2025-11-30
A Odisseia de André Ventura no Reino Metafísico da Direita Absolutamente Absoluta
2025-11-28
2025-11-27
2025-11-26
Ego
Enquanto posavam para as câmaras - Trump com o polegar no ar, Cristiano com aquele sorriso de quem acabou de marcar na própria mente - o mundo assistia fascinado a este encontro de titãs da autopromoção. Dois homens que nunca conheceram um espelho que não gostassem, unidos pela certeza inabalável de que são o centro do universo.
No fim, Trump ofereceu a Cristiano uma chave dourada da Casa Branca. CR7 retribuiu com uma camisola autografada da Seleção. Ambos fingiram que era exatamente o que sempre quiseram, quando na verdade queriam apenas mais atenção mediática.
E assim terminou este encontro histórico: com dois homens convencidos de que salvaram o mundo, quando na realidade apenas nos deram mais conteúdo para memes.
2025-11-25
2025-11-23
Mercado de Natal
Cheguei ao Luxemburgo e o frio recebeu-me como quem reencontra um velho inimigo: braços abertos, estalidos nos ossos e um “bem-vindo” dito em corrente de ar. Saí do avião com aquela confiança portuense — “nah, eu aguento” — e em três segundos já estava a arrepender-me de todas as decisões que me trouxeram até aqui, incluindo ter confiado no meu casaco, que no Porto era de inverno e aqui é basicamente um lençol com mangas.
No Porto estava fresco; aqui é climatizado por pinguins. Cada passo na rua é um lembrete de que o meu nariz não foi desenhado para estas latitudes. Até a respiração parece que vem em modo gelado, tipo ar condicionado no máximo e sem autorização. E quando entras em qualquer lado, estás subitamente a jogar à macaca em cima da linha do equador.
Mas enfim — frio ou não, cheguei. Agora resta é descongelar lentamente e tentar convencer o meu corpo de que também sabe sobreviver fora do clima ameno de Portugal.
2025-11-20
Café
Acordei hoje com a chávena a chorar por dentro. Não era drama — era falta de café mesmo, essa desgraça líquida que, quando falta, põe a alma a chiar como porta velha. Fui à cozinha com a esperança de quem procura redenção num pacote de bolachas, mas a lata do café devolveu-me apenas um suspiro metálico, desses que anunciam o fim dos tempos ou pelo menos o fim da manhã.
E lá fiquei, a olhar para a cafeteira vazia como quem contempla um romance impossível. O mundo continuava, claro. Os pássaros chilreavam, os vizinhos discutiam por ninharias, o correio trazia contas — mas eu, sem café, era apenas uma cidadã diminuída, um ser em modo de rascunho.
Prometi a mim mesma que amanhã farei uma peregrinação ao supermercado, talvez até de mangas arregaçadas, como quem assume um destino épico. Porque ninguém merece enfrentar a realidade assim, sem grãos infusionados a emprestar coragem ao sangue.
Até lá, sobrevivo. Mas que se saiba: não é vida. É interlúdio
