2006-02-14

Aos meus amores


aqui


Do P. recordo como me beijava no pescoço. Do A. recordo como me beijava toda. Do P. recordo como se deixava beijar. Do A. lembro como custou não beijar mais. Do J. recordo a meiguice e do M. recordo o mimo. Do J. a distância; do P. a necessidade de ninho. De outro P. não sei o que não lembrar...

São a minha história. Amei cada um deles, ou fui amada, nem sempre bem, nem sempre como mereciam ou eu merecia. Há dias em que tenho saudades de todos. Há dias em que desejaria ser um bonecreiro e juntar cada uma das partes que gostava em cada um deles e deitar fora tudo o resto. Nos outros dias, nada lamento. Aos que amei, só o fiz porque não eram perfeitos; os que me amaram, só não foi diferente porque não sou perfeita.

E sou uma felizarda! Tenho muita sorte em ter conhecido cada um deles, de chamar ainda amigo a tantos. É que, se são a minha história, são também a minha vida. E, ainda que tantos digam que é preciso deitar fora o velho para construir um novo caminho, eu prefiro guardar na memória tudo: o que doeu e o que deu prazer; o bom e o mau; as lágrimas e as gargalhadas; as tristezas, os lutos, as agonias em prazer ou dor, cada beijo...

Sou feita de carne e histórias. Se me amputam a memória, dissolvo-me como poeira no vento. E fico vazia. E não quero ficar vazia. Quero recordar sempre, transformar cada pessoa que partilhou o meu caminho no repositório da minha história. E, então, serão eternos. Como eu serei eterna. Não acreditando em qualquer vida para além desta, resta-me desejar a eternidade possível que se preserva na memória dos outros. Como preservo a eternidade de cada um na minha memória. E estão sempre vivos. Sempre!

Aos meus amores... tchim, tchim!

11 comentários:

deep disse...

Somos, como dizes, ou sugeres, o somatório das nossas vivências, do bom e do mau e com e com o outro aprendemos. Do "velho" se faz novo...

sofia. disse...

"Se me amputam a memória, dissolvo-me como poeira no vento."
Tão bonito Hipatia!

SoNosCredita disse...

A nossa memória é mesmo um tesouro... talvez o único.
Por isso, também concordo que deva ser preservada.
Claro que é preferível recordar as coisas boas.
Mas é recordando e reflectindo sobre as más que conseguimos ir avançando, crescendo, aprendendo, amadurecendo... :)

Hipatia disse...

Claro, Deep. É como dizia o Ortega: somos sempre nós e as nossas circunstâncias :)

Hipatia disse...

Obrigada, Sofia :)

Hipatia disse...

A nossa memória é sempre profundamente selectiva, não é, SóNosCredita? E, como qualquer bom optimista, eu facilmente selecciono apenas as coisas boas, na velha lógica do copo sempre meio cheio e nunca meio vazio ;-)

jp(JoanaPestana) disse...

aos teus amores e a ti, tchim...tchim!!

Hipatia disse...

Obrigada, JP :)

Miguel Horta disse...

Como preservo a identidade de cada UMA...
Serve como resposta, Hip?

Hipatia disse...

Serve sim, Gaivina :)

Hipatia disse...

Mais Vozes

Como é bom conseguir-mos conservar na memória as nossas histórias, sejam elas boas ou más.
Brindo contigo tchim, tchim!
cruzeiro do tejo | Homepage | 02.15.06 - 1:40 pm | #

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A amnésia sempre me assustou, Cruzeiro. E lamento todos quantos a fomentam. Só somos o hoje porque tivemos um ontem e só assim saberemos fazer um amanhã
Hipatia | Homepage | 02.15.06 - 1:57 pm | #

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A ti, obrigada por partilhares as tuas memórias. Tchim. Tchim.
Folha de Chá | Homepage | 02.15.06 - 5:39 pm | #

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Obrigada, Folha de Chá
Hipatia | 02.15.06 - 5:57 pm | #