2006-06-03

A Norte


Paredes de Coura


Mais do que as igrejas a enfeitarem os cimos das serras, ou as penedias transformadas para a oração, ou o granito talhado, talvez a comunhão mais profunda se faça no meio das serras frondosas, engalanadas de vida. Sou, verdadeiramente, pó e ao pó voltarei. Mas também sou seiva e luz coalhada e brisa fresca e margens de rios frescos e impolutos. Sou como a estrada perdido, bordejada de campos e vinhas que, por trás de cada curva, insinua mais um espanto. Sou como as estrelas que se voltam a ver e o luar novo que nada alumia. Ou como as barreiras amuralhadas que escondem casas brancas e ruas limpas, rasgadas apenas pelo vento norte e fazem ainda frente a um inimigo que já não há, enquanto os canhões silenciosos se cobrem de musgo e, por entre as pedras das flecheiras, nascem pequenas flores amarelas.

Sou esta terra alegre, verde e quente. Sou velha como as pedras de que herdei a história no sangue. Sou como a brisa e a água, frescas e sempre presentes. Ou este calor que se desprende dos sabores, da malga de vinho verde tinto, da boroa e dos rojões. Ou o cansaço de andar de lado para lado e não ver tudo o que seria de ver, que não há tempo para mais quando nos perdemos nas estradas que seguem por entre terreolas geminadas com as que vêm logo a seguir, mudando o nome do mapa e permanecendo o mesmo encanto.

Nomes a seguir a nomes, sempre surpresas gargalhadas ou tão só o espanto de ver finalmente o nome que, antes, não tinha qualquer sentido no mapa mental da nossa geografia limitada. Terra linda, esta. Terra quase em paz, apesar dos tantos de carros que lhe calcinam os silêncios, ou as televisões sempre ligadas, ou esta mania de esparramar bandeiras em nome de uma selecção de um País que, afinal, mal conhecemos.

E, depois, quase nos dói na alma ver que o Norte já esteve a arder. Por entre o prazer partilhado da tarde, via-se o fumo negro a caminhar em direcção ao pôr-do-sol, ameaçando transformar o amarelo alaranjado numa mancha vermelho sangue. Mais um pedaço de verde que se perde. Mais um retalho de vida transformado em cinzas. E, tendo eu andado perdida por estas terras, cheirando o fresco do verde que nos enche os pulmões de esperança, choro cada tronco chamuscado, cada árvore caída, cada ninho quebrado, cada pedaço de mim assim desaparecido.

O meu coração está sempre com o verde, os cheiros e os sabores do Norte, mesmo que, por vezes, um pedaço dele resolva viajar até ao Sul.

3 comentários:

Miguel Horta disse...

Com que então na "boa vai ela", sim senhora....
Beijos e diverte-te.

Hipatia disse...

Agora já acabou :((

Anónimo disse...

Mais Vozes

Ao ler que o teu coração estará sempre com o verde até as lágrimas me vieram aos olhos
frogas | 06.05.06 - 12:12 am | #

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Sabias que as cores da bandeira da Invicta são o verde e o branco? Podes ir espreitar aqui http://www.cm-porto.pt/ pagegen.a..._PAGE_ID=449375 para confirmar.

Estás a ver como até te dou uma prenda?
Hipatia | Homepage | 06.05.06 - 3:08 am | #

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Menino de Jesus e respectiva virgem vestidos de vermelho e aconchegados por um manto azul .

Depois ainda tem a lata de me vir dizer que não existe sistema
Agora so me falta que o peixinho venha saber desta treta
a verdade é como o azeite minha amiga
Anonymous | 06.13.06 - 12:27 am | #

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LOL

E eu a pensar que ias ficar contente...


Hipatia | Homepage | 06.13.06 - 1:55 pm | #