2013-06-15

(des)avaliados

«Todos nós tivemos professores sofríveis. Uns eram cientificamente impreparados. Outros faltavam. Muitos não tinham qualquer competência pedagógica. A tantos faltava interesse e motivação. Por cada professor digno desse nome, tive dois que não mereciam estar numa sala de aula. E, todavia, estavam.» 

Rui Rocha - Delito de Opinião



Tive bons e maus professores. Felizmente, tive mais bons do que maus professores, começando por uma brilhante professora primária a quem devo muito do que consegui. As bases que me deram desde a escola primária foram suficientemente boas para compensar até algumas das azémolas que me apareceram pela frente. E porque tive maus professores a enxovalhar o brilhante serviço de tantos outros, defendi acerrimamente a sua avaliação, para que não ficassem com lugar os que o tinham por tudo menos mérito, enquanto os mais novos e tantas vezes mais competentes iam ficando sem emprego ou continuavam de casa às costas. Não foi implementada uma avaliação que separasse o trigo do joio e temo que muito por culpa dos professores que se comportaram à data como classe acéfala. Agora, estão na calha para o desemprego, sem consideração e sem respeito, sem avaliação, sem nada: só bode expiatório para um governo que quer deles fazer exemplo para que ninguém tenha a veleidade de protestar contra este ataque concertado à Função Pública que, um dia destes, se vai obviamente estender também ao sector privado. Um ataque a todos nós. Um ataque que só dá sinais de que vai piorar. E é por isso que, desta vez, todos precisamos ser professores: se eles caem agora, iremos todos a seguir.

14 comentários:

shark disse...

Não podia concordar mais contigo.

Hipatia disse...

Desta vez os professores não estão a defender privilégios como o governo quer fazer crer. Estão a defender o direito ao emprego. E, sim, a escola pública.

Izzie disse...

Nem mais. Esta greve é absolutamente justa e defensável.

cereja disse...

Apoiado!
Não pertencendo à classe, nem tendo nenhum familiar próximo (actualmente... sou filha de 2 professores! já falecidos mas todos diziam que eram excepcionais) vou ouvindo umas coisas. Acho que até essa coisa da avaliação não foi clara, pelas razões que indicas, muitos até queriam avaliações embora não nos moldes que foram propostos.
De resto, como em todas as profissões, TODAS, há bom, mau e assim-assim... Eu tive de tudo, muitos assim-assim, outros bastante maus, e alguns fascinantes!
O sindicato tem a pouca sorte de ter à frente aquele homem que levanta mais embirrações que qualquer tipo que eu conheça.

Anónimo disse...

Absolutamente :) todos somos. Quando é preciso atitude... beijos

AEfetivamente disse...

Completamente. Já tihna concordado com o seu comentário no blogue do Paulo A. Lima.
Pessoalmente estou farta das referências aos maus professores. Também já tive maus médicos, maus advogados, maus engenheiros, maus cabeleireiros, maus assistentes de tudo e mais alguma coisa e maus em todas as profissões. Já para não falar dos maus políticos, dos banqueiros maus, e dos comentadores e jornalistas maus e dos maus todos.

Paulo Abreu e Lima disse...

Estou completamente de acordo com a questão das avaliações e, até, com os motivos das greves, só não posso deixar de mencionar que, ao contrário do que os sindicatos afirmaram, o dia da greve foi escolhido a dedo, estando disponíveis para outro dia qualquer. É desonesto e até na guerra há regras. Quanto ao sector privado, Hipatia, esse foi o primeiro a levar coça, veja-se o desemprego...

Hipatia disse...

E, no entanto, o circo continua, não é, Izzie? E vai continuar :(

Hipatia disse...

Há uma questão de visibilidade, Cereja: os professores estão, neste momento, organizados como mais ninguém e podem ser a ponta de lança da Função Pública, mesmo que tenhamos que engolir a presença funesta do rosto sempre presente do seu sindicalista que mais se põe em bicos de pés.

Hipatia disse...

E olha que vai ser preciso muita atitude com um governo que, tendo perdido já toda a autoridade, vai sentir mais e mais necessidade de exercer poder, que é a única coisa que lhe resta.

Hipatia disse...

Bem vinda às vozes, Faty Laouini :)

Sabe, se bem que também ache que já começa a cansar as referências aos bons e maus professores, só ainda não me cansei dela porque, infelizmente, como progridem apenas por anos de serviço, o pior dos profissionais pode mesmo chegar ao topo da carreira.

Mas nem vamos mesmo falar de políticos! Eu nunca cheguei a perceber porque, sendo que são em última instância meus empregados, não os posso despedir quando não cumprem um grau mínimo de objectivos. Vejamos o caso de Vítor Gaspar: falhou em toda a linha e dois anos consecutivos. Se fosse meu subordinado, estava com avaliação negativa, não tinha recebido prémios, nem distribuição de resultados e, caso houvesse necessidade de cortar despesas via cortes com o pessoal - que é o que o Governo quer fazer - seria um dos primeiros a ir para o olho da rua. Porque não o posso mandar eu já e tenho que esperar mais 2 anos, já que se prova incompetente na realização da tarefa para que foi contratado? Ah, pois, é a tal da democracia representativa. Ora bolas! Afinal a demos não manda é nada :(

Hipatia disse...

Não, Paulo. O sector privado, até pelo nível de desemprego, está demasiado aterrorizado. Precisa dos funcionários públicos para que alguém saia à rua em defesa dos direitos que nos querem levar sem terem a coragem de propor - e não verem passar - a alteração constitucional. E olha que estes anos de experiência de demências ultraliberais já lhes devia ter mostrado alguma coisa. Mas não mostrou. E eu preciso dos professores agora. E tu precisas dos professores. Precisamos da organização deles, precisamos de vê-los na rua e saber que, com eles, está gente da extrema direita à extrema esquerda. E que atrás deles vão todos os outros. E que o governo tem medo. Tem tanto medo que meteu os pés pelas mãos para não dar parte de fraco e saiu-lhe o tiro pela culatra.

deep disse...

Foi por sentir, mais como pessoa do que como professora que, não tarda, caímos todos que fiz greve na segunda feira. Pesou-me porque, sendo coordenadora de um secretariado de exames, sabia que se o fizesse os meus colegas fariam o mesmo e não quis, de forma alguma, influenciá-los.
Ainda que tenha sérias dúvidas de que esta luta nos conduza a alguma situação aceitável, fiz greve na segunda feira e às avaliações, porque considero a prepotência deste governo e a situação em que este país se encontra insustentáveis .

Hipatia disse...

Como disse ali em cima, este governo perdeu já toda a autoridade e resta-lhe o uso persecutório do poder. E é por isso mesmo que também temo que a actual luta leve a qualquer situação aceitável. Mas inaceitável mesmo é não haver luta alguma. Acho que o governo - e o PR, já agora - têm medo da rua. Muito medo da rua. Tanto que se armam até aos dentes e dobram a quantidade de capangas e seguranças, temendo que a qualquer momento lhes saia um Brutus ao caminho.