2007-05-06

Darfur


aqui


La mère fait du tricot
Le fils fait la guerre
Elle trouve ça tout naturel la mère
Et le père qu'est-ce qu'il fait le père?
Il fait des affaires
Sa femme fait du tricot
Son fils la guerre
Lui des affaires
Il trouve ça tout naturel le père
Et le fils et le fils
Qu'est-ce qu'il trouve le fils?
Il ne trouve rien absolument rien le fils
Le fils sa mère fait du tricot son père des affaires lui la guerre
Quand il aura fini la guerre
Il fera des affaires avec son père
La guerre continue la mère continue elle tricote
Le père continue il fai des affaires
Le fils est tué il ne continue plus
Le père et la mère vont au cimetière
Ils trouvent ça naturel le père et la mère
La vie continue la vie avec le tricot la guerre des affaires
Les affaires la guerre le tricot la guerre
Les affaires les affaires et les affaires
La vie avec le cimitière.

Jacques Prévert - Familiale


Não sou adepta da ingerência nos assuntos internos dos estados. Na verdade, temo sempre que essa ingerência, encapuçada de boa vontade, prove ser mais uma qualquer artimanha para uns poucos tirarem proveitos e menos ainda conquistarem poder. Mas há limites em que olhar para o lado passa a ser intolerável. No Ruanda a comunidade internacional reagiu demasiado tarde e deixou que 10% da população fosse assassinada. E foi apenas um ano: 1994. No Darfur, o genocídio arrasta-se desde 2003, ainda que só tenha começado a ser realmente debatido desde que os crimes e os confrontos se intensificaram em 2006. E ainda assim nada está realmente a ser feito. É que o Darfur fica mesmo ali nas franjas do Sahara e não tem nada, para além de areia, mortos e moribundos. Não interessa a ingerência porque não há negócios; não interessa evitar a calamidade. Já lá vão mais de quatro anos e em Darfur morre-se. Uns poucos sobrevivem. Nem sabemos bem como. Às vezes acho que nem queremos saber como.


Ainda há mães em Darfur?

1 comentário:

Anónimo disse...

Mais Vozes

A boa vontade das "grandes potências" é tal como dizes: muito amiga de petróleo e diamantes. Na falta destes elementos, temos pena mas não há ingerências de apoio grátis.
maria arvore | Homepage | 05.07.07 - 8:10 pm | #

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E eu aqui sentadinho ao computador sem sono e já de pança cheia a reflectir no que será menos agoniante . Morrer de uma rajada de metralhadora lá longe em africa ,ou afogado magrinho e cheio de fome juntinho ás nossas barbas repletas de colesterol ?. Como sei o que é estar preste a bater a bota por afogamento e já por algumas horas senti fome, escolho para eles, como morte santa, a morte por rajada . É claro que nunca estive preste a morrer de uma dessas mortes ditas violentas de modo que não me deveria permiti entrar nestas comparações, o que não me impede de continuar a pensar que é preferível que eles se matem lá longe e a tiro
– a mim custa-me menos , não sofro tanto e, para eles coitadinhos tanto se faz

Sempre que os pretinhos insistem maldosamente em vir morrer afogados magrinhos e cheios de fome junto á nossa costa os nossos coraçõezinhos gordos mas bonzinhos sofrem com a proximidade incomoda da desgraça .
Felizmente para nós que da Chechénia não se pode sair de barco, felizmente que os nossos actuais amigos russos , nos protegem do conhecimento provavelmente também perturbador desta outra desgraça que convenientemente os nossos televisores parecem já ter esquecido
frogas | 05.08.07 - 5:44 am | #

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É tão típico que, cada vez mais, sinto que já nem consegue gerar a resposta mais do que necessário. Afinal, os Homens são criaturas de hábitos e até já se habituaram a ver a desgraça alheia com um encolher de ombros. E isso, Maria Árvore, é o que realmente me choca.
Hipatia | Homepage | 05.09.07 - 1:54 pm | #

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Claro que se olhássemos para a Chechenia tínhamos muito que falar... e lembro quando foi ex-Jugoslávia e dos comentários do "na Europa não é possível". Mas é. Infelizmente é possível em todo o lado. E a ideia de uma sociedade internacional baseada mais em valores do que em lucros é mera utopia. Os valores de mercado, há muito transformados apenas em valores de lucro e de exercícios de poder, contaminam todas as boas intenções. E parece que já nem importa pensar qualquer alternativa.
Hipatia | Homepage | 05.09.07 - 2:00 pm | #