aquiWhen you're tired of relationships, try a romance.Quentin Tarantino - True RomanceNão consigo prender os meus interesses a fugazes visões de beleza. Esqueço um pôr do sol, por mais belo que seja, excepto se o engalanar de acessórios onde a memória e a beleza, já unos, se cristalizam. O mesmo para uma flor. Ou para uma obra de arte. Ou para uma figura qualquer.
E onde encontro beleza pode não ser belo para olhos alheios. É sempre um instinto, um reconhecimento íntimo. É um relembrar também. Porque podemos sempre adquirir e cultivar gostos, mas há alguns que nos são quase intrínsecos, como se apenas recordássemos o eco desde o mais longínquo de nós, como se Beethoven ainda soasse esfumado para lá das paredes do útero, ou o cérebro recordasse a cara amiga que nos embalava aos três meses de idade.
Eu gosto de olhos intensos, chamejantes. Figuras quase frágeis pejadas de força íntima. Mãos prontas a dedilhar, dedos finos, tendões e veias visíveis. É essa potência provável no corpo feito frágil que me atrai. A força íntima. O indomável. O ser para além do ser físico, torneado, musculado à pressa e em demasia. Gosto de gente onde só encontro defeitos e, no entanto, reunindo-os, encontro uma identidade própria, bela, sublime.
É que eu gosto de defeitos. Menos os olhos tortos e as unhas roídas. Mas gosto de defeitos. Especialmente se o são de forma equilibrada, como que desenhados por medida. Especialmente se a personalidade que transparece é bem mais do que o invólucro, é um todo apelativo.
Talvez por isso goste de cicatrizes. Vejo-as como marcas, mapas, história. Talvez estejam na minha história, lá atrás no tempo que conscientemente já não recordo, mas que enforma até hoje o meu gosto, o meu padrão de beleza.
E talvez por isso goste tanto do Gary Oldman no True Romance.
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(um repost, a propósito de uma conversa com a Claire uns posts lá para baixo)