2006-12-29

Faraway (so close)



Em cima de um móvel no quarto, tenho uma fotografia com dois nicos lindos (tão mais pequenos do que quando os vi pela última vez!) que me põem um sorriso na cara cada vez que me levanto e cada vez que me vou deitar. A marcar o livro que estou a ler – como marcou antes o livro que lia e antes ainda outro e outro – uma fotografia com uma amiga, tirada por outra amiga, num Verão passado lá muito ao Norte, com a Espanha ao virar da esquina.

Na memória, guardo sempre duas micas em cima de uma cadeira à espera das primeiras badaladas do ano novo, enquanto todos os outros se perfilavam ancorados no chão. Já foi há dois anos que nos juntamos para a passagem de ano pela última vez: o ano passado porque não podia ser, este ano porque eu não vou poder ir. Vou mais a sul, estar com alguém de quem existe uma fotografia muito pitoresca – "ele e a manta", poderia chamar-se assim – tirada em casa da minha amiga. Faz parte de uma colecção de momentos, nunca de sabor repetido mas que gosto muito de repetir, numa sala de uma casa tão longe de onde estou sempre e tão perto de onde gosto de estar. É a casa da minha amiga, uma que já foi minha gémea.

Mas não somos gémeas, claro, mesmo que eu goste de pensar que somos uma espécie de irmãs, até quando discutimos e nos zangamos, como só se consegue fazer com quem nos é muito próximo, muito querido. E já nos conhecemos há uma pipa de tempo, bem antes do primeiro encontro num dia já distante de uma Campanhã que já está até diferente, quando celebramos com um abraço apertado a amizade que começou aqui na net. Isto, obviamente, depois dela relevar o facto de eu, antes mesmo de lhe escrever a ela, já trocar palavras com o marido.

A minha amiga tem um feitio do caraças. Deve ser um dos principais motivos porque gosto dela: nunca gostei de gente indelével, sonsa e sem espírito. É maior do que eu um pedaço e a sorte é que os bracinhos não são demasiado violentos. É só preciso tomar atenção aos pedantes, para não voarmos para longe. E imagino-a sempre enfiada em encrencas, mesmo quando não está, o que faz nascer em mim uma mania de me meter onde não sou chamada, o que quase sempre não é boa ideia, porque também tenho um feitio do caraças e uma capacidade inata para a pirotecnia. Mas acabamos quase sempre a rir-nos juntas: de nós, uma da outra, do mundo, das coisas boas e até das coisas tristes. E ainda há, obviamente, os lombinhos com tâmaras que mais ninguém faz igual. E só de estar aqui a escrever sobre isso já nasceu água na minha boca…

A minha amiga – que me conhece tão bem! – sabe como eu ia gostar de estar hoje com ela. Talvez a comer os lombinhos e a beber tinto, chegando depois quase de gatas à cama, bem disposta e com a conversa toda posta em dia. E era o que eu ia fazer: ia sair cedo, meter-me no carro e correr até ao abraço da minha amiga. Ia dar-lhe os parabéns e matar estas saudades. Dar-lhe uma lembrança pequenina que andei a catar com cuidado e ver a felicidade dos nicos com qualquer papel colorido só porque sim, enquanto a nina me perguntava pelo batom e pelo perfume para que o pai endoidasse mais um pouco com as manias coloridas e fedorentas que a bimba do Porto lhe mete na cabeça da cria. Mas depois abríamos outra garrafa e às tantas faríamos até um brinde...

Só que os meus planos saíram todos furados. Não vai poder ser. Não vou poder ir hoje… Mas vou ainda assim – aqui de longe – levantar um copo cansado, desacompanhado, à tua, miga. Pela saúde e pelo contentamento, enrolados em parabéns; pelo novo ano que começa e que tem de ser melhor; e por nós as duas, amigas ainda, apesar de e de e de. À cabeçada, se for preciso. Mas amigas.

Parabéns, Vanus.

15 comentários:

vanus disse...

Mas que caralho, querem ver que vou começar o dia de anos em plena choradeira...

Sabes que quando era chavaleca tive um daqueles gajos com quem se curte assim umas vezes quando se sobra ao fim da noite, que era igual ao Bono, e costumava-me cantar assim umas músicas muito românticas mas, como ele era tão giro (e podre de bom) e um bocado mais velho que eu, nunca me passou pela cabeça que o tipo gostasse de mim. Anos mais tarde vim a descobrir que estava apaixonado por mim (claro, senão não me ia cantar aquelas piroseiras :)), e ainda continuava giro e todo bom.

Acho que apesar do meu feitio do caraças (é verdade, tu bem o podes dizer), acho que essa é uma das minhas poucas qualidades, não tomar nada por certo, nunca esperar que ninguém goste de mim; isso deixa-me mais livre, deixa também os outros mais livres para serem exactamente como são, e eu deixo-os ser.

É assim contigo, também, não espero nada e tudo o que chega tem sempre um valor dobrado, como agora (confesso que estava à espera da fotografia dos anos anteriores LOL); se não viesse nada também não teria importância alguma, porque aos amigos, conhecemos, e a esses deixamos que sejam como são. Pode ser difícil, mas chega-se lá se acharmos que eles valem o esforço :)

Também tenho pena que não venhas, e manda-me um beijo áquele Tarado, diz-lhe que tenho saudades dele.

Obrigada pelas palavras, pela música, por estes anos de amizade

Um abraço daqueles ;)


(pá e vê lá se este ano usas as cuecas certas na passagem de ano, depois não te venhas chorar :D)

Filipa Paramés disse...

Oh pá.. as meninas desulpem, mas vou meter uma colherada!

Muitos parabéns Vanus!

Gosto assim de miúdas tesas com personalidade. E de amizades fortes, de conversas longas e de abraços.

beijinhos às duas!

Maria Arvore disse...

Com amigas assim, Hipatia, podem vir carradas de inimigos que ficam feitos em pó. ;)

E muitos parabéns e um grande dia para a Vanus. Toma lá beijinhos!

José Leite disse...

Parabéns pelo conteúdo...BOM 20071
Bem Hajam!

Anónimo disse...

Bolas, pá, que sentido e lindo post.
Com amigas assim, nunca se está só.

Uma beijoca grande, e uma entrada no novo ano pela porta da frente :)

vanus disse...

Muito obrigada pela parte que me toca nestes comentários :)

Um bom ano para todos.

TheOldMan disse...

Então não se começa o ano?...

;-)

Hipatia disse...

Acreditas que me esqueci das tais cuecas?

Obrigada por seres minha amiga, ora :)

Quanto ao loiro, continua ofendidíssimo com a história do apêndice, lol.

Beijos. Muitos!

Hipatia disse...

Eu também, Filipa. E o teu post de parabéns só não veio porque eu não tinha nenhum computador por perto. Mas espero que te tenhas divertido e que a passagem de ano tenha sido feliz. Beijinhos

Hipatia disse...

Ui! Nem imaginas como tenho até pena das carradas de inimigos se apanhassem com a Vanus virada pela frente, Maria Árvore :)))

Leva o meu primeiro beijo deste ano ;-)

Hipatia disse...

Bom ano, Rouxinol de Bernardim :)

Hipatia disse...

Entraste com o pé direito, I.? E não tropessaste nem nada? Então vais ter um ano estupendo. Eu cá tenho a certeza disso :)) Beijo

Hipatia disse...

Já está, Old Man :)))

Hipatia disse...

(Miga, tenho aqui umas fotografias para ti que acabaram de chegar devolvidas pela hotmail... aquele gmail usa-se ou é só para enfeitar?)

Anónimo disse...

Mais Vozes

gosto desta noção de amizade, qdo as pessoas se zangam cm irmãos, e só quem tem irmãos sabe q há zangas terríveis, mas nunca se deixa de ser irmão, e q bom q é ter uma amiga assim, q mm à cabeçada nunca deixa de ser nossa amiga...
a vida tem destas coisas, às xs estamos distantes das pessoas de quem gostamos em alturas importantes p/nós, mas... spr se poderão encontrar 2007xs em 2007, certo?
fábula | Homepage | 12.29.06 - 12:26 pm | #

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um grande 2007 para ti, que seja um Ano para recordar

beijinhos
cristina | Homepage | 12.30.06 - 3:24 am | #

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Querida, beijos encaracolados naquilo que a vida tiver de melhor ...

Abraços e , muitos !!!!
Caracolinha | Homepage | 12.31.06 - 7:40 pm | #

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Eu não sei ser amiga só pela metade, Fábula. A sorte é que os meus amigos também não

Beijinho
Hipatia | Homepage | 01.02.07 - 8:45 pm | #

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E o mesmo para ti, Cristina. Tudo do melhor! Beijocas
Hipatia | Homepage | 01.02.07 - 8:46 pm | #

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Caracolinha, espero que tenhas começado o ano muito bem e que, daqui para a frente, fique ainda melhor. Beijinhos
Hipatia | Homepage | 01.02.07 - 8:46 pm | #