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Talvez o meu mal – ou o meu bem, que vai depender sempre da perspectiva – é ter passado a minha adolescência a ouvir coisas que, para muitos, não passavam de ruído. “Hör mit schmerz” (ouvir com dor) era uma opção, sentida, entranhada, onde a pop industrial berlinense encaixava, a par de nomes como um sempre presente Nick Cave ou uma Diamanda Galas, ou até mesmo as profundamente doloridas Vozes Búlgaras, de um folclore que não o era apenas. Não para mim, pelo menos.
De então para cá, tenho seguido, nem sempre de forma muito fiel, os nomes dessa adolescência cada vez mais longínqua, assumindo a evolução dos músicos como um amadurecimento, tal e qual o que me ia acontecendo a mim, ao meu gosto, ao que me apetece sempre ouvir. Blixa Bargeld continua a ser uma referência. Como não? Pois se anda o dedinho dele, a par com o de Nick Cave, na banda sonora do Der Himmel über Berlin, de Wim Wenders. E eu sou fã desse filme, da sua banda sonora, de tudo o que me faz sentir de cada vez que o revejo.
Dos Einstürzende Neubauten retenho também até hoje o nome de Alexander Hacke. Perdi-lhe o rasto por uns tempos, reencontro-o agora, junto com os Tiger Lillies, num projecto arrojado, misturando imagens e sons, voltando a colar o electrónico ao pessoal, ao humor, ao espectáculo pleno.
E é assim que, hoje, a convite da Cota Marada, sigo para Serralves à espera de magia. Estou certa que acontecerá. Já não há uma audição dolorida de uma música estranha. Mas suspeito que não acabou a dor. Apenas se transformou em algo mais. Mais adulto, talvez. Menos crua, num cabaret do macabro. É que já não somos os mesmos, depois de duas décadas. E já nada pode ser tão a preto e branco. É por isso que vou à espera que este fim de férias e de domingo se vista de cor e luzes. E música, claro.
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Adenda:
Nem encomendado tinha sido melhor. E até o tempo – noite magnífica – esteve do lado da festa. Espectacular!
E ver Adrian Huge (o percussionista que se deliciou a destruir a bateria na última subida ao palco) a apregoar os CDs foi um bónus. Aliás, a simpatia dos músicos depois de três “encores”, quando já não se podia pedir muito mais, foi mesmo a cereja no topo do bolo.
Quanto ao espectáculo – que foi de graça – pagaria o que fosse para rever. E para todos aqueles que sabem o quanto sou forreta, acho que isto resume tudo.
E, Babs, procurei-te no meio do povo. Se não estavas lá, arrependes-te pela certa :))
Quanto a ti, devias ter ficado até domingo :P
4 comentários:
depois conta aí.
Foi fantástico, com direito a três "encores" e os músicos a conviverem com o pessoal no final do concerto. Há muito que nada me enchia tanto as medidas!
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também pagaria o que fosse para os rever.
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excelente!
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este mês assisti a dois dos melhores concertos dos últimos tempos (para mim): este e o dos dresden dolls em famalicão.
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acho que a festa em serralves não poderia ter terminado de melhor forma.
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pensando bem até podia, se não tivesse havido o atraso do auditório.
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perdi o edgar pêra...
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E o pior é que estive quase a dizer que não ao convite da Cota Marada. Estava em fim de férias e já sabia que a segunda-feira ia ser tramada... a sorte é que mudei de ideias ;-)
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