2008-11-04

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aqui


Já uma vez escrevi – acho que só uma, pelo menos – sobre o que penso destes arremedos de paixão baseados na linguagem binária, neste tipo de romance com um ecrã de permeio e talvez um telecomando para fazer on e off ao sabor das conveniências, nesta forma aparentemente fácil com que se constroem e desconstroem paixões em caixas de comentários, em textos a chamar ao pulo da cueca, em e-mails cheios de ilusórias boas intenções e ainda mais belos sentimentos, nos telefonemas sussurrados em jeito de segredo e, provavelmente, em segredo demasiadas vezes. E eu, que já ando por aqui há demasiado tempo, que já me cruzei com a minha quota-parte de dogs disfarçados, mantenho um cinismo militante e uma descrença conservadora.

Depois, encontro um nome de um
blogue e acho a possibilidade fascinante. Será realmente possível fazer um tratado, ou sequer escrever um relato tão feiticeiro como o do livro onde o autor obviamente se inspirou?

Talvez eu esteja já demasiado cansada, ou demasiado velha, ou demasiado descrente para achar que o amor é fácil, tão fácil como abrir um blogue e povoa-lo de palavras e links. Talvez eu não acredite que bastam cliques ou pageviews, ou demasiadas palavras. Ou talvez me seja já só possível querer e compreender o amor naquele lugar distante onde se dilui a completude da palavra, povoado apenas pelos silêncios cúmplices. E esse lugar mágico nunca o encontro – nem quero encontrar – num recanto da net cheio de 0 e de 1 e de vazio.

6 comentários:

Carlos Gil disse...

a Internet veio como pasto ideal para animais solitários correrem de crinas ao vento. como na savana há predadores. como nas multidões, afinal. os O's e os 1's permitem usar as palavras como imagens trabalhadas. também antes de sair à rua seja para ir jobar seja para um 'date' penteámo-nos e vemos se a camisa não tem os botões desalinhados ao apertá-los.
afinal também aqui há similitudes com a 'real' se se falar de boa-fé - e sem ela é o vazio que se sabe, colecções de desilusões. vendedores de banha-da-cobra pululam em todas as esquinas.

defendida a dama-net neste parêntese que senti como (meu) impulso de deixar "testemunho", acrescento que na essência do post subscrevo-o em todos os tais 0's e 1's, linguagem binária que se cria encontros também é pródiga no seu adverso. enfim, subscrevo até ao ponto final, que há alturas em que binariamente ou cara-a-cara há mesmo que dizê-lo. mais a mais quando se espremem históricos e o que pinga é... palavras e espelhos, retoque aqui retoque acolá.
é como o azeite: vem sempre ao de cima. às vezes demora é um cadito...

outro post para memorizar. não leias como elogio momentâneo e filho deste post e sua leitura mas mais uma vez ler-te os teus 0's e os 1's é sentir que devo deixar uma palavra: parabéns. escrever "bem" é isto. berloques todos sabemos fazê-los e a blogosfera, o messenger, as caixas de correio, são feiras de artesanato manuseado com carinho e vontades de correr "crinas ao vento" lado a lado com tascos de venda de banha-da-cobra, outros saberes predadores, más escolas para mais crostas na pele e chumbos na matéria dada, não evolução e continuidade de 0's e 1's verdadeiros.
igual às multidões. no bom e no mau. só mais cuidado, "aqui".

Hipatia disse...

Para merecer um comentário destes, devo ter feito mesmo qualquer coisa bem :) E tudo a propósito de um nome de um blogue, já viste? Às tantas apenas me contradigo, que também ando bem presa a estes 0 e 1.

(Obrigada pelo elogio, que eu bem o li ali exagerado :*)

Maria Arvore disse...

Talvez porque sempre gostei de matemática, bem como de computadores desde os míticos anos oitenta e porque julgo que o amor se constrói em qualquer lado parece-me que tal pode acontecer no mundo real ou na net. Porque as pessoas são as mesmas e transpõem para a net todos os seus defeitos e virtudes.

Agora se a queca é fácil o amor é que já não é. ;) Na blogoesfera costuma ser mais difícil a sobrevivência de um blogue colectivo do que um individual. Tal como na vida real é mais difícil encontrar o par de cumplicidade e partilha que constrói o amor.

Hipatia disse...

Não, o amor nunca é fácil. Mas será que parece mais fácil o amor nos tempos da blogosfera?

E não sei se as pessoas são realmente as mesmas. Até podem ser, mas há uma ilusão de liberdade que faz com que muitas percam todos os limites.

Maria Arvore disse...

Não julgo que o amor seja mais fácil nos tempos da blogoesfera. Apenas porque desde que esta nasceu a maioria das pessoas está demasiado ocupada a trabalhar e a chegar a casa e conformada com uma mentalidade socialmente aceite cada vez mais individualista. ;)

E depois também me parece que as pessoas se revelam nas situações-limite e a blogoesfera, para o melhor e para o pior, permite revelar quem elas são... mais rapidamente. ;)

Mas eu sou suspeita que nunca me consegui apaixonar por ninguém sem ver primeiro como escrevia.;)

Hipatia disse...

Ah! E eu nunca fui capaz de me apaixonar verdadeiramente sem olhar olhos nos olhos alguém ou ouvir a gargalhada :) Mas, sim, suponho que ao fim de uns tempos a ler alguém, se consegue perceber como funcionam os neurónios e a que estímulos reagem e não há nada mais sedutor que um cérebro ágil e desempoeirado, especialmente se está no mesmo “comprimento de onda” que o nosso.