2014-12-30

Bom Ano!



É que parece que este, de tão má memória, não quer partir. 

Eu ainda fui a tempo de me partir toda antes de brindar a 2015 :(


2014-12-22

A minha avó morreu há um mês

(Este repost é para ela)


E, sim, era como um suspiro esta coisa de lhe bordejar a porta pela noitinha e tentar ainda sentir o cheiro a leite-creme queimado com um velho ferro de passar a ferro. Como no tempo em que nos abria a porta de mansinho, puxando o nagalho ao cimo da escada que destrancava a velha fechadura enferrujada. Ou de quando lhe saltávamos ao quintal atrás dos magnórios e das peras e ela fazia de conta que não sabia que estávamos lá. Ou de quando nos contava histórias do fantasma que habitava a casa, morava lá no sótão e só descia pelas vésperas para ajudar a pôr a prece em dia. Ou então de como tinha sido o tempo em que ali havia uma família e gente que se beijava e abraçava pelo correr das horas, enquanto pelos velhos corredores ainda havia passos pequeninos a dizer que a vida havia de continuar para além das vidas que partiam. Ou de quando enfim deixou de poder estar sozinha e afinal parecia que já ninguém tinha espaço para ela e como foi mirrando ao cimo das escadas, à espera que pela noitinha alguém viesse espreitar-lhe as cores e o estado e as maleitas. E depois, quando partimos a estudar longe e já ninguém lhe bordejava a porta, deixou-se ficar cada vez mais sozinha e já nem o velho fantasma lhe fazia companhia nas ladainhas. Morreu sozinha ao cimo das escadas, amparando a solidão de tia velha. E foi quando ela nos faltou que a casa pareceu pesar-nos uma tonelada de mágoas e já pouco importa que seja nossa. Era nossa antes, quando ela lá estava, com os seus fantasmas e as suas histórias. Agora é uma casa que nos tem, mas onde não pertencemos. A casa que herdamos, mas não merecemos. E mesmo quando puxamos o nagalho ao cimo da velha escada rangente para deixar que a porta se abra, ainda assim a escada queixa-se como se nos dissesse que não somos de lá. E é por isso que voltamos a fazer leite-creme queimado – que nunca vai saber ao mesmo – e replantamos a nespereira e a pereira do jardim. Mas até os frutos sabem diferente. E não há vésperas, claro: nenhum de nós aprendeu a rezar de forma a que até os fantasmas nos seguissem as preces. E a tia-avó partiu e não deixou fantasma. E mesmo que haja gente pela casa, no 52 já ninguém mora.

2014-11-09

Três tempos da memória



25 anos! 

A História - a verdadeira - é feita de gente anónima, gente vulgar, gente capaz de pequenos gestos de heroísmo, gente que vira as costas, gente apanhada num turbilhão que não entende, gente que sobrevive, gente que morre, gente que mata, gente que faz a festa. 

No tempo de uma geração, podemos ser tudo. Num Outubro de há 25 anos fomos gente anónima na rua a fazer a festa por entre os escombros de um muro que ruía. 

Será que ainda nos lembramos o que era viver naquele mundo em que uma parede era mais uma ferida aberta do que uma cicatriz? O que foi viver aqueles tempos de euforia e como tão rapidamente toda a esperança foi comida pela realidade? 

O Muro de Berlim tem três tempos na minha memória: um tempo em que existia e dividia; um segundo momento, muito breve, de fé e exuberância quando foi derrubado e me fez acreditar num futuro brilhante em que tudo seria possível; e este momento de agora, onde já fica resumido a mais um velho símbolo de uma fé ingénua que só fui capaz de ter brevemente, muito brevemente, na minha pequena história de vida cheia de ruínas e símbolos soçobrados.

2014-10-28

Prioridades



Ontem, entre várias opções para reportar, havia eleições na Tunísia, Uruguai, Ucrânia e Brasil, testes de stress dos bancos europeus e outras notícias de economia com impacto no nosso bolso, política interna portuguesa, crimes vários. Mas, para a RTP e a TVI, a notícia que mereceu o destaque de abrir o noticiário das 08:00h foi... a derrota do Benfica frente ao Braga. Estamos conversados quanto a prioridades. Pão e circo!

2014-09-02

Terror

Si pour le bestial tu chasses l’animal.

Vitor Hugo - Bêtise de la Guerre

Há coisas que não deviam ser para consumo massificado. A morte, certamente, merecia maior pudor. E pergunto-me onde dizemos isto é notícia e assim a aceitamos e onde percebemos que há um tipo de terrorismo perpetrado por alucinados que só existe porque tem tempo de antena.

2014-08-28

Está de chuva...


Tenho andado para aqui a queixar-me, muito ou pouco, não importa agora. Mas a queixar-me, ainda assim. Há também um ar de desmaio em quase tudo o que escrevo e, quando sinto assim as palavras queixosas, melancólicas e abatidas, tendo a encolhê-las, desarmando a exposição prolongada ao seu feitiço. 

É que estas coisas das palavras apenas, especialmente por esta altura, deixam-me um travo tristonho nos sorrisos. Como sempre, sinto tudo demasiado pouco, sôfrega que sou de pedir o sol para ver se me calha a lua. Não queria só palavras. Queria quem as diz e as escreve, mas foi tudo a banhos. E queria que o Porto não me parecesse tão longe de sítio nenhum, tão longe dos meus sítios, que são, essencialmente, os meus afectos. 

E, sim, eu acredito mesmo que nenhum de nós é uma ilha e, hoje, sinto como se eu fosse só o farol perdido na extremidade mais distante da ilha mais longínqua do arquipélago mais remoto. Tão longe, mas tão longe, que nem cá chega o sol deste Agosto enevoado.

2014-08-03

Dos silêncios

Hoje não me apetece escrever. Tenho uma música a tocar baixinho, um cigarro entre os dedos e mil e umas futilidades a bailarem-me no pensamento. Não é que não me apeteça escrever, no sentido de dar respostas. Isso já fiz hoje. Muito. Quantas vezes me interpelaram. Tanto que talvez tenha esgotado as palavras por hoje. Ou, se calhar, só não me apetece escrever sobre futilidades enquanto, baixinho, toca esta música. Mas também não é bem só dar respostas. Porque também não me apetece fazer perguntas. Talvez seja mesmo da música que, aqui ao lado, vai tocando baixinho. Enche-me de paz, de espaço. Leva-me em ondas, faz-me beijar praias de silêncios e harmonia. Toca baixinho uma música, sem futilidades. Baixinho, baixinho. Quase em silêncio. No silêncio onde, depois disto, vou depor por hoje as palavras.

Escrevi (publiquei, pelo menos) este texto às 19:59h do dia 16 de Setembro de 2004, quando chegava a casa e escrever era um refúgio, antes de perder realmente a vontade de escrever e depor por dias as fio as palavras.

A que vem agora a isto? A um artigo que li. Deixo o link. E pergunto-me quantos deram conta como, ao fim de anos e anos sem resistir a uma página branca, as palavras me são tão escassas ultimamente. Afinal, estou aqui como sempre estive, não desapareci com as tais palavras que me comandavam as rotinas. Anos de palavras, tantas: primeiro em chats, depois em fóruns, o blogue ainda meio vivo que teimo em não alimentar e que faz este mês mais um ano, agora o FB e talvez um dia destes outra coisa qualquer quando o FB me irritar definitivamente com a forma intrusiva como quer comandar as minhas palavras, apropriar-se delas e, junto, levar de vez a reserva com vivo a minha vida.

Reserva? Reserva, sim. Por mais que durante tanto tempo tenha exposto se calhar demais em textos e textos que continuam online para quem os souber encontrar. Reserva no FB mais ainda, por me ser desconfortável a rotina bigbrotheriana do que estás a fazer, em que estás a pensar, os gatinhos são lindos e os memes para partilhar.

Talvez a maioria das pessoas que me conhece não tenha dúvidas em classificar-me como extrovertida. Afinal, não tenho quaisquer problemas aparentes em conhecer pessoas novas, entabular conversas, conseguir algumas gargalhadas e, deixar, no fim, o outro perfeitamente à vontade comigo e com a situação. E não sou tímida, nunca fui. Nem tenho papas na língua e posso, quando quero, possuir uma candura e uma franqueza desarmantes, por vezes brutais.

Mas talvez vista demasiado bem cada um dos pontos do tal artigo de que deixo o link; talvez por isso tenha a certeza que conheço muita gente, mas muito pouca gente me conhece verdadeiramente. E também por esse motivo dar aulas me exauria tão completamente ou todos os dias parece que só ao fim do segundo café consigo ligar o botão do “on” e encarar o dia de trabalho e de sociabilização forçada como mais uma maratona que se escoa até a um entardecer de silêncios e de carregar baterias a sós. Ou tão simplesmente porque não telefono, não gosto de falar ao telefone, estou meses sem pôr conversas em dia e porque sou aparentemente tão desligada das anedotas da vida de pessoas que não sei bem quem são, quem foram, quanto tempo moraram na minha rua e quantos dias partilhei de aulas na escola primária, que esqueci completamente. Ou porque nunca gostei de cliques, claques e tribos, nem tenho uma agenda a rebentar pelas costuras com planos para todos os dias da semana, ou simplesmente porque estar sozinha ou estar só nunca foram a mesma coisa no meu dicionário e a sociabilização forçada, tantas vezes gratuita, tantas vezes sem sentido – a meus olhos, claro! – tem a ver apenas com quando e onde estou disposta a ligar o botão do “on” e fazer parte da festa ou, pelo contrário, ficar um pouco de lado a medir o que se passa, deixando-me levar pela corrente em lugar de precisar estar no meio das ondas, a fazer as ondas, todos os segundos. 

2014-07-09

Telhados de vidro

Ouvi demasiadas piadas de brasileiros a propósito da Selecção. Comi e calei. Depois de ontem,  não chego a ter coragem para fazer piadas com a selecção brasileira e não vou bater mais no ceguinho. Mas não consigo deixar de lembrar a quem tão rápido andou de piada em riste que não se deve cuspir para o ar e num instante a piada do 4 se tranforma na vergonha de um 7. Em casa.

2014-06-10

Horta à janela

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Ah, meu Portugal! 

Ele há dias em que só tenho vontade de atirar tudo para trás das costas, largar a cidade já demasiado grande e partir para uma vida nova, lá onde ainda as águas se abrem em piscinas no meio do rio ou onde um engarrafamento se mede pelos dois carros que resolveram sair à rua à mesma hora. 

Fugir para onde as pessoas ainda vivem em casas e têm quintais e roseiras a colorir a ombreira da porta. Estacionar a minha vida lá de onde toda a gente fugiu e onde eu jurei que saberia ser feliz, houvesse investimento e emprego e mais do que a paisagem. 

Viver no meio da lonjura e ter uma casa branca, com roseiras por baixo das janelas e com ombreiras das portas coloridas e um jardim com uma macieira perfumada e um banco debaixo de um caramanchão florido e uma noite que ainda deixa ver estrelas e onde o barulho é feito apenas de cigarras e grilos, pássaros e árvores balançadas pelo vento, ou algum riacho mais caudaloso. 

Mas os sonhos não enchem barrigas nestes pedaços do País cada vez mais despidos de gente, onde já quase só sobram os velhos e não há esperança na raia fronteiriça do esquecimento. E não posso ir!

2014-06-04

We were watching T.V.

Pergunto-me se Tiananmen é ainda espinho encravado na realidade da propaganda e na realidade que, afinal, veio depois. E penso que talvez os rostos e corpos já tão distantes no tempo e na geografia nunca puderam ser apenas números. Aquela realidade televisionada para que todos vissem nunca deixou que a barbárie fosse apenas um roda-pé na história.

2014-05-25

Voto


Nos tantos anos em que voto, nunca vi as mesas de voto tão vazias. O problema é que quando os moderados acham que já não têm lugar na democracia e que não serve para nada exercer o seu direito e dever cívico, então a democracia acaba refém dos extremistas, os únicos que parecem ainda ter capacidade mobilizadora. E talvez um dia destes acabemos com um Le Pen à frente da Comissão Europeia e um Parlamento Europeu dominado por neo-nazis, deitando enfim por terra o sonho de Schuman e Monnet.

2014-05-24

Amanhã


«to make all men work together, to show them that beyond their divergences or over and above frontiers, they have a common interest.» 

Jean Monnet 

Que fazer se, apesar de tudo e especialmente apesar do agora, eu ainda acredito?

2014-05-20

She lives in a world she didn't choose



There is a woman in Sudan...

Assustam-me os diferentes relatos que vão chegando de sociedades fundamentalistas e o desrespeito crescente pela figura feminina. É um regresso à barbárie com base numa estrutura obstinadamente patriarcal, dogmática e neurótica. Pergunto-me se as mulheres assim acabrunhadas reconhecem ainda que o domínio imposto advém vezes demais do medo e que, necessariamente, tem de haver um reconhecimento de que o sexo da força bruta é, a muitos - demasiados! - níveis o sexo menos evoluído. E, no entanto, até as bestas tiveram mães...

2014-05-08

Há barbaridades e depois há coisas para as quais nem tenho nome!


«Recentemente, mais de 200 raparigas estudantes foram raptadas por um grupo armado na Nigéria para serem vendidas como escravas sexuais, ou a fim de serem forçadas a casar.»

«As autoridades nigerianas precisam de saber que o mundo está solidário com as alunas raptadas e as suas famílias. Juntem-se a nós e exijam a libertação imediata destas crianças e adolescentes.»

Assinar a petição aqui.

2014-05-01

Primeiro de Maio

Hoje, quando parece que o povo de um Maio de há 40 anos está vencido e achincalhado, ponho maias à porta contra o carrapato e outras bestas.

2014-04-25

As portas que Abril abriu

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Talvez os símbolos não sejam pertença nem da direita nem da esquerda e enfeuda-los a este ou aquele pequeno grupo seja apenas mais uma forma de alienar todos quantos não assentaram arraiais partidários. É que os cravos (ainda) são nossos: pela liberdade e democracia que, naquele dia, renasceu; pela liberdade e pela democracia que, depois, sobreviveu ao verão; e, muito especialmente, porque é simplesmente belo imaginar um golpe de estado, depois revolução, em que do lado da revolta o único vermelho era o dos cravos nas espingardas e, não fosse o Carmo, a revolução tinha-se cumprido sem sangue. Depois o sangue acabou por correr, como corre sempre quando há interesses em conflito e o País precisou dizer não à ditadura que se anunciava para substituir a ditadura que partia. Mas em Abril foram cravos rubros de sangue. Afinal, o imaginário é assim que se constrói e hoje é também pelo futuro mirrado, pelo futuro do meu sobrinho que há-de saber como realmente reza a história porque, felizmente, ao contrário da tia, dos pais e dos avós, nasceu em liberdade, uma liberdade que chegou num cravo vermelho-sangue a enfeitar um fuzile.

Qual é a cor da liberdade?



Às Forças Armadas e ao povo de Portugal
«Não hei-de morrer sem saber qual a cor da liberdade»
J. de S.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Quase, quase cinquenta anos
reinaram neste pais,
e conta de tantos danos,
de tantos crimes e enganos,
chegava até à raiz.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Tantos morreram sem ver
o dia do despertar!
Tantos sem poder saber
com que letras escrever,
com que palavras gritar!
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Essa paz de cemitério
toda prisão ou censura,
e o poder feito galdério.
sem limite e sem cautério,
todo embófia e sinecura.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Esses ricos sem vergonha,
esses pobres sem futuro,
essa emigração medonha,
e a tristeza uma peçonha
envenenando o ar puro.
Qual a cor da liberdade?
É verde. verde e vermelha.
Essas guerras de além-mar
gastando as armas e a gente,
esse morrer e matar
sem sinal de se acabar
por politica demente.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Esse perder-se no mundo
o nome de Portugal,
essa amargura sem fundo,
só miséria sem segundo,
só desespero fatal.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Quase, quase cinquenta anos
durou esta eternidade,
numa sombra de gusanos
e em negócios de ciganos,
entre mentira e maldade.
Qual a cor da liberdade?
E verde, verde e vermelha.
Saem tanques para a rua,
sai o povo logo atrás:
estala enfim altiva e nua,
com força que não recua,
a verdade mais veraz.
Qual a cor da liberdade? 

Jorge de Sena - Cntiga de Abril

2014-04-20

40 anos depois












fonte




No FB andam a denunciar fotografias do 24/04/1974 como "violência gráfica". Há algo de profundamente repulsivo na ideia de que, tantos anos depois, ainda há quem não tenha interiorizado a liberdade de expressão e continue na velha senda da censura. Ao mesmo tempo e por mais que me custe, sei que também para estes neo qualquer coisa foi feito aquele dia. Podem denunciar tudo o que quiserem: eu reservo-me a liberdade de os denunciar a eles, sem esquecer que a liberdade é de todos e para todos, sem importar cor, credo ou ideologia, mesmo que, quarenta anos depois, me repulsem alguns subprodutos.

Aproveito, no entanto, para trazer para aqui um outro apelo. Para que não apaguem a memória. Para que esta não se perca. Mesmo e especialmente quando, quarenta anos depois, pretendem associar violência às imagens de um golpe de estado que virou uma revolução quando os cravos foram enfeitar os fuzis. É que a violência, naquele dia, estava entrincheirada e medrosa, não nas ruas.


2014-04-17

RIP Gabriel Garcia Marquez



"Não importa o quê, mas ninguém pode tirar-te as danças que já tiveste"

in Memória das Minhas Putas Tristes

2014-04-16

Dia da voz

«Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.»

António Ramos Rosa

Há em mim um esforço cansado para encontrar na magia de outros a minha voz. Tenho a imaginação a tingir-se de rouquidão e a voz a apagar-se. Estou cansada de mim. Estou cansada de quantos, antes de mim, me roubaram o meu lugar no espaço e no tempo. 

Estou em rota de colisão contra quem me rouba os mitos e os sonhos, quem teoriza a minha sem importância no mundo, no meu mundo. 

Dedilho acordes de memórias banais. Não tenho história. Não tenho reino. O meu Universo é um tecto baixo e as estrelas vão fugindo. E, em dias assim, muito mais do em tantos dos anos em que tive diariamente a voz em fuga, estou muda.

2014-04-11

"Com esta da austeridade, meu senhor nem sequer dá para ir desta pra melhor"



 «Cá se vai andando
c'o a cabeça entre as orelhas»

Obrigatório ler em Abril!

«Estou a voltar a Portugal 40 anos depois do 25 de Abril, do fim da guerra infame, do ridículo império. Já é mau um governo achar que o país é seu, quanto mais que os países dos outros são seus. Todos os impérios são ridículos na medida em que a ilusão de dominar outro é sempre ridícula, antes de se tornar progressivamente criminosa.(...) 

Este prémio é tradicionalmente entregue pelo Presidente da República, cargo agora ocupado por um político, Cavaco Silva, que há 30 anos representa tudo o que associo mais ao salazarismo do que ao 25 de Abril, a começar por essa vil tristeza dos obedientes que dentro de si recalcam um império perdido. 

E fogem ao cara-cara, mantêm-se pela calada. Nada estranho, pois, que este Presidente se faça representar na entrega de um prémio literário. Este mundo não é do seu reino. Estamos no mesmo país, mas o meu país não é o seu país. No país que tenho na cabeça não se anda com a cabeça entre as orelhas, “e cá vamos indo, se deus quiser”.(...) 

Eu gostava de dizer ao actual Presidente da República, aqui representado hoje, que este país não é seu, nem do Governo do seu partido.(...)» 

Alexandra Lucas Coelho - "O meu país não é deste Presidente, nem deste Governo"

É só seguir o link no nome do artigo de opinião.

2014-04-09

Antes e depois do adeus



Em Santa Comba Dão engessaram-me uma vez um pé. E não ficou particularmente bem engessado. Adiante! Porque é mesmo adiante, que ninguém se lembra que existe aquela terra nos dias normais e duvido que alguém sequer se dê ao trabalho de lá ir ver o largo que há uns anos resolveram baptizar de "Salazar". Ficaram para o engravatadinho lá do sítio os seus 15 minutos de fama à conta da polémica que gerou por ter plantando a lápide (lápide até que está giro; lembra-me que o velho das botas está morto e enterrado) a 25/04 no meio de porco assado e música pimba. É que o engravatadinho só o fez porque o velho Salazar já não existe (e como a terra deve estar-lhe a ser bem pesada, quando até já virou estrela de soft-porn nacional! Isso e a lápide em cima). É só mais um largo a que ninguém vai dar importância, como tantos outros largos com tantos outros nomes a que não se dá importância alguma. O que importa é que o velho regime morreu há 4 décadas. E hoje temos engravatadinhos. E esses engravatadinhos é que são os tais que só querem 15 minutos – e nunca terão quase meio século – porque não passam disso mesmo: o que sobrou de uma política que perdeu há muito a utopia e apenas serve para gerir os interesses da classe. E dos engravatadinhos.

2014-04-08

Ciclos

fonte

Gosto de acreditar que só aquilo que não prendemos um dia decide voltar para nós.

2014-04-07

Astenia



E vai-se levando a vida, a coleccionar mais cicatrizes e sonhos roubados, a rotina instalada como um nevoeiro que nem sequer escapa por lhe chamarmos apenas neblina.

(...)

2014-03-21

Apre!


Como se não bastasse ter chegado a cartinha do IMI, ainda vou ter de calçar o carro. O bichinho bem que podia ter deixado passar a crise para resolver ficar pé descalço :(

2014-02-20

Apre!



O melhor comentário que alguma vez vi sobre o assunto foi de um católico praticante, profundamente irritado com um qualquer absurdo que tinha sido afirmado na RR. Lembrava - e com razão - que Jesus Cristo é filho de 2 pais e de uma mãe solteira. E, pronto, acho que está tudo dito, não é? A questão deve ser só e apenas quantos pais (ou mães) uma criança pode ter ou se precisa ficar condenada à velha moda do Estado Novo a ter um asterisco no sítio reservado à filiação. A orientação sexual não devia ter rigorosamente nada a ver com o assunto. Ou vão buscar as crianças uma a uma às casas onde elas já vivem com dois pais ou duas mães? É que as crianças já lá estão, já têm dois pais ou duas mães. Esconder debaixo do tapete não resolve rigorosamente nada. Nunca resolveu.

2014-02-17

Talvez



2014-02-12

Sochi 2014 e a polémica LGBT



Esta foi a resposta publicitária da Noruega mas, para mim, a melhor resposta está nos comentários do vídeo: um uruguaio lembra simplesmente aos russos que, apesar de no Uruguai o casamento homossexual ser possível, nem por isso o número de homossexuais disparou; passou apenas a haver uma comunidade gay muito mais feliz.

2014-02-11

Entropia

Wise Up by Aimee Mann on Grooveshark

Não, não sinto que invista o suficiente no que é necessário mudar. Porque há dias em que estou tão cansada que não tenho vontade de nada. Porque nunca vai chegar seja o que for. E não tenho voz suficiente para fazer a diferença, ou sequer empenho: há sempre um fim do mês à porta e a prestação da casa e a crise e o dinheiro cada vez mais curto e o trânsito e o que vai ser para o jantar e o arranjar o tempo suficiente para abraçar quem quero e o continuar a empilhar os livros que quero ler e os filmes que quero ver e... Sou um umbigo, na maioria dos dias. Não sobra muito espaço para o outro. Na realidade, em muitos dias já nem sequer sobra muito tempo para mim.

"The Day We Fight Back"


TODAY, FEBRUARY 11TH, 2014 
IS THE DAY WE FIGHT BACK 
AGAINST MASS SURVEILLANCE

Thousands of Websites are Protesting Surveillance. 
Reddit, Mozilla, Tumblr, Imgur, and over 6,000 other websites are protesting NSA surveillance. 
Join them.

Assine a petição!

2014-01-20

(...)

2014-01-09

Panteão Nacional




Agora que tanto se fala no Panteão Nacional a propósito de Eusébio (e sendo que presença de um não negue qualquer direito a outro), surgiu uma petição para que alguém lembre e (finalmente) honre o eterno esquecido deste país: Aristides de Sousa Mendes. Provavelmente não servirá para nada assinar. Mas a memória do homem que foi merece-nos o pequeno esforço de acrescentar o nosso nome, não para chegar aos 10000 de assinaturas necessárias para que o pedido chegue à Presidência da República, antes para ultrapassar em muito esse número, pelo respeito mais do que devido a uma figura ímpar da história nacional. Sigam o link percam 10 segundos. Não custa nada!