2009-09-19

Só à vassourada?


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Então Cavaco sempre autorizou? Apesar de tudo, estava a querer acreditar que não e que tudo seria a consequência do zelo de um fuinha manga de alpaca interessado no que pensa que pode agradar ao chefe e armado de um poder maior do que aquele que pode, comprovadamente, ser-lhe atribuído.

Posto isto, digo já que nunca votei Cavaco Silva; nunca gostei de Cavaco Silva; acho que a fauna produzida pelo cavaquismo é profundamente nociva e que o BPN é apenas a ponta da meada; não acho sequer que o cavaquismo tenha sido um período de desenvolvimento conseguido e acho que foi, essencialmente, um desperdício dos tantos de milhões que serviram variadíssimas negociatas ao grande e ao pequeno nível da pulhice.

Mas acho também que a culpa de termos Cavaco Silva na Presidência da República é da esquerda que, nas últimas eleições presidenciais, deu um valente tiro no pé e, como sobra, apanhamos com Cavaco Silva em Belém e agora é aguentar e esperar pela não reeleição nas próximas que, se a memória não se provar mais uma vez curta, será a consequência necessária de um enviesamento perigoso e nocivo do que é a função da Presidência da República e de um cargo que é suposto defender, além do badalado "todos os portugueses", também a dignidade das instituições nacionais e da democracia.

E é por isso que, a ser verdade que o Presidente da República autorizou que fossem feitos dossiers stasistas e lançou, via Público, um tiro ao porta aviões em início de campanha eleitoral que, qual bomba velha, acabou a rebentar-lhe nas fuças semanas depois, então este PR é incompetente até nas artes de Maquiavel e, acima de tudo, demasiado nefasto para tentar sequer armar-se em garante da democracia. Além disso, faltou-lhe inteligência: a seguir a um Público, aparece sempre um DN e, o mais certo, é continuarem nos próximos dias a aparecer mais uns quantos e-mail e, talvez, até uns exemplares dos tais dossiers.

A campanha vai feia e suja. Os chamados "casos" substituíram-se à política e a verdade, quer invocada, quer apenas sempre esquecida, é arma ou defesa vazia de sentido quando apenas importam os podres e jamais o interesse da polis. E o silêncio de Belém (ou comentários estranhos apenas aparentemente inócuos) assusta-me, como me assusta a história de que já mandaram fazer uma varredura – mas sem SIS, também invocado aparentemente sem provas e supostamente sem dossiers – para saber se havia escutas e não se encontrou nenhuma. E dizem agora que o director do Público também há-de ir à vidinha depois das eleições (ainda que a Manelinha tenha ido antes dessas), como se apenas mudando as pedras do xadrez se mostrasse qualquer real alteração e como se não fosse mais do que previsível que, mesmo que sufragados (dificilmente de forma universal), os políticos portugueses, quando mudam e vão à vidinha, não ficassem irremediavelmente substituídos por outros que tais e a merda continuasse a cheirar ao mesmo.

E, depois do dia 27 de Setembro – com Freeport por resolver, com o Preto e a outra de mala (e talvez cuia) na AR, os sobreiros e os contentores, o TGV, o aeroporto e os espanhóis, os grupos económicos e a comunicação social serviçal –, se houve escutas teremos um provável governo à espera de demissão (se o PS ganha as eleições e se provam as escutas, não pode haver nem alternativa nem perdão) e um PR que, caso continue a calar e a consentir e não consiga provar nada, talvez devesse começar a varrer assessores e, caso não resulte, que se varresse a ele próprio para outra freguesia.

6 comentários:

TheOldMan disse...

Hipatia, Cavaco é tão bom PR como Guterres foi PM.

Ambos parecem estar mortos quando têm que desempenhar cargos que ultrapassem a dimensão dos seus pequenos e mesquinhos universos.

Não são maus. Apenas confrangedoramente incompetentes.

;-)

Hipatia disse...

Há pouco, Inês Serra Lopes dizia num qualquer canal de televisão, que havia ficado provado num Tribunal que, ao tempo do Governo Durão-Santana, havia carros do Conselho de Ministros a fazer vigilância do género da que agora o PR se queixa. E insinuou ainda que este tipo de vigilância sempre existiu e que Cavaco Silva a conhecia (será que, quando lá esteve, fazia o mesmo?), o que ainda torna mais manhoso tudo isto. Agora, o que não entendo mesmo é como o septuagenário, com tanta escolinha, pudesse imaginar que mandava uns bitaites em Agosto e o Público deixasse uma pergunta no ar em forma de manchete, sem suspeitar que em Setembro o caldo havia de entornar... incompetência? Não sei se chega.

Anónimo disse...

Devia ter aprendido um pouco mais com o outro senhor octagenário (para acentuar a tua terminologia, não Hipatia?)

Quando vejo pessoas a falar de competências a este nível, das duas uma: ou estão a ser levianos e inconsequentes, tentando encontrar bocas giras, ou são portadoras de um desconhecimento assaz constrangedor.

Se fosse idiota, gostaria de os ver por lá, mais seus sound bites.

Hipatia disse...

Devia, pois. O senhor octogenário – em quem também não votei, já agora – para além de toda a merda que fazia, deixou a ideia de que costumava usar os meios legais ao seu dispor, desde as comunicações ao País até às queixas formais à PGR. Se temos um Governo que faz escutas, admite-se que haja um PR que fique formalmente calado, preferindo falar pela calada com o jornal do Belmiro? Não devia estar já há ano e meio este Governo demitido, se se atreveu a espetar com escutas em Belém? E, não sendo a história das escutas verdadeira (ou sequer a do assessor jurídico do Socrates que foi à Madeira e é dado como exemplo), que raio de ataque de Alzheimer deu no PR e nos seus assessores?

Há um governo que faz espionagem às restantes instituições nacionais? Há provas? Demita-se o Governo, ou então o silêncio é a maior prova de leviandade e inconsequência face à gravidade da situação. Não há provas e são só folhetins alucinados, então que não se mandem assessores para os jornais mascarados de fonte anónima. Não são bocas giras, não. Infelizmente. Antes isto fosse uma palhaçada a sério, para ser giro comentar.

I. disse...

A campanha vai tão suja que nem vinte quilos de skip a limpava.
Ando aqui uma autêntica orfã: não sei em quam votar. Branco?

Hipatia disse...

E que faz o Presidente da República no meio da campanha?

Apre! Ontem o Marcelo Rebelo de Sousa já arranjou a desculpa ideal para o PR: atirar com a totalidade das culpas para o assessor. Só que não há maneira de eu entender os 17 meses, ou sequer entender que um caso tão grave não tenha consequências, ou via demissão do Governo se escutou, ou consequências para a PR, que andou a "insinuar" demais junto de jornalistas, em lugar de o fazer como deve ser feito.