Monica Sjöö - Mother Earth in pain...
Sou pagã no meu afecto pela nossa Terra, mãe suprema e dolorida. É, talvez, o culto que não sei ter a outros deuses. É o oráculo a que presto vassalagem sem revoltas, mesmo quando a agrido.
E, nos dias em que Maio vai chegando com os seus cheiros a flores e a frutos maduros, escuto o seu ventre borbulhante de vida e afasto os seus cabelos feitos ramos, enquanto dou as voltas deleitosas que o frio me impede de saborear.
Lá no alto, andorinhas procuravam os beirais depois de matarem a sede do fim da tarde, no tempo escasso de nascer, crescer e partir. Ali ao fundo, as árvores envolvem-me no seu cheiro, enquanto navegam por entre as ondas de vento as finas névoas do pólen-vida. E as flores abrem-se de cores e esperança, renascendo ainda para mais um ano de doçura e este calor que vai chegando, verdejando o horizonte, amadurecendo os odores, reconstruindo a paisagem.
E a Terra, bola redonda de brincar, prenha de vida na sua forma feminina, arredondada de promessas, faz-me tecer os sonhos das suas vestes de mar azul e algodão branco, enquanto alongo os meus desejos nos ocres e nos verdes dos seus ais. Corpo de fartura, avara promessa de vida. Aqui. Só ainda está aqui. E, a cada dia que passa, mais pequeno o respeito que lhe temos; cada vez mais fartas as dores que lhe impomos.
Lá no alto, parecem-me cada vez menos as andorinhas que chegam. Lá ao longe, suspeito de mais queimadas que impomos a este ventre que nos sustenta. Lá, no futuro, suspeito que a Mãe Terra se revoltará numa dor irada contra estes seus filhos que tanto a maltratam…
Saio para a rua e vou aproveitar a Primavera, enquanto a Primavera ainda chega.
E, nos dias em que Maio vai chegando com os seus cheiros a flores e a frutos maduros, escuto o seu ventre borbulhante de vida e afasto os seus cabelos feitos ramos, enquanto dou as voltas deleitosas que o frio me impede de saborear.
Lá no alto, andorinhas procuravam os beirais depois de matarem a sede do fim da tarde, no tempo escasso de nascer, crescer e partir. Ali ao fundo, as árvores envolvem-me no seu cheiro, enquanto navegam por entre as ondas de vento as finas névoas do pólen-vida. E as flores abrem-se de cores e esperança, renascendo ainda para mais um ano de doçura e este calor que vai chegando, verdejando o horizonte, amadurecendo os odores, reconstruindo a paisagem.
E a Terra, bola redonda de brincar, prenha de vida na sua forma feminina, arredondada de promessas, faz-me tecer os sonhos das suas vestes de mar azul e algodão branco, enquanto alongo os meus desejos nos ocres e nos verdes dos seus ais. Corpo de fartura, avara promessa de vida. Aqui. Só ainda está aqui. E, a cada dia que passa, mais pequeno o respeito que lhe temos; cada vez mais fartas as dores que lhe impomos.
Lá no alto, parecem-me cada vez menos as andorinhas que chegam. Lá ao longe, suspeito de mais queimadas que impomos a este ventre que nos sustenta. Lá, no futuro, suspeito que a Mãe Terra se revoltará numa dor irada contra estes seus filhos que tanto a maltratam…
Saio para a rua e vou aproveitar a Primavera, enquanto a Primavera ainda chega.
6 comentários:
Aproveita, sim, que o estado de graça já vai longe.
Futuros maus para quem vai nascendo!
Mas não é só a terra são as leis dos homens, também, e a insustentabilidade generalizada.
Beijos.
É o princípio de "gaia"...Um dia o Planeta revolta-se... Existem muitos sintomas de que assim é....
Há muitos, muitos anos atrás, havia um cartaz na sala onde, durante quatro anos, aprendi as primeiras coisas naquela que, então, se chamava "escola primária". Apelava à defesa do Lince da Malcata, uma das espécies mais ameaçadas de toda a fauna e flora da Península Ibérica. Parece que já não há linces na Malcata. Em Espanha, restam pouquíssimos animais. Anos de apelos de nada serviram. E é assim que me parece acontecer sempre e já nem o desgraçado do roedor endémico da Península está a salvo da mania de construirmos mais e mais estradas. Temo pelo futuro. Ele sempre esteve a prazo, à espera que o Sol virasse uma gigante vermelha e engolisse a Terra. Mas nunca o fim do mundo pareceu tão próximo, pois que mundo será este onde só sobram os homens e as suas obras insustentavelmente pobres?
É sim, Gaivina. E Gaia já chora e já se revolta. Um dia destes já não teremos perdão...
Gostei tanto de ler as tuas palavras. Uma homenagem à Terra Mãe, que merece e que nos pede atenção e carinho, para com todas as suas criaturas. :)
E que, quase sempre, não sabemos acarinhar, não é, Folha de Chá?
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