades. E que educar dá trabalho. Muito trabalho. E que não há nunca certezas porque, chegados a certa idade, os putos vão fazer tudo o que nós fizemos também: testar os limites até onde puderem, terem os seus grupos-tribos com os seus rituais, imagem, dialectos específicos e tentarem integrar-se por semelhança, ao mesmo tempo que questionam e desvalorizam tudo o que vier do lado dos mais velhos. Mas aqueles que, de trás, tiverem uma boa bagagem de responsabilização sair-se-ão – como sempre se saíram todos – bem melhor do que aqueles a quem nunca deram qualquer tipo de liberdade para darem cabeçadas e aprenderem com isso, nem sequer um qualquer limite onde marrar com a cabeça.

Hipatia disse...

“Mas a função de proibir, permitir ou punir seria minha, e era o que faltava ter o poder coercivo do estado a interferir na minha família, e num assunto que não tem qualquer importância para a ordem pública!”

É isso, I. Mas a verdade é não acontece sempre assim, não é? Estou farta de me lembrar, por exemplo, de toda a polémica acerca da educação sexual nas escolas. E, se bem que não é exactamente a mesma coisa, o certo é que é o público a fazer o que o privado não soube fazer.

Apesar de tudo, este diploma é estúpido e apareceu caído do céu, escolhida a conjuntura a dedo. Não vai em frente. Mas não consigo deixar de pensar que há ali um fundinho qualquer de fundamento. Só um fundinho. E assusta-me até que o veja assim.

Hipatia disse...

Nisso concordo, Stephen King: os cenários distópicos vão-se instalando perante a nossa complacência.

Hipatia disse...

Ba, tenho a certeza que se não fores tu buscar o catraio, o pai haverá de ir. Tirando isso, do que vos conheço, sei que a combinação das vossas personalidades fará com que o meu sobrinho acabe por não ter muitas hipóteses de se tornar um desses putos fruto de pais demitidos. Mas também te digo desde já que suspeito que serás tu – muito semelhante ao que se passava em minha casa, aliás – o pai disciplinador, pelo menos num sentido mais pragmático. E é que também é disso que falta: pragmatismo :)

Hipatia disse...

Em relação aos pais, digo-te, por exemplo, como estranhei que tantos se deixassem insultar pelos professores dos filhos, que os vêem como incapazes de fazer uma avaliação isenta. Mas às tantas os professores até conhecem bem demais essa realidade de pais prontos a chantagear professores com vista a melhores notas – não merecidas, claro – para os seus filhos. E, lá está: sempre me pareceu injusto meter todos os pais no mesmo saco. Os putos egoístas e caprichosos foram fornada de alguém, não é?

I. disse...

Estava aqui a ler a tua resposta à Vanus e deu-me vontade de rir: é que mais que acharem que sou bota-de-elástico, há quem me ache fascista quando digo que filho meu não teria computador no quarto (até ter idade para precisar mesmo do dito para os estudos), nem TV ou DVD. Para mim estes electrodomésticos são como o fogão e máquina de lavar, para uso doméstico e comunitário :D
E também acredito em horas para o ó-ó. Principalmente para mim, que sou dorminhoca ;)
Nem imaginas os olhares que me mandam, e as bocas do "quando fores mãe logo vês". É o vês, que não quero ser mãe. Mas quem via eram os miúdos, olaré, que se não andassem na linha iam para o colégio militar (ok, já estou a gozar).
A cena do peer pressure, e da cedência dos pais, que não querem que o filho tenha menos que o coleguinha de escola, dá-me arrepios. É só dinheiro, gasta-se e já está. O resto, que é bom, não há pilim que o pague. E disso, os miúdos têm a menos.
E vejo gente à minha volta a sucumbir a esta sabujice do dar-dar-dar... e fico doida. Já assististe a aniversários de crianças nos dias de hoje? O horror de prendas que oferecem uns aos outros, para não ficarem atrás e pensarem que são pelintras, que se calhar até são? A obrigação de levar bolo para a festa na escola, para a festa com a família, e na festa com os amigos, oferecer saquinhos de doces aos convidados, que já o foram mediante convites todos pipis comprados na papelaria. Geeee. Faz-lhe as contas!

Pronto, vou-me calar, que tenho que ir trabalhar ;)

Hipatia disse...

Mesmo não tendo filhos, conheço demasiadas pessoas que os têm e até considero que a grande maioria está a fazer um excelente trabalho na educação dos filhos. Por isso há uma coisa que te garanto: não existe TV comunitária desde que inventaram o Canal Panda e afins; DVD muito menos à conta dos filmes infantis. E na maioria dos lares só vence a vontade dos putos um bom derby de futebol e isso é porque é só de longe a longe :D

Anónimo disse...

Mais Vozes

há coisas que não se compreendem... acho que isto é mais uma daquelas notícias que surgem para nos fazer parar para pensar (espero eu)...
fábula | | Email | Homepage | 03.17.08 - 12:25 pm | #

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Esta é uma notícia tipo cortina de fumo. Não vai dar em nada mas, no entretanto, fará correr muita tinta
Hipatia | | Email | Homepage | 03.17.08 - 8:11 pm | #