aqui
Já uma vez escrevi – acho que só uma, pelo menos – sobre o que penso destes arremedos de paixão baseados na linguagem binária, neste tipo de romance com um ecrã de permeio e talvez um telecomando para fazer on e off ao sabor das conveniências, nesta forma aparentemente fácil com que se constroem e desconstroem paixões em caixas de comentários, em textos a chamar ao pulo da cueca, em e-mails cheios de ilusórias boas intenções e ainda mais belos sentimentos, nos telefonemas sussurrados em jeito de segredo e, provavelmente, em segredo demasiadas vezes. E eu, que já ando por aqui há demasiado tempo, que já me cruzei com a minha quota-parte de dogs disfarçados, mantenho um cinismo militante e uma descrença conservadora.
Depois, encontro um nome de um blogue e acho a possibilidade fascinante. Será realmente possível fazer um tratado, ou sequer escrever um relato tão feiticeiro como o do livro onde o autor obviamente se inspirou?
Talvez eu esteja já demasiado cansada, ou demasiado velha, ou demasiado descrente para achar que o amor é fácil, tão fácil como abrir um blogue e povoa-lo de palavras e links. Talvez eu não acredite que bastam cliques ou pageviews, ou demasiadas palavras. Ou talvez me seja já só possível querer e compreender o amor naquele lugar distante onde se dilui a completude da palavra, povoado apenas pelos silêncios cúmplices. E esse lugar mágico nunca o encontro – nem quero encontrar – num recanto da net cheio de 0 e de 1 e de vazio.
Depois, encontro um nome de um blogue e acho a possibilidade fascinante. Será realmente possível fazer um tratado, ou sequer escrever um relato tão feiticeiro como o do livro onde o autor obviamente se inspirou?
Talvez eu esteja já demasiado cansada, ou demasiado velha, ou demasiado descrente para achar que o amor é fácil, tão fácil como abrir um blogue e povoa-lo de palavras e links. Talvez eu não acredite que bastam cliques ou pageviews, ou demasiadas palavras. Ou talvez me seja já só possível querer e compreender o amor naquele lugar distante onde se dilui a completude da palavra, povoado apenas pelos silêncios cúmplices. E esse lugar mágico nunca o encontro – nem quero encontrar – num recanto da net cheio de 0 e de 1 e de vazio.
6 comentários:
a Internet veio como pasto ideal para animais solitários correrem de crinas ao vento. como na savana há predadores. como nas multidões, afinal. os O's e os 1's permitem usar as palavras como imagens trabalhadas. também antes de sair à rua seja para ir jobar seja para um 'date' penteámo-nos e vemos se a camisa não tem os botões desalinhados ao apertá-los.
afinal também aqui há similitudes com a 'real' se se falar de boa-fé - e sem ela é o vazio que se sabe, colecções de desilusões. vendedores de banha-da-cobra pululam em todas as esquinas.
defendida a dama-net neste parêntese que senti como (meu) impulso de deixar "testemunho", acrescento que na essência do post subscrevo-o em todos os tais 0's e 1's, linguagem binária que se cria encontros também é pródiga no seu adverso. enfim, subscrevo até ao ponto final, que há alturas em que binariamente ou cara-a-cara há mesmo que dizê-lo. mais a mais quando se espremem históricos e o que pinga é... palavras e espelhos, retoque aqui retoque acolá.
é como o azeite: vem sempre ao de cima. às vezes demora é um cadito...
outro post para memorizar. não leias como elogio momentâneo e filho deste post e sua leitura mas mais uma vez ler-te os teus 0's e os 1's é sentir que devo deixar uma palavra: parabéns. escrever "bem" é isto. berloques todos sabemos fazê-los e a blogosfera, o messenger, as caixas de correio, são feiras de artesanato manuseado com carinho e vontades de correr "crinas ao vento" lado a lado com tascos de venda de banha-da-cobra, outros saberes predadores, más escolas para mais crostas na pele e chumbos na matéria dada, não evolução e continuidade de 0's e 1's verdadeiros.
igual às multidões. no bom e no mau. só mais cuidado, "aqui".
Para merecer um comentário destes, devo ter feito mesmo qualquer coisa bem :) E tudo a propósito de um nome de um blogue, já viste? Às tantas apenas me contradigo, que também ando bem presa a estes 0 e 1.
(Obrigada pelo elogio, que eu bem o li ali exagerado :*)
Talvez porque sempre gostei de matemática, bem como de computadores desde os míticos anos oitenta e porque julgo que o amor se constrói em qualquer lado parece-me que tal pode acontecer no mundo real ou na net. Porque as pessoas são as mesmas e transpõem para a net todos os seus defeitos e virtudes.
Agora se a queca é fácil o amor é que já não é. ;) Na blogoesfera costuma ser mais difícil a sobrevivência de um blogue colectivo do que um individual. Tal como na vida real é mais difícil encontrar o par de cumplicidade e partilha que constrói o amor.
Não, o amor nunca é fácil. Mas será que parece mais fácil o amor nos tempos da blogosfera?
E não sei se as pessoas são realmente as mesmas. Até podem ser, mas há uma ilusão de liberdade que faz com que muitas percam todos os limites.
Não julgo que o amor seja mais fácil nos tempos da blogoesfera. Apenas porque desde que esta nasceu a maioria das pessoas está demasiado ocupada a trabalhar e a chegar a casa e conformada com uma mentalidade socialmente aceite cada vez mais individualista. ;)
E depois também me parece que as pessoas se revelam nas situações-limite e a blogoesfera, para o melhor e para o pior, permite revelar quem elas são... mais rapidamente. ;)
Mas eu sou suspeita que nunca me consegui apaixonar por ninguém sem ver primeiro como escrevia.;)
Ah! E eu nunca fui capaz de me apaixonar verdadeiramente sem olhar olhos nos olhos alguém ou ouvir a gargalhada :) Mas, sim, suponho que ao fim de uns tempos a ler alguém, se consegue perceber como funcionam os neurónios e a que estímulos reagem e não há nada mais sedutor que um cérebro ágil e desempoeirado, especialmente se está no mesmo “comprimento de onda” que o nosso.
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