2005-07-31

O post que deixei para domingo




Yes...

I can’t believe the news today
Oh, I can’t close my eyes and make it go away
How long...
How long must we sing this song?
How long? how long...

’cause tonight...we can be as one
Tonight...

Broken bottles under children’s feet
Bodies strewn across the dead end street
But I won’t heed the battle call
It puts my back up
Puts my back up against the wall

Sunday, bloody sunday
Sunday, bloody sunday
Sunday, bloody sunday (sunday bloody sunday...)
(allright lets go!)

And the battle’s just begun
There’s many lost, but tell me who has won
The trench is dug within our hearts
And mothers, children, brothers, sisters torn apart

Sunday, bloody sunday
Sunday, bloody sunday

How long...
How long must we sing this song?
How long? how long...

’cause tonight...we can be as one
Tonight...
Tonight...

Sunday, bloody sunday (tonight)
Tonight
Sunday, bloody sunday (tonight)
(come get some!)

Wipe the tears from your eyes
Wipe your tears away
Wipe your tears away
I wipe your tears away
(sunday, bloody sunday)
I wipe your blood shot eyes
(sunday, bloody sunday)

Sunday, bloody sunday (sunday, bloody sunday)
Sunday, bloody sunday (sunday, bloody sunday)
(here I come!)

And it’s true we are immune
When fact is fiction and tv reality
And today the millions cry
We eat and drink while tomorrow they die

The real battle yet begun (sunday, bloody sunday)
To claim the victory jesus won (sunday, bloody sunday)
On...

Sunday bloody sunday
Sunday bloody sunday...



E da Ilha Esmeralda, ainda partida em duas, num mundo a enlouquecer, surge um sussurro de esperança.

“This song is not a rebel song”

É! Parece que nunca foi mesmo...
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imagem aqui

2005-07-29

Eros e Thanatos


And have you ever wanted something so badly
that it possessed your body & your soul
through the night & through the day
until you finally get it!
And then you realise that it wasn't what you wanted after all.
And then those selfsame sickly little thoughts
now go & attach themselves to something....
....or somebody....new!
And the whole goddamn thing starts all over again.
Well, I've been crushing the symptoms but I can't locate the cause.
Could God really be so cruel?
To give us feelings that could never be fulfilled(...)

The The - True Happiness This Way Lies


Uma amiga disse-me uma vez que só temos de facto um único e primeiro amor. Porque é aquele a que nos entregamos totalmente, sem precisarmos do intelecto para justificar o coração. Como dizia essa amiga "quando Eros e Thanatos deixam de ser um só, então estamos na presença de todos os outros amores, e esses normalmente nunca são tão fodidos" como o primeiro. Porque morremos de cada vez um pouco para aprender a viver de novo? Não sei...

Eu, no entanto, prefiro esses amores à posteriori. Talvez porque já vivi e sofri o primeiro amor e nunca mais soube lá voltar. E talvez seja mesmo impossível voltar.

Ou então porque todo o meu intelecto se recusa a acreditar que o amor apenas nos toque só uma vez. Talvez tenha que nos tocar de cada vez de uma maneira diferente e nenhum amor pode ser igual a outro. Mas recuso-me a encerrar a capacidade de amar apenas num único amor. Por maior que ele seja ou tenha sido. Por mais intenso, marcante. Se houvesse mesmo essa condenação a um único amor na vida de cada um de nós, que nos restaria para o resto da vida se o tivéssemos perdido?

Mesmo que emocionalmente difícil, racionalmente resta-nos a esperança de que há mais do que um testo para cada panela e podemos amar intensamente, ainda que de maneiras bem diferentes, mais do que uma vez.

Amores diferentes para fases diferentes da vida; amores que não serão nunca como o primeiro, mas que não se limitam a ser menos amores por causa disso. Mesmo que sejam um bocadinho mais pobres - ou quem sabe mais ricos - porque os elaboramos em premissas diferentes, deixando que o cérebro pense o que antes só soube sentir.

Iatá!



Parabéns, amiga!

2005-07-28

Romances


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Adoro os folhetins possíveis em todos os romances proibidos! Que fazer? Dá-me para aí. E pensar em todos os romances proibidos que permitiram grandes obras de arte... Desde as tragédias gregas às versões mais ou menos actualizadas de Romeu e Julieta, mesmo para quem não vai muito à bola com o Di Caprio, nem como Romeu, nem quando se afoga congelado. Se "Romeo is Bleeding", então temos história! Um romance amordaçado é sempre uma boa história!

2005-07-27

Banhada Durão


Parece que afinal a Europa já começa a suspeitar aquilo que os portugueses há muito já sabiam. É que nunca bastou mudar de nome. Bosta é bosta, mesmo que alguns lhe prefiram chamar merda.

Será que também se pode fugir do cargo de Presidente da Comissão Europeia depois de fazer a Europa dar uns quantos passos galopantes de retrocesso?

Pelo menos, parece que este ano o gajo vem a banhos para as praias portuguesas. Era difícil voltar a explicar passeios no iate do Spiros Latsis. Espera aí... mas alguma vez ele explicou direito as férias no iate? Hmm...

2005-07-26

Fado

(...)
O fado é tudo o que eu digo
Mais o que eu não sei dizer


Aníbal Nazaré - Tudo Isto é Fado



Tinham-lhe dito que o mundo seria dela lá pelos trinta anos. Tinham-lhe dito que, com paciência, chegaria a sua vez. Afinal, era filha da democracia, da igualdade no acesso à educação e à cidadania. Já não era propriedade dos pais, do marido, dos filhos ou da moral. Era senhora do seu corpo, do seu destino, das escolhas que quisesse fazer, onde e quando, sem responder a porquês.

Tinham-lhe prometido liberdade e ninguém lhe explicou que a liberdade também tem preço. Libertou o seu corpo ao primeiro namorado e nasceu o primeiro filho. Tinha dezassete anos e afinal o futuro era presente.

Afogou as mágoas nos corpos de outros homens, sem nunca saber, porque nunca ninguém se lembrou de lhe explicar, como evitar os filhos e as doenças. Acabou com mais dois filhos, de pais ausentes, pensões prometidas e nunca pagas. E fama de puta, lá pela terra, que as mentalidades não mudam só porque mudam as leis.

Chegou aos trinta a limpar as casas dos outros e a apanhar porrada do novo companheiro, de cada vez que o carrascão se substituía ao sangue das veias. Umas quantas visitas à polícia e ao hospital e o peso da vergonha. Porque as putas até merecem apanhar nas trombas e o gajo de certeza que tem razão.

Já não sonha com futuro, limita-se a esperar o amanhã. Descobriu entretanto que arranjou uma nova companheira de viagem. Uma chamada SIDA, que lhe arrendou a vida depois de o companheiro fazer mais uma visita às putas da Estrada Nacional.

Já não há mais sonhos.

2005-07-25

Só para discordar

Não, Hipatia. Esses caixotinhos não permitem que se liberte a sexualidade de modo satisfatório (a não ser que tenham um atrelado).

The Old Man


O pequeno carro era enganador. No seu interior, apenas dois lugares compensavam em espaço o que de espaço havia sido sacrificado para obter "um pequeno caixote de plástico e vidro", o melhor para os breves circuitos urbanos. Havia ainda assim espaço para pernas, para braços, para corpos lado a lado.

Ele conduzia compenetrado. Ela conduzia um dedo pela coxa dele, compenetrada também. Não se olhavam ainda. Pelo tecto envidraçado, entreaberto, a lua e as estrelas iam fazendo companhia. Lá em baixo o rio, quase na sua foz; lá em baixo as breves luzes, mais presença do que fulgor. Lá em baixo, uma fila de carros paralelos, vidros embaçados, corpos enrodilhados, o cheiro do desejo suspenso em gemidos sufocados.

O dedo dela transformou-se em mão. Os dedos dele seguraram mais firmes o volante. Ele reduziu para terceira. Ela meteu uma primeira. O rio ainda longe. Os carros lado a lado.

Ele fez pisca. Ela nem piscou. Ele abrandou. Ela acelerou. Ele parou o carro, lado a lado com outros carros. Ela nem se importou.

Com um movimento brusco, o corpo dela passa para cima do corpo dele. Lá fora o rio, parado. Lá dentro a rebentação. E a cabeça dela, pelo tecto envidraçado, entreaberto, aproxima-se e foge, em ritmos cada vez mais rápidos, da lua e das estrelas que entram ainda, numa breve, bruxuleante luminosidade, pelo tecto do pequeno carro enganador, pleno de espaço, e janelas que se tingem de calor.

2005-07-24

A Insustentável Leveza do Ser


A história é tão leve como a vida do indivíduo, insustentavelmente leve, leve como uma pena, como poeira ao vento, como uma coisa que há-de desaparecer amanhã.

Milan Kundera, A Insustentável Leveza do Ser



Falei do livro ali em baixo. Volto a ele hoje. Porque há sempre mais qualquer coisa a dizer...

Admiro a sensualidade das palavras esparramadas, dos encontros e desencontros das suas personagens. E, no entanto, penso que os corpos e os seus detalhes servem apenas para nos transmitir uma ideia de nostalgia, de um mundo que já não é possível voltar a ter. É um mundo que não volta mais, mesmo que não haja qualquer exército soviético a invadir hoje a bela Praga e as consciências dos seus habitantes. Mesmo que a liberdade procurada nos corpos se mostre bem mais castradora do que a liberdade procurada nas emoções. Ou aquela sombra permanente de tristeza, pontuada por algumas situações mais radiosas. Todo o livro num tom agridoce, como a vida.

Em Milan Kundera vi uma extraordinária capacidade para nos falar do amor de uns pelos outros e da forma como nos tornamos dependentes uns dos outros; a descrição de personagens que preferem viver, apesar do terror, da opressão, da tortura, da morte e da humilhação que a invasão soviética acarretou. Mesmo que para isso tenham que limpar janelas para sobreviver. Surpreendente a forma como este livro combina opostos de luz e sombra: por um lado, a morte, o medo, a traição; por outro, amor, sexo, paixão, solidariedade e gentileza. Uma forma completa de fazer um elogio à vida. Uma maneira poderosa de enaltecer o ser, para além de qualquer leveza.

Há uma espécie de fuga, como se quase não tivesse importância: da Sabina para a Suiça, da Tereza e do Tomaz para o campo... Como se a opressão soviética nem tivesse muita importância num esquema muito leve da realidade. Eles - o importante - permanecem. A história continuará. No fim, já nem União Soviética resta, nem opressão. Nem Checoslováquia. Mas a bela Praga continua lá. O amor continua lá. Talvez seja essa a realidade, para além de todas as realidades da história: as pequenas histórias desaparecem; mas a alma das coisas e das pessoas não muda, ainda que mude a sua aparência exterior.

(Ai, esta vontade de viver a vida de forma leve, tão leve que se torna insustentável. E de como tal se prova impossível.)

Telegrama


Na terra do orelhame, continua tudo na mesma. Stop. Talvez orelhame maior ainda. Stop.

2005-07-22

Cansaço II

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Álvaro de Campos


Sonâmbula de mim, apenas penso em Sábados de esquecimento. Vou para a terra dos sonhos, afogar numa manhã todos os restos de uma semana de vigília. Vou prolongar a sesta numa tarde de praia e de esplanada. Vou restaurar-me, contar mais uma. Já só faltam três…

Mas como pode o cansaço ser tão profundo, que até o sono lhe foge?

Bom fim de semana!

PS – Para os que não acedem às Vozes, se estiverem a usar norton anti-virus, têm de desbloquear a opção «Block popups on this site»

2005-07-21

Consegui!







Antes de mais, o meu muito obrigada a todos quantos manifestaram ter gostado das estrelas que tinha posto ali ao lado, a servirem de pano de fundo ao título do blogue. Eu também gostava delas, mas, apesar de tudo, senti que lhes faltava cor. Eu não sou - apesar de às vezes parecer - uma pessoa monocromática. Gosto de cores vivas, que exalem calor. Por isso, preservando ainda assim o fundo azul escuro, tratei de encontrar uma imagem que, mantendo a mesma ideia de profundidade e infinito, me trouxesse cor para a Voz. É esta que vos deixo plena neste post. E com ela tingi os títulos, a Voz em Fuga, o rodapé. Espero não me cansar da sua luz, do seu colorido suave. Espero que ela vos receba bem, como eu gostaria que todos soubessem que são bem-vindos a este meu blogue pobrezinho mas, agora, bem mais bonito.

Sei que há dias em que me apanham de bom humor e, nesses, até entendo que resolvam voltar. Mas há outros em que me sinto mesmo agradecida por vos ter por aqui. Na verdade, olhando para alguns dos meus textos e pondo-me no lugar do visitante ocasional, este não seria nunca o blogue que elegeria para tantas visitas. E, no entanto, a semana passada, ultrapassei as 10 000, coisa que não estava de maneira nenhuma à espera que acontecesse em menos de um ano.

Não tenho tido nem tempo, nem muita vontade de andar por aqui. Acho que se nota nas diversas ausências. Mas, mesmo assim, vejo-vos voltar e sinto que, de alguma maneira, ando a fazer as coisas certas. Porque este blogue sempre quis ser despretensioso, mesmo que a sua dona seja bem pedante às vezes. Sempre foi o sítio onde pretendi descarregar fúrias e alegrias, atirá-las para o éter e deixá-las fugir para longe. Ora, isso transforma qualquer blogue numa página tal e qual as críticas correntes que fazem a este meio de comunicação, por oposição a todos ditos mais sérios. Mas o que os críticos parecem não entender é que são necessários, para todos nós que gostamos e precisamos de escrever, sítios que não se levem a sério, nem queiram transformar o seu autor num exemplo de coisa alguma.

Bem sei que nem todos pensam como eu. Mas, se tenho de lidar com coisas sérias, com a crise, com o trabalho, com os problemas diários e as dores quotidianas, não quero, não posso, trazer em demasia para o blogue as coisas que me afligem. Mesmo que, tanta vez, seja delas que fale. Porque, aí, são simples desabafos, não pretendem fazer doutrina, nem sequer chegar aos calcanhares de qualquer tese.

Talvez seja uma busca de leveza de ser, numa apropriação personalizada do título do Kundera. Porque a leveza tem de ser buscada arduamente, especialmente quando o dia a dia nos vai pesando toneladas. Não acho que a leveza seja simples. Penso que, muita vez, se faz de coisas profundas, até porque sempre foi mais difícil fazer de uma coisa complexa algo simples do que o seu oposto. Quem dá ou já deu aulas sabe bem do que falo...

Mas, no fundo, tanto paleio é mesmo só para dizer que consegui aumentar o espaçamento do texto. Um tributo meu para quem lê os meus testamentos - como este - sem desistir. É, ainda, outra tentativa de leveza, evitando que as letras se sobreponham e ofusquem, simplificando no aspecto o que não quero perder no conteúdo.

Obrigada por me aturarem. Obrigada pelas tantas de visitas. Obrigada por não me levarem a sério nos dias leves, nem me deixarem perder nos meus abismos nos dias pesados.

E, já agora, se alguém souber o que fazer para usar dois espaçamentos de texto diferentes em cada post, que diga qualquer coisinha :)))))
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2005-07-20

Moonstruck


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Rose: "Do you love him Loretta?"
Loretta: "Ma, I love him awful."
Rose: "Aw god, that's too bad."

in Moonstruck (1987), de Norman Jewison



Ela é Loretta, uma italo-americana, mesmo que na verdade se chame Cher e tenha ganho um Oscar com este filme; ele é Ronny, o seu futuro cunhado, tendo calhado a Nickolas Cage representá-lo.

Ela sentada numa cadeira à mesa de cozinha. Ele em pé, do outro lado da mesa. Discutem porque se amam. E talvez se amem porque assim discutem.

Ela é viúva, ele não tem uma mão. Cada um carrega um fardo, cada um tenta encontrar um trilho. Ela escolheu casar com o irmão dele, que não ama, mas que lhe dá o conforto e a dedicação que pensa ser tudo quanto ainda merece.

Ele esconde-se numa cave, esconde os sonhos perdidos, as desilusões que se foram com uma mão amputada. Está zangado com o mundo, com a vida, com a família.

Tudo isso é transportado para aquela cozinha. Tudo está em carne viva naquele preciso momento.

Ele passa os dedos pelo cabelo, encolhe o corpo e ganha balanço. Então, arremessa a mesa para longe, bem longe, apagando a última fronteira que os separa. Ergue-a da cadeira, beija-a com força. Ela reclama. Mas beija-o de volta com mais força ainda. E então ele carrega-a nos braços, porque já se pertencem.

Foram apanhados pelo luar.



(Vou mas é para a cama, rever o filme e sonhar com beijos intensos e braços fortes onde me sinto em casa. A culpa só pode ser da cor desta lua que tem andando dependurada no céu.)

Veludo na Voz














Provavelmente, o sentido que o Cap quis dar a estas palavras é bem diverso daquele que eu quero entender. E, no entanto, lembrando o tanto que já por aqui escrevi e a vontade de hoje, para mim fazem todo o sentido. À minha maneira, claro. Mas fazem todo o sentido, sim!

2005-07-19

Amuo


imagem original aqui Posted by Picasa



E ninguém diz nada do novo visual da Voz?

Cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.


Álvaro de Campos - O Que Há Em Mim É Sobretudo Cansaço



Um cansaço total, absoluto, que me faz perder a vontade de fazer o que gosto. Já não é só um cansaço físico. É uma quase apatia, um esgotamento completo. É sentir a cabeça pesada com o ruído do trânsito e até com o chilrear dos pássaros. É sentir o bafo de calor indecente e quase ter vómitos. É uma prostração completa, uma incapacidade para me mover para lá do sofá onde me sento à chegada a casa, enquanto a televisão me embala as sestas extemporâneas. É uma sem-vontade total. Uma prisão da alma, como se grilhetas invisíveis me impelissem a uma resignação dormente de apenas contar os dias que faltam.


Preciso de férias com urgência. Umas que me curem o corpo e a alma. Que me restaurem a energia que, por agora, já quase se alimenta de fumos. Que me reparem o bom humor, que me devolvam o sorriso, que me deixem ser simpática. Preciso de férias. E vou contado os dias. Um mês ainda?


Estou tão farta, tão exausta, tão exaurida!



(e o sintoma mais preocupante é quase ter adormecido no "Batman Begins", o que seria um desperdício... até porque quero, preciso, falar deste filme)

2005-07-14

Deixa ver se eu percebo...




Posted by Picasa


O C.V. disponível no site público diz apenas que ele é "licenciado em direito pela Universidade de Coimbra". E que foi docente do ensino técnico e secundário.

No entanto, apresentam-no também como "Professor Doutor" no mesmo site da Instituição de Ensino Superior onde é "Professor Convidado". Basta procurarem no google pelo nome do senhor e o nome do link é: "página pessoal do professor doutor..."



Qual terá sido a tese?

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foto aqui


Aqui há gato!


Capitão Amendoim Posted by Picasa *


É nesta nossa identidade que me abasteço quando necessito de ter um pai. É também na total ausência de ti, que encontro motivação para suprimir uma lacuna que abriste quando te subtraíste à minha vida. No preciso momento em que a cronologia me diz que brevemente entrarei na terceira década de vida, quero prolongar aquele legado para além de mim, quero deixar uma ténue marca da minha passagem pelo mundo. O alarme do cronómetro biológico disparou galopante. É um antiquado desígnio, este que me proponho. Mas quero de facto, dar-te um neto. Dar-me um filho. Igual a nós.



Há aqui por este mundo de blogues um gato bem simpático, minhoto, que não gosta do meu nick. Um gato que, um dia, me surpreendeu ao aceitar entrar num desafio. E postou duas vezes e, assim, ficou ali retido para a posteridade - ou para a vida breve que este blogue possa vir a ter - na secção das comPILAções e nos links laterais dos meus afectos. Como Ricardo, claro. O dono do Capitão aí em cima na foto. Um senhor que (acho que até já se esqueceu) me deve uma "baba de camelo". Um gato que visito sempre com prazer, mesmo que seja para descobrir que consegue ser um "kiss my ass happy bunny" quando a mim só me sobra ser um "psycho happy bunny". Diria que cada um tem o que merece. Acho que vários concordam. E o Ricardo hoje está de parabéns e, por isso, merece que lhe mande um beijo bem repenicado.

Bss, bss, bss... gatinho... (ou será que devia dizer caranguejinho?)

Feliz aniversário!


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* foto descaradamente roubada

2005-07-13

Clap Clap Clap


Com esta minha mania idiota de defender utopias, preferiria publicitar uma iniciativa que tivesse por alvo a extinção do casamento. Afinal, desde muito cedo que acredito (e tenho praticado há mais duma década) que nenhum Estado ou Igreja precisa de saber (ou autorizar) com quem vivo ou deixo de viver.


Por outro lado, se também acredito que, mais importante do que a liberdade de todos, é a liberdade de cada um (acho que pedi emprestada esta lápide ao Boris Vian), não devo privar ninguém do direito de precisar que a sua união seja reconhecida por uma instituição, por muito retrógrada que ela seja.


(...)


Por muito que deseje ingenuamente que esse espírito se estenda a outras minorias e, sobretudo, ao anémico movimento sindical, é para mim impossível ignorar e não aplaudir o facto de, hoje em dia, o chamado activismo LGBT ser o único que tem dado mostras de querer e poder alargar o conceito de liberdade individual nestes tempos de pandemias fascizantes que vão crescendo à socapa em nosso redor.



Já vos disse que gosto muito de mãos? Pois gosto! Gosto delas com dedos compridos e finos, ossudas, capazes de dizerem o que as bocas calam. E chego até a recordar tão bem as mãos das pessoas que conheço como as caras, os olhos, os sorrisos.

Depois, às vezes acontece gostar da pessoa a quem calhou pertencerem mãos bonitas. E os motivos são vários e, por sorte, alguns deles têm a ver com uma concordância implícita sobre uma série de questões.

Lá em cima, está um dos motivos porque gosto tanto de ler um senhor que tem um belíssimo par de mãos. E nem chego a perceber porque mais gente não o corre a ler (mesmo que eu até devesse estar caladinha que me esqueci de lhe fazer a festa de aniversário que ele bem merecia).

De qualquer forma, José, era mesmo só para dizer que as minhas mãozinhas estão para aqui a fazer "clap clap clap" desde que te li este texto.

(sem título)







... ou o número que me fodeu as contas do trimestre.

Bah!!!!

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2005-07-12

Aibailhamedeus!





Isto já é zodíaco a mais! Para todo o lado que me viro, dou com alguém com o hábito de andar de lado.

Começo a ficar preocupada com a quantidade de caranguejos à minha volta. E nem sequer uma lagosta, uma santola, uma sapateira...

Mas afinal quantos faltam? Sim, quantos faltam?

E venham daí as festas, que hoje estou em estado de choque: acabei de descobrir que tenho um blogue virgem!

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imagem
aqui

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Parabéns, Vague :)


recebida por mail Posted by Picasa


Eu queria saber descrevê-la e não sei. Queria saber dizer da meiguice transbordante e não há palavras. Queria explicar como cada vez que penso nela há um sorriso a bailar-me nos lábios. Contar como me agrada sempre a perspectiva que vai buscar para começar e/ou acabar um comentário e como isso me apanha sempre de surpresa.

Gostava de poder contar e não parecer demasiado estranho como foi a primeira vez que nos vimos. Gostava de saber pôr em palavras o assombro, a magia, o silêncio em que deixamos, boquiabertos, os companheiros masculinos.

Ou talvez explicar das confusões hilariantes. Ou de como tudo faz sentido no fim. Ou talvez apenas do sorriso que nasce vagaroso e lhe ilumina o rosto, o corpo todo. Ou como me apetece abraçá-la apenas tanta vez. Dar ombro e receber ombro também.

Ou tão só explicar como me agrada sabê-la na minha vida, saber-nos mosqueteiras, comparsas, compinchas. E agradecer existirem blogues e nos termos cruzado um dia. E saber que já está para lá da Net; que já estou para ela para lá da Net. E que, num momento breve feito tempo imenso, se constróem amizades que ficam. Longe daqui, ainda que por aqui também.

E, nem sei bem porquê, achei que aquela foto ali em cima ficava a matar para dar os parabéns à minha amiga Vague.

Beijo grande e dia feliz, amiga!

2005-07-11

Gizo-me






Começo num traço. Num ponto. Dois pontos. Mais um traço, sai sorriso, ou nem isso. Gizo-me de novo. Mais uns traços, uns pontos. A preto e branco, ou colorido. Verde azulado talvez. Fundo cor de noite. Mais dois pontos, traço, ponto e vírgula, pisco. Pisco-me. Um olho. Outro olho. Mais um traço, outro sorriso. Pontuo-me. Quase eu, em pequenos traços e pontos. Quase eu hoje. Quase em código Morse:

....
..
. _ _ .
. _
_
..
. _


está


.. _ .
.
. _ ..
..
_ _ ..




:)


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imagem aqui

2005-07-10

Lua

(…) e a nenhum de nós ocorreu perguntar ou saber o que o resto do mundo pensava.

Paulo Coelho – Onze Minutos


Desprendia-se pela janela aberta o calor da noite, entrando sorrateiro para ir fazer companhia ao calor dos corpos despidos sobre a cama. Havia um silêncio breve, uma respiração cadenciada, um aconchego temperado. Não havia luz, excepto o risco amarelo-torrado em que se transformara a lua num esgar de mudança de ciclo. Pressentia-se por todo o quarto o tempero de silêncios partilhados e sorrisos parados, congelados, em lábios quentes. Jazendo, só havia tempo e desejo e o calor de mais uma noite de verão. Jazendo, só havia dois corpos cansados, iluminados por uma lua breve, brevíssima, no negro do céu. Nem estrelas, nem constelações. Só uma lua amarelo-torrado e o calor da noite, esfumado, e um dedo que percorria ainda o reverso de um joelho.

2005-07-07

O Sentinela das Estrelas


Surfista Prateado Posted by Picasa



Li há tempos que, de embalo nos sucessos da passagem para o cinema de outros heróis da Marvel, estão a pensar fazer um filme sobre um dos meus heróis favoritos: o desterrado e altruísta Surfista Prateado.

Aliás, foi isso que disse no Substracto depois de ler por lá um post em que ficava prometido, para um outro dia, um texto sobre o Norrin Radd. E estou a aguardar esse post, claro!

Mas o curioso foi que o Adamastor me perguntou que actor gostaria eu de ver a protagonizar o filme. Imediatamente, lembrei-me do Guy Pearce. E agora pergunto a quem me lê:

- E vocês? Quem é que acham que podia fazer um "Arauto Cósmico" que desse vontade de ir ver?

Terror

Another head hangs lowly,
Child is slowly taken.
And the violence caused such silence.
Who are we mistaken.

(...)

In your head, in your head
They're still fighting.
With their tanks and their bombs
And their bombs and their guns.
In your head, in your head
They are dying.

The Cranberries - Zombie



Ouvi hoje que, ainda que Londres esteja habituada aos ataques bombistas e ao terrorismo, antes o IRA costumava telefonara a avisar primeiro que havia uma bomba. E permitiam, assim, que fosse tentada a evacuação para minimizar o número de vítimas civis.

E fiquei a pensar que, antes, até o terror tinha um grau de decência que cada vez parece esfumar-se mais rapidamente do nosso quotidiano.



(Já sei que é uma análise simplista, mas não consigo deixar de pensar que, entre os mortos, estão crianças e velhos e que esses nunca são ameaças; são quase sempre apenas alvos para a cobardia.)

2005-07-06

teddy-poeta

2.
Lá vem o teddy-poeta

que não tem nada a dizer
filho-família do mar
que lhe morreu ao nascer.
Parasita das palavras
que tem no banco a render
e se gastam, como a voz
dum povo que vai morrer.

Lá vem o teddy-poeta
que não tem nada a perder.
Vem numa hora de bruma
depois do café com leite
depois do banho de espuma
que lava o sal e o cheiro
a fingir que se levanta
dum leito de nevoeiro.
Chega de Alcácer Quibir
com escorbuto na alma
e morre, mas devagar,
neste mar-asma de calma.

José Carlos Ary dos Santos - Os Sapatos



Já repararam como é fácil descartar os pretensiosismo dos imbecis se desligarmos o ouvido e ligarmos a visão? Fica tudo tão mais fácil e divertido depois de lhes contarmos quantos pelos lhes vão crescendo no nariz e nas orelhas...

E já repararam como é tão mais fácil tolerar os imbecis misóginos que, à falta de melhor actividade física, desatam a escrever bacoradas em todo lado, se pensarmos que estão apenas munidos de uma pilinha tamanho XS que nem com grua levanta?

E hoje é para o peixinho...





Parabéns, Cachucho :))))


Que tenhas um dia muito, muito feliz!


E vê se tiras muitas fotos, para depois mostrar à malta. É que, se pensar bem, só te vi com uns collants perfeitamente assassinos e uma peruca que não lembrava nem ao mais careca dos travestis ;-)


(Afinal são precisas quantas velas? E os morfes são mesmo onde?)

PS - Se estavas a mangar de mim, nunca mais levas uma beijoca de parabéns. Só para avisar...

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imagem aqui

2005-07-05

Não havia necessidade!

Por vezes fêmea. Por vezes monja.
Conforme a noite. Conforme o dia.

Natália Correia - Auto-retrato



Até estava com uns quilinhos a mais e coisa e tal e até vêm aí as férias e o fato de banho e nem havia problema e, ok, ok, as calças têm de ser apertadas de novo e assim, mas a t-shirt preta nova fica muito melhor e não sei quê...

Mas agora comecei a emagrecer nas mamas. Nas mamas não, porra! São minhas! Há muitos anos que são minhas! E gosto delas!

Ora foda-se!



(quando será que posso voltar a comer sal para me apetecer voltar a comer?)

Parabéns, Espumante :)


Parabéns! Posted by Picasa


Desculpa lá o cor de rosa, só que não arranjei um fundo verde. Mas tem bolhinhas e, supõe-se, será um bom Espumante para festejar como deve ser.

Que contes muitos!

Já agora, cá está a melhor forma para veres a prenda:





aqui


(Confesso que, de início, apanhei o Espumante com ataques de politiquice aguda e pensei o pior: "ora bolas! Mais um blogue sobre política!"


Mas não, estava enganada. Felizmente, estava enganada. O Espumante fala de política às vezes. Mas até eu falo de política às vezes. Só que fala também de muito mais.


Suponho que - por tudo o que lhe tenho lido - sejamos bastante diferentes um do outro. Fiz, aliás, uma imagem muito precisa de como seria o Espumante na minha imaginação. E até quase já o podia visualizar, com um pequeno sorriso nos lábios, a teclar (comendo letras) nas caixas de comentários por onde vai passando. Mas depois soube-lhe o nome e agora a imagem ficou de ladecos. É que o nome até deve estar certo, mas não era o que eu tinha imaginado. Reclamei no próprio dia, aliás.


Depois, há o sentido de humor que se desprende das palavras do Espumante. Tornam logo possível ver que ali está alguém que sabe que também se pode falar a sério com um sorriso.


E, sabem, gosto também da forma como aceita uma brincadeira, ou como a fomenta até. E, quando assim acontece, dá prazer responder só para ser do contra. E eu gosto de ser do contra! E de saber que posso provocar um bocadinho e ser provocada de volta. E de até receber um poema quando nem bem estava à espera.


E hoje gostei de chegar aqui e sentir que ficou feliz com o post pobrezinho que escrevi com minutos contados. Por isso, cá estou a fazer a adenda merecida.


O pior - ou se calhar o melhor de tudo - é que agora, quando lhe dá ataques de politiquice aguda, eu só consigo imaginar os alvos que escolheu para atacar perfilados num urinol público...)


Patati, patata, já está!


2005-07-04

O meu umbigo



aqui


De cada vez que vejo uma sombra de tristeza de empatia soterrar o olhar de alguém, ou tão só o imagino, fujo para a gargalhada que me alenta. Talvez por isso as minhas caixas de comentários sejam bem mais divertidas do que os textos…

Se calhar nunca consegui explicar bem a mim mesma os motivos porque pus a voz em fuga no éter. Talvez afinal tenha sido para que a minha voz não ficasse amordaçada junto com os pedaços que me compõem. Talvez a voz apenas fuja de mim e, escrevê-la, seja a forma fácil de a domar, lhe pôr as rédeas possíveis.

O exercício de escrever acrescenta-me pedaços: os pedaços que quis esquecer; os que esqueci de facto; os que inventei para completar lacunas de vida, de esperança, de força e vontade de ser.

Sou um umbigo egocêntrico. Partilho o que posso, quando posso. Dou o que é fácil dar, reservo-me depois. Estendo as mãos às vezes, contaminada por noções idílicas de altruísmo. Cuspo fogo outras vezes, ao sentir-me cerceada, cercada, coagida. Mas é um eu, o meu eu, que se mantém em primeiro plano. O eu que me coage a só falar do que me dói quando a dor abrandou. O eu que me faz esquecer datas importantes, pessoas especiais. O eu fragilidade pelo possessivo que lhe acrescento de forma demasiado fácil.

E hoje estou bem, quase demasiado bem, satisfeita, quase completa. A saborear instantes e a tentar não encontrar defeitos. A fazer dos instantes um elástico, um ir e voltar. Mas não temo que o elástico rebente na minha cara. Temo antes a pressão de proximidades demasiado súbitas que fazem todo o meu eu encarquilhar-se, ganhar energia de fuga, procurar uma saída e fugir ainda…

Em época de férias nos blogues, sentindo que volto a escrever quase só para mim, regresso ao umbigo que me fez criar a Voz há quase um ano.

E ando a tentar reencontrar a gargalhada, mesmo que me sinta, por vezes, palhaço triste com roupas alegres, ou palhaço alegre com uma lágrima triste.

Por isso, não me liguem! Talvez eu seja demasiado portuguesa afinal e traga talhado a fogo dentro do peito um fado meu que ainda nem existe e, no entanto, já sei cantar…


2005-07-02

A minha geração

As I walk through the valley of the shadow of death
I take a look at my life and realize there's nothing left
Cause I've been blastin and laughing so long that
Even my mama thinks that my mind is gone

Coolio – Gangsta’s Paradise



A minha geração. Que nome pomposo, certo? Mas hoje não me saiu da cabeça, tudo à conta das mensagens a propósito do Live Aid e de como todas as gerações podem ter actos grandiosos.

E, no entanto, eu olho para trás e não me consigo visualizar como fazendo parte de uma geração de eleitos. Aliás, encontro-me antes perante um cenário de tragédia de reminiscências épicas, algo que os gregos teriam adorado.

A minha geração fez o primeiro Live Aid. Claro que o fez! Mas, nos intervalos, arranjava formas novas de meter heroína no corpo. Olho para trás e é disso que me lembro: cachimbos, seringas, tripes megalómanas, egos frágeis carcomidos por necessidades que não paravam de crescer.

Não sei se tive sorte ou simplesmente azar. É verdade que não sei. Porque arranjei maneira – ou me arranjaram – de evitar uma descida aos infernos. Ou, se calhar, nem foi bem assim, porque fui na mesma aos infernos à conta de outros. E não há nada que me faça mais mal até hoje do que ver quem gostamos em privação. Dói! Dói um absurdo.

Da “minha geração”, se por geração estiver a falar do grupo de adolescentes que se reunia ao cima da rua todas as noites depois de jantar, sobram poucos, demasiado poucos para que ainda faça sentido para mim a palavra geração. Do grupo que, da escola primária transitou para a preparatória, sobram-me os dedos de apenas uma mão para dizer quem não experimentou drogas duras. E sobram-me dedos de duas mãos para aqueles que, tendo experimentado, não acabaram agarrados. O trágico, ou nem por isso, é que um desses dedos sou eu.

Até hoje, pesa-me de alguma forma ter sobrevivido. Por ter andado tão perto do abismo sem lá cair. Por ter arranjado alguma forma de me segurar. Não sei o que havia em mim de diferente. É que não sei mesmo. Éramos todos tão parecidos, tão demasiado parecidos, que estranho o fim de uns, os caminhos que escolheram para esse fim, e os outros que, como eu, arranjaram formas de mudar de rumo.

Qual terá sido o leme? Não sei. Não sei mesmo! Sei apenas que já fui a demasiados funerais, que escolhi não pôr os pés em outros tantos. Sei que sobrevivi à adolescência, à necessidade de pertença a um grupo, às roupas e aos rituais de integração. E estou viva!

A solidão não nos abandona quando olhamos para trás e vemos como tantos dos “nossos” partiram antes do tempo. A minha geração é uma geração decepada de muita gente brilhante, que nem teve tempo para provar como era brilhante. É uma geração de sobreviventes. E os sobreviventes, apesar de tudo o que me possam dizer, não são necessariamente os melhores. São apenas os que tiveram sorte. Ou os covardes, porque ter parado pode não ter passado de covardia. Ou então corajosos, porque parar, perante o grupo, sempre foi um acto de coragem. Mas nunca, nunca, os melhores.

Os melhores, de todos os que conheci, já se foram. Partiram cedo, de forma extemporânea, encontraram o buraco no fundo de uma agulha ou dos caminhos para essa agulha.

E sobraram os outros, uns poucos de outros. A estes, resta viver com as memórias, com a noção de que sobraram por algum motivo desconhecido. E eu, de entre eles, ainda procuro o caminho para além da culpa. Porque a culpa é tramada. Faz-nos sentir a mais, faz-nos sentir usurpadores de vidas que não nos pertencem. Sim, vivo para além da culpa. Vivo para provar a mim mesma, todos os dias, que não preciso sentir-me culpada por ter sobrevivido.

Perdi demasiada gente. Custou encontrar-me. Mas estou viva!

E este post é para uma amiga especial que escolheu como rumo de vida provar a cada miúdo que vive na beira do abismo que há esperança para lá disso. Mesmo que a esperança se construa de salas de isolamento almofadadas. Porque o teu esforço diário para salvar a geração de amanhã faz-me desejar, hoje que olho para trás e vejo tudo quanto perdi, que alguém como tu tivesse visitado a minha geração. Ou, pelo menos, o pedaço da minha geração que se juntava, todas as noites, ao cimo da minha rua.

2005-07-01

O meu carro...

... ou a história de como salvei o mecânico*.



aqui



Hoje de manhã, quando desci até à garagem e meti o corpinho dentro do carro para, assim, dar início à Sexta-feira, vi-me confrontada com um sério problema: a chave não rodava, porque não rodava mesmo, na ignição. Convém dizer que a garagem fica num simpático -2, com duas rampas que mais parecem o Everest, antes de conseguir alcançar a solarenga manhã de Verão que me esperava. E já me estava a ver na sombra por um bom par de horas...


Ora, se há coisa que sou é teimosa. E a puta da chave não havia de me ganhar! Aliás, nem seria a chave, que a suplente e até a pequenina do código para mandar fazer mais, recusavam-se também a rodar, fosse de que forma fosse, no buraco da ignição.

Dez minutos a dar à chave, a mão já pisada do esforço, suada, despenteada, quase desisto com um "foda-se! Enfiar não é comigo". Mas depois lá me lembrei que, afinal, podia ser tudo uma questão de jeito, que não valia apenas enfiar e rodar à bruta: suavidade e cortesia com o buraco e, bingo! a chave lá resolveu dar a voltinha. Ou o buraquinho deixou que ela desse, o que me parece mais provável...

Mas não era situação que me agradasse e, então, a primeira paragem do dia, teve mesmo de ser o Sr. Mecânico, homem muito simpático aliás, que me costuma ir buscar o carrinho de manhã e levar concertado ao fim da tarde, sem eu ter de pagar por isso e ainda é bem capaz de me telefonar para avisar que "para a semana já estamos na altura de ver os níveis, Doutora". Confesso que, até hoje, resisti à curiosidade de saber que níveis quer ele ver. Mas é tudo à confiança, que assim é que eu gosto.

Fui a primeira cliente a entrar pela garagem dentro, mão direita feita num oito, quase com uma tendinite, de tanto tentar rodar a chave, farta, fula, a ver a Sexta-feira - e eu gosto de Sextas-feiras - a andar para trás ainda antes de começar.

- Sr. Moura, socorro! A chave não roda da ignição. Não está bem a ver como foi para pôr o carro a trabalhar... - disse-lhe eu.

- Não se preocupe com isso, Doutora: deve ser tudo uma questão de lubrificação. Daqui a uma hora levo-lhe o carrinho. - responde-me ele, já com ar de "aqui tudo se resolve num instante".

- Uma hora? Tem a certeza? Olhe que a coisa está mesmo perra. Não sei se lubrificando vai ao sítio. - digo eu, já certa de que nem com vaselina aquilo se resolvia.

E lá vim embora, descansada, que o homem sempre cumpriu o prometido.

Uma hora depois, recebo um telefonema desesperado:

- Oh Doutora, como é que conseguiu rodar a chave de manhã? É que isto não roda mesmo.

- Pois era o que lhe dizia, Sr. Moura. Não roda à força. Tem de ser com jeitinho.

- Jeitinho, Doutora? Mas qual jeitinho! Estou a tentar há uma hora, para o poder levar ao electricista...

- Olhe, deixe estar que eu vou já ai. Acho que ainda lhe estou com o jeito de hoje de manhã.

E lá fui eu, outra vez, ter com o mecânico e a viatura. E, desta vez, a chave rodou - devagarinho e com jeitinho - logo à primeira.

- Eu disse-lhe: tinha de ser com jeitinho. Afinal, estamos a falar de umA ignição e de umA chave...

- Ainda bem que cá veio, Doutora. Já me salvou o resto do dia...

Nem tentei descobrir o que tinha salvo eu, enquanto olhava para o farfalhudo bigode do meu mecânico. Mas, ao fim da tarde, lá tinha o carro pronto, lavado, aspirado e encerado, com uma ignição a aceitar a chave, a funcionar e uma factura sem IVA a 21%: 80 euros de "tombo" não foi demasiado trágico. Da última vez, na Marca, por causa do fecho centralizado, tinham sido 150. E acho que não salvei o dia ao antipático que me atendeu por lá.

Linha branca e conhecimentos pessoais! Está visto: vou continuar a actualizar as minhas listas de prioridades contra a crise.





* E ele me salvou o fim de semana :)