2005-09-30

Companheiras na desgraça

Your Seduction Style: Au Natural

You rank up there with your seduction skills, though you might not know it.
That's because you're a natural at seduction. You don't realize your power!
The root of your natural seduction power: your innocence and optimism.

You're the type of person who happily plays around and creates a unique little world.
Little do you know that your personal paradise is so appealing that it sucks people in.
You find joy in everything - so is it any surprise that people find joy in you?

You bring back the inner child in everyone you meet with your sincere and spontaneous ways.
Your childlike (but not childish) behavior also inspires others to care for you.
As a result, those who you befriend and date tend to be incredibly loyal to you.


Já está, Luna. Nunca te deixaria sozinha com um teste destes. Até porque também não sei resistir a responder a todos.

Mas agora fiquei para aqui a pensar na treta da inocência... Bem me queria parecer que era um anjo. Eu ainda não sabia que era um anjo. Mas sou. Está aqui a prova. E um anjo "au natural". Que outro feitio podia eu arranjar?

(Dizer que já fui ao casamento de dois ex-namorados não deve ter interesse nenhum, pois não?)

Fim de Semana


aqui


Abro um sorriso do tamanho do Mundo e prendo-me nos braços quentes da ternura.

Confesso um pecadilho com a inocência de uma criança e passeio os olhos pela tarde.

Remeto ao silêncio a canseira quotidiana, celebrando a vida engalanada nos rostos da esperança.

___
Bom fim de semana. E eu nem na segunda trabalho... :)

A Rebel For All Seasons


aqui


Morreu aos 24 anos. Mas nenhum adolescente o deixará jamais morrer. E, porra, já passaram 50 anos...

2005-09-29

Saiam-me da frente!


recebida por mail Posted by Picasa


De um momento para o outro, mudaram-me as chefias todas, sem darem cavaco (issa!) e sem pedirem opinião. Nada de novo, portanto. Mas, como de costume, o trabalho - que já não é pouco -, aumenta na proporção directa do desconhecimento do que se passa pelos gajos que aterram de pára-quedas.

Como se tudo isso não bastasse, o cabelo recém desaparecido - o remanescente dele, pelo menos - acorda sempre num "bad hair day" e o meu humor acompanha os percalços da peruca: saiam-me da frente até ao terceiro café, ou não respondo por mim; saiam-me da frente a partir do sexto café, ou vão achar que de manhã eu estava muito bem disposta.

E, sim, hoje estou de todo e mais vale nem ficar por cá muito mais tempo: é que se o dia já estava a ser mau, ter apanhado com um engarrafamento de trânsito por causa da campanha eleitoral, deixou-me mesmo a ver só os fumos da paciência.

Além disso, há a forte probabilidade da PMS ter batido mais forte do que o costume este mês. E o facto de ter emagrecido três quilos e não ter umas putas de umas calças que me assentem bem no cu também não está a ajudar nada.

(Vou-me mas é a ver se como alguma coisa com a Cota Marada, que entretanto mudou de nick, mas eu gosto mais do antigo, para depois ver se o Miguel "crominho" e a MJ me dão a música certa)

Até amanhã.

2005-09-28

Medo

Se não há Deus, tudo é permitido.

Dostoievski - Os Irmãos Karamazov


Eu não acredito num qualquer Deus, tal como o pintam as religiões. E, no entanto, sinto em mim a necessidade de Divino e nem é só por temer a excessiva responsabilidade que comporta a minha solidão responsável, tal como a entendem os existencialistas.

É mais um temer a incompetência, já tantas vezes provada, da Humanidade.

erotismo


aqui

Só para dizer que o comPILAções foi actualizado :))

(a ver se logo arranjo tempo para "blogar"...)

2005-09-26

Socorro!


Cavaco



Dão-se alvíssaras por uma daquelas imagens do gajo a comer Bolo-Rei de boca aberta, que é para eu me lembrar porque não o quero como representante máximo desta republicazinha das bananas.

É que a esquerda não está a ajudar mesmo nada...

2005-09-25

Pílula amarga

Eira de milho
luar de Agosto
quem faz um filho
fá-lo por gosto.

José Carlos Ary dos Santos – Desfolhada


Um filho por gosto é, muitas vezes, o luxo que não se tem, a vocação que não se pode ter. Quantas e quantas mulheres, não só em Portugal mas pelo mundo fora, não têm filhos por todos os motivos excepto o gosto? Quantas neste nosso país, dito civilizado, aos 14, 15, 16 anos, não recorrem às urgências dos hospitais depois de abortos de filhos que eram tudo menos vocações, sujeitando-se ainda a serem julgadas e presas por 3 anos? Quantas e quantas não têm filhos "por engano", "por burrice", "por desconhecimento", "por fé religiosa", o que lhe quisermos chamar, tudo menos por vocação ou gosto?

Quando a Simone cantou o verso de Ary dos Santos (que escapou por pouco ao lápis azul da censura), era um grito de revolta das mulheres portuguesas oprimidas pela moral do "Deus, Pátria e Família", que deviam chegar puras ao casamento e nunca, mas nunca mesmo, fazer filhos por gosto, porque gostar de sexo era pecado.

Hoje, continua a fazer sentido. Porque hoje se continuam a fazer filhos por tudo menos por gosto. Conheço até quem os faça para salvar casamentos condenados, para garantir pensões alimentares, para fazer chantagem emocional, o diabo a quatro. Filhos como armas, não como vocação.

Sim, deviam ser feitos filhos por gosto, como vocação. Mas não é isso que acontece muita vez. Como acontece ainda a muitas mulheres não fazerem sexo por gosto, mesmo que não seja para fazerem filhos. Porque há mulheres de todas as idades, com uma série de formações morais e religiosas; porque há mulheres que não sabem, nunca souberam, ser livres o suficiente na sua sexualidade para fazerem filhos por gosto e a partir daí construirem uma vocação.

E agora até querem descomparticipar a pílula, como se só quem tem dinheiro pudesse foder por gosto... ou ir ali a Espanha desmanchar os acidentes de percurso.

2005-09-24

Vómito


aqui


Quem não quer ser lobo, não lhe veste a pele.

Lá vem outra vez o Teddy-Poeta, porra! Não descansa. Não sossega. Não atina.



Ai que náusea!

Amor virtual


No novo mundo virtual, descobre-se que a paridade ganha terreno. Os homens e as mulheres trabalham a sua libido com a mesma constância nos fóruns, nos chats e SMS. A Internet substituiu os bailes populares e as discotecas. (...)Os novos infiéis debicam e multiplicam encontros. (...)Fazem zapping. É uma nova forma de amor com telecomando(...)

Robert Ebguy, in Le Nouvel Obcervateur (citado na Visão de 02/09/2004)


Amor com telecomando? Mas por acaso alguém pode ligar "o amor" clicando num qualquer botão on/off?

Fode-se on-line. Ou há masturbação mútua, higienicamente anónima.

Mas não há como construir amor. O amor é bem mais do que sexo e, mesmo quando mantido à distância, em algum momento precisará da proximidade do tacto, dos cheiros, dos olhares, das substâncias e circunstâncias mútuas, para se consubstanciar.

Ou então fica, também ele, um sentimento fast-food, descartável. Um enamoramento passageiro, com botão on/off e os dias contados e recontados da inconstância.

Pode alguém amar sem confiar? Pode alguém confiar nas palavras tesudas que, dia após dia, são o repertório repetido, os signos e os símbolos expurgados de sentido, dos roteiros das quecas on-line?

Não basta fazer um upgrade dos conceitos. Eles precisam continuar a significar alguma coisa...

2005-09-23

Um rio...


Antony and the Johnsons - River of Sorrow

There is a black river
It passes by my window
And late at night
All dolled up like Christ
I walk the water
Between the piers

Singing
Oh
River of sorrow
River of time, river
River of sorrow
Don't swallow this time

For we all know the baby has expired
Long ago she was pulled from the mire
And no precious liar or well-wisher
Can return the love that was stolen

Oh
River of sorrow
River of time, river
River of sorrow
Don't swallow this time

Can you see the light
At the end of the dark passageway
Take me with you towads this light
Into the darkness passing over the faces in the river
Hear me!
I'm whispering in your ear!

Oh
River of sorrow
Oh, river of time
River of sorrow
Don't swallow this time

Oh
River of sorrow
Oh, river of time
River of sorrow
Don't swallow this time



Até as lágrimas pequenas são salgadas. Até as lágrimas pequenas fazem um rio, fazem um mar.


(...não sequei!)

2005-09-22

Tipos de Corno


aqui


CORNO DESCONFIADO

Um sujeito chega a casa, abre a porta e encontra a mulher de rabo pró ar a limpar o chão... e ela está vestida apenas com um avental!
O traseiro nu e balançado deixa-o excitado e ele nem hesita: baixa as calças e... explode num orgasmo mas, de seguida, dá uma surra na mulher. Ela fica revoltada:
- Tás maluco ou quê? Deixo-te comer sem dizer nada e ainda me bates? Posso saber ao menos porquê?
Ele olha-a com ar zangado e responde:
- Nem te viraste para ver quem era!


CORNO INGÉNUO

Ao chegar mais cedo a casa, o marido encontra a mulher na cama, nua e ofegante.
- O que foi, querida? Não estás bem?
- É um ataque do coração!Ao ouvir isso, o marido corre feito louco ao telefone para chamar a ambulância. Enquanto tenta ligar, o filho chega perto e diz:
- Pai, está um homem nu na casa de banho.
Ele vai até lá, abre a porta e dá de cara com o melhor amigo! Fica indignado:
- Pelo amor de Deus, Ricardo. A Fátima a ter um enfarte e tu aí em pelota a assustar as crianças!


CORNO DISTRAÍDO

O marido chega a casa e fica surpreso ao encontrar a mulher deitada na cama completamente nua.
- O que aconteceu, Clarice?
- Nada, é que nenhum dos meus vestidos é confortável e estão todos velhos!
- Como?? diz o marido, abrindo o armário. Ainda na semana passada compraste três modelos! E olha este vermelho, o azul, o estampado, o cinza-claro, o Ricardo, o verde...


CORNO PRAGMÁTICO

Ele chega de surpresa e encontra a mulher na cama com outro! O marido nem quis saber de nada, sacou logo do revólver.
- Por amor de Deus! - Interrompeu a mulher. - Então não sabes quem pagou aquela dívida do banco? E o apartamento na praia? E o carro novo?
- Por acaso foi você? - Perguntou o marido, dirigindo-se ao outro.
- Fui eu mesmo! - Concordou o amante.
- Então, faca o favor de se tapar, que eu não quero ninguém constipado na minha cama!


CORNO INVISÍVEL

Ele chega mais cedo do trabalho e encontra a mulher na cama com o seu melhor amigo:
- Sandra! Ricardo! Como foram capazes de me fazer uma coisa dessas? Tu, Sandra, a quem sempre fui fiel durante todos estes anos. E tu, Ricardo, a quem ajudei nos momentos mais difíceis e... VOCÊS NÃO SE IMPORTAM DE PARAR UM BOCADO E PRESTAR ATENÇÃO AO QUE ESTOU A DIZER?? (*)





(Confesso: também já contribuí para a espécie. Mas não fui apanhada...)
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(*) recebido por mail

Ratonices


aqui


Sou uma bota velha, daquelas de elástico, no que toca a valores e a princípios... E, sim, sou mesmo teimosa. Tão teimosa que não encontro nunca eufemismos que justifiquem o que está errado. Roubo é roubo. Ponto. Seja de um texto que não nos pertence, seja de uma imagem, seja assaltando e violando o segredo de um PC alheio, seja metendo a mão à carteira, seja arranjando um saco azul ou de outra cor qualquer. É roubo. E não há meias verdades para uma verdade clara. E, ainda que entenda (alguns) dos motivos, recuso-me a compactuar, a desculpar.

2005-09-21

Lilith

(...)
E no amor que dei
e no Amor que tive
eu fui toda mulher – fui vertical

Eu fui mulher em espanto
fui mulher em espasmo
fui o canto proibido e solitário

Só tenho um itinerário: Amor-Mulher.

Manuela Amaral – Auto de Fé


Não quer a rotina da posse, nem o ciúme violento pelo que não tem tendo.

Nem quer o compromisso que cala em léxico ordeiro o desejo violento e verdadeiro.

Quer o encontro abençoado de corpos que se dão em liberdade, cantando na canção do sexo a música da paixão libertadora.

Será demónio condenado por não se privar de ser mais mulher do que farrapo, mais senhora do que capacho.

É o grito da independência em lugar de confissões mornas ou rosários da intolerância.

Não se põe rédeas nem peias, nem crises de moralidade, que não há pecado na natureza, só nos olhos e nas mentes que tentam domar o natural, recriando-o em artifício.

Filha da terra será. Filha pura e insubmissa, de Pai incógnito e ausente. Deusa pagã, matriarca, sem castas nem atilhos.

Dá-se. Por gozo, por prazer. Com fogo e sanha, voracidade. Prazer que se sacia para se renovar.

Não teme a liberdade de se dar por inteiro. Corpos nus rodopiantes, ao léu perante o fogo e o gelo.

É fogo. É gelo. É degelo em combustão.

Cai faminta ainda, voragem sugada e sugadora.

Em liberdade contra a mentira do pecado e a moral da subjugação.

Lilith será. Seremos...



aqui


(um "repost"... lembrei-me dele ao ler o que se vai dizendo lá pelo Charco)

Eclipse (dia 3 de Outubro)


eclipse


Cuidado com os olhos!

(Mais informação aqui)

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obrigada, oh desaparecida!

Bardamerda!


aqui


Quando, finalmente, uma "gaija" até arranjou vontade de vir dizer qualquer coisinha e responder aos comentários, é a porra da netcabo que faz greve...

Não há condições!

(a ver se, logo, funcionamos as duas...)

2005-09-20

Fim da cruzada


aqui


Encontrei os assassinos que procurava e vivi mais do que eles.

Simon Wiesenthal (1908-2005)



(talvez agora descanse...)

2005-09-19

Ai a merda!


aqui


Blogger simpática, independente, sem tabus, capaz de alinhavar duas ou três palavrinhas, procura inspiração desaparecida.

(A inspiração pode vir como quiser, desde que seja em passo de corrida. De preferência, deve cair directamente em cima da cabeça da blogger desinspirada, à semelhança da cagadela de gaivota que caiu na cabeça da M durante o casamento da A.)

De olhos bem fechados


aqui


Sabes bem que ter os olhos abertos é mais do que ter as pálpebras descerradas.

Sabes bem que não sei ter ânsias de futuro sem ter âncoras no passado.

2005-09-18

Somebody


Depeche Mode - Somebody

I want somebody to share
Share the rest of my life
Share my innermost thoughts
Know my intimate details
Someone who'll stand by my side
And give me support
And in return
She'll get my support
She will listen to me
When I want to speak
About the world we live in
And life in general
Though my views may be wrong
They may even be perverted
She'll hear me out
And won't easily be converted
To my way of thinking
In fact she'll often disagree
But at the end of it all
She will understand me
Aaaahhhhh....

I want somebody who cares
For me passionately
With every thought and
With every breath
Someone who'll help me see things
In a different light
All the things I detest
I will almost like
I don't want to be tied
To anyone's strings
I'm carefully trying to steer clear of
Those things
But when I'm asleep
I want somebody
Who will put their arms around me
And kiss me tenderly
Though things like this
Make me sick
In a case like this
I'll get away with it
Aaaahhhhh...




Tenho um amigo para quem esta música é especialmente importante. E dois amigos que a escolheram pelos melhores motivos para banda sonora. E eu só tenho é que ficar caladinha. Enlevada, mas caladinha...


(será que parece mal se confessar que também fico um bocadinho invejosa?)

2005-09-15

Carícia


aqui Posted by Picasa


Pediu que lhe desse a mão e, gentilmente, afagou-lhe os dedos. Beijou-os. Beijou-lhe também a palma da mão com uma pequena sugestão de língua. Depois, afagou-lhe de novo os dedos, enquanto a outra mão subia para uma carícia no pescoço dela. Então, os dedos dele perderam-se por entre os cabelos dela, até que um polegar sabedor se alojou lá, no sítio certo, naquele pequeno espaço por trás da orelha onde a pele é mais sensível e vibra com as golfadas de sangue quente que se animam dentro da jugular.


(até Domingo)


2005-09-14

Careca


aqui


Pronto! Estou careca.

Bem, careca talvez não. Mas sinto-me careca. Metade da peruca foi-se, juntamente com a tinta ruiva que já há muito me saturava.

Mas qual terá sido a parte do "é só para aparar" que a mulher não percebeu? Lá se me foi a juba. E agora estou para aqui praticamente careca. Quase irremediavelmente careca, com uns míseros fiapos de cabelos desbastados a cair abaixo dos ombros.

E já nem uma careca ruiva sou. Só praticamente careca. E sinto a cabeça demasiado leve e tenho cabelo a voar-me por todo o lado, com um ar ainda mais despenteado do que o costume. Despenteado e careca, claro. Que isto já não é o meu cabelo. É uma amostra. Uma miserável amostra!

Dá uma mulher couro e cabelo (salvei o couro, ainda assim) para ficar neste estado...

Quem me manda a mim ler o jornal enquanto uma cabeleireira entusiasmada ataca, de tesoura e navalha em riste, a minha encaracolada, desgrenhada, volumosa cabeleira?

Estou careca!


(...mas ouvi ainda agora um assobio...)

Suicídio Assistido

Anoche soñé que oía
a Dios, gritándome: ¡ Alerta!
Luego era Dios quien dormía,
y yo gritaba: ¡ Despierta!


António Machado


No espaço de um soluço, enfrento-me com uma fugidia lembrança que me recorda um luto. Mas abafo esse soluço. Ela não iria querer-me a chorar.

Ver a minha avó condenada a uma cama durante cinco dolorosos anos, sem poder mais do que mover os olhos, sempre lúcida e sem se poder expressar, justificam em mim e para mim todas e quaisquer decisões futuras sobre como dispor do meu corpo e da minha vida.

Se um dia me vir assim condenada a uma morte em vida, a um caixão feito cama articulada, que alguém tenha a gentileza de me deixar morrer.

Porque há sofrimentos e desumanidades que ninguém merece.

E sem soluços, por favor.

2005-09-13

Demagogia


Suponho que em toda a sociedade a produção de discurso é, ao mesmo tempo, controlada, seleccionada, organizada e redistribuída por um certo número de processos que têm por fim conjurar-lhe os poderes e os perigos, dominar-lhe o acontecer aleatório, evitar-lhe a pesada, a temível materialidade.

Michel Foucault - A Ordem do Discurso


Às vezes o ruído à nossa volta - especialmente o que se sente proveniente dos três canais generalistas e de mais todos os jornais dos mesmos grupos de interesse, acrescentando ainda todos os discursos de todos os políticos - deixam-me com vontade de silêncio. Um silêncio que desconstrua discursos, desconstrua demagogias, tape a boca aos demagogos.

E temo e tremo quando me sinto a escorregar para os braços da utopia: quando ainda há esperança, quando o discurso não pretende ser mais do que isso, quando as crenças e os valores e os credos e a moral ainda encontram espaço e conjuram as suas verdades.

Apetece-me fugir para bem longe dos tentáculos peçonhentos da demagogia bacoca com que se contabilizam mortos como se fossem sacos de batatas e se ferem os olhos em prime-time e se discursa por tostões.

E às vezes só nos resta mesmo o silêncio para tentar escapar d'a pesada, a temível materialidade por trás das palavras.

2005-09-12

Nessa noite...


aqui


nessa noite única noite em Lisboa
maior mesmo que um deus nunca afinal maior que eu

Ruy Belo - Toda a Terra


Não sei como segurar a vontade. Ou talvez saiba, mas seria sempre necessário encontrar um motivo válido. E a validade de cada motivo joga em bitolas maleáveis. Só nunca me armo em inocente. Já não...

Sei o que estava à espera e o que aconteceu. Sem remorsos, ou não haveria desculpa para o depois. Como não haveria desculpa para o antes, que os jogos há muito que perderam a ingenuidade.

Com limites, no entanto. Em cada momento, um limite novo. Casuístico, cansado, vivido. Talvez vivido demais...

Já não há calendário onde apor uma cruz por cada objectivo, nem marcos erguidos em cada praia. Porque o tempo já tem uma dança nova e as conquistas já não se fazem de marcas plantadas na areia.

Há cansaço. Não há rotina. Há promontórios onde ainda estou presa por correntes condenadas. Mas seguro na ponta da esperança a chave de todas as grilhetas.

E há a busca de prazer que alheia maleitas e azedumes, que não deseja algemas nem compromissos. Fora de mim. Demasiado dentro. Um "agora" só isso. Talvez um outro que nunca chegará. E a certeza bendita da segurança assim reencontrada: dar tudo de mim, sem pedir pedaço e sem perder pedaço algum, porque nunca mascarada de ilusão.

Sem dissimulações de mim. Eu e o aparente eu às claras, sem subterfúgios nem logros.

2005-09-11

9-11


aqui


Eu este ano nem ia dizer nada...

Filmes Velhos

Recomeça...
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
(...)


Miguel Torga - Sísifo



Tindersticks - Trouble Every Day


Nunca ninguém disse que seria fácil a jornada. Todos os dias aparecem problemas.

Mas não há direito a descansar enquanto não se alcança o prometido, mesmo que o prometido seja uma pena perpétua. Porque não há direito a contentar-nos com seja que fruto pela metade.

E as bobinas da memória podem ter um filme velho lá dentro, podem estar todas amolgadas... Mas o filme ainda vale a pena estar guardado, se foi vivido por inteiro.

Não se perdem bobinas. Limitamo-nos a acumulá-las, pelo que umas acabam mais esquecidas e cheias de pó nas prateleiras da memória.

2005-09-10

O presente


Foto de Daniel Gieseke


O Cachucho, dos Enresinados, ofereceu-me esta foto aqui de cima como presente por um ano de Voz em Fuga.

Por acaso achei bem, achei mesmo muito bem. Melhor só se ele tivesse juntado o número de telefone do mocinho.

É que, assim, em vez de andar tantas vezes a dar banho ao cão, talvez passasse a dar banho a outro animal de estimação...

2005-09-09

Vibrações


Para além de um ponto crítico dentro de um espaço finito, a liberdade diminui quando os números aumentam.

Frank Herbert - Dune


Dizem que as palavras produzem vibrações. Lembro-me, por exemplo, como no "Dune", do David Lynch, baseado na soberba obra de Frank Herbert, as palavras eram usadas para fazer a guerra, pela vibração que produziam. Da mesma forma, o som confortador de uma voz amiga é, muitas vezes, quanto nos basta para nos sentirmos melhor. A voz da nossa mãe, por exemplo, que temos tão entranhada na mente que, num simples sussurro, reconhecemos entre todas as outras, será sempre um porto de abrigo.

Mas na net as palavras são mudas, planas. Não carregam a vibração do nosso sentir. São vazias das vibrações que tocam todos os cantos dos nossos sentidos. Transmitem a mensagem possível, empobrecida.

Ás vezes sinto que encho páginas atrás de páginas de palavras mudas, como se pelo número compensasse a pobreza implícita de palavras que não vibram. Ou talvez seja por isso que dou ritmos às frases, abusando de figuras de estilo, para que não pareçam todas tão silenciosas, escritas em silêncio para em silêncio serem lidas.

Só que o número não resolve.

E amontoo palavras num espaço cada vez mais finito, o que pode, eventualmente, apenas conduzir ao caos. Como moléculas de gás aprisionadas, soltam-se depois iradas, enfurecidas, mudas ainda e cada vez mais pobres pelo gasto excessivo de energia...

Talvez por isso, hoje apetecia-me que todos pudessem ouvir o meu riso, ou o meu grito, ou o meu sotaque. Ou tão só a forma como desejo bom fim de semana.

Hoje queria palavras vibrantes. Umas poucas, preciosas de tão escassas, que de alguma forma tivessem conseguido escapar ao silêncio da palavra escrita.

Ouçam o meu olá...

Filhos da Puta!



A Luna acabou de perder a mãe. E foi exactamente nesta altura que escroques filhos da puta nojentos resolveram atacar.

O nojo que me dá esta gente!
____

Podes sempre vir falar aqui para a Voz, amiga, que mais não sei dizer nem fazer neste momento, depois de ler a tua carta aberta.

Sente-te em casa nas minhas Vozes, se isso te der algum consolo.

Um beijo muito grande e solidário.

2005-09-08

O sol põe-se, mas há luar

E eu vivo aqui desterrado e Job
da Vida-gemea d'Eu ser feliz!
E eu vivo aqui sepultado vivo
na Verdade de nunca ser Eu!

Almada Negreiros


Li uma vez uma entrevista a Eduardo Lourenço em que lhe era perguntado por um jornalista francês o que era a saudade, se era um sentimento que existe mesmo ou se não passaria de um mito. A resposta de Eduardo Lourenço foi brilhante e, ao mesmo tempo, extraordinariamente poética. Diz ele que a saudade é como quando o sol se põe, mas sabemos que vai surgir o luar. As palavras não foram bem estas, mas sei que andam lá perto. E a tradução é livre e da minha autoria, sendo que o meu francês já não é o que era.

Gosto da forma como Eduardo Lourenço nos tenta ver como “um povo” com direito à sua “portugalidade”, condenado a nunca deixar de ser o que é e com uma mitologia velha de séculos. Na verdade, concordo que nos embrulhamos nessa mitologia desde que Camões escreveu “Os Lusíadas” e erguemo-la aos píncaros à custa de um Quinto Império. Pelo meio, Teixeira de Pascoaes fez da nossa melancolia nacional uma metafísica. Acabamos a chamar saudade a tudo e a viver em eterno saudosismo por uma idade de oiro que nunca soube ser como hoje a idealizamos.

Teremos saudade para tentar recuperar o irrecuperável. Talvez seja verdade que a saudade faz parte da alma portuguesa, mas não será apenas uma característica inata: tem uma componente de mito deliberadamente construído que se transformou num cliché.

Só que, ao invocamos os clichés, esquecemos que não há apenas um Portugal, mas muitos pedacinhos ainda há procura de uma unidade cultural que se possa projectar num nacionalismo qualquer (e os portugueses são extraordinariamente nacionalistas, mesmo quando parecem não ser). Podemos encontra-la no mito, mas será bem mais difícil encontrá-la no quotidiano. Especialmente no meu Norte, que não é triste e se recusa a sê-lo, que não canta tanto o Fado e sempre preferiu o Malhão e onde por vezes todos esses espartilhos em que querem encerrar a portugalidade se tornam uma camisa de forças que sentimos que os loucos nos tentam forçar a vestir.

Não somos, nem nunca fomos, um país de ensaístas. Mas sempre soubemos ser poetas. Com ou sem melancolia, com ou sem saudade, mas sempre dizendo as ideias mais ricas numa tradição de escrita enfeitada por figuras de estilo que não têm lugar na prosa analítica. Essa será uma realidade tão nossa como qualquer mito saudosista. E choca-me ver a forma como se vai aligeirando o discurso, como se perde a riqueza da nossa língua, como a maltratam inclementemente.

Haverá lugar para cantar Portugal enquanto Portugal souber continuar a dizer as palavras que o cantam. A nossa língua devia ser a nossa maior riqueza. Não podemos continuar a desbaratá-la para, daqui a uns tempos, estarmos a cantar a saudade pelo Português que deitamos a perder.


(Só faltou dizer que a inspiração de hoje fui buscar
aqui)

2005-09-07

Pares


Bereschith bara Elohim eth há-schamain v'eth ha-aretz
(No princípio, os Elohim criaram os céus e a terra)

Genesis, I, 1
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O "Zohar" começa por afirmar que o facto da Bíblia começar pela letra "beth", cujo número de ordem é dois, é muito esclarecedor. Afirma, com efeito, que a criação se efectua num plano duplo(...)

Guy Bechtel - Os Grandes Livros Misteriosos


Porque haverá na Natureza esta necessidade de emparelhar todas as coisa e, depois, deixar em todas elas um espaço para a diferença, num mundo dizigótico por determinismo, quase imposição?


2005-09-05

Um ano


As criaturas habituam-se a tudo: à cegueira, à fome, à miséria, ao opróbrio. Só não se habituam à solidão.

Baptista-Bastos - Viagem de um Pai e de um Filho pelas Ruas da Amargura



Existe nisto tudo algo de repetitivo. E, no entanto, movo-me ainda pelas mesmas ondas que nunca desaguam em parte incerta e me trouxeram até aqui. Não há ainda sem vontade!

Existe um porventura e um sem ventura. Ou um desconhecimento reconhecido. Ou talvez o filtro que se veste de cores diferentes do real, sem real, mas não sem quotidiano. Tudo é inspiração e nada é fado.

Existe um limite mínimo de tolerância - baixo, por sinal -, ou a necessidade de marcar presença, de alguma forma, sem presença visível e sem forma.

Existe insegurança, temor, inveja às vezes, mas mais respeito e um calor pressentido de empatias gastas sempre em renovação.

Ou existe tão somente esta coisa abissal de ter um marco, um limite. E de o ter até ultrapassado. É um Bojador pejado de monstros e, do outro lado, estão as terras férteis da esperança, nunca vistas mas sempre vislumbradas.

Um ano. Cumpriu-se um ano a 24 de Agosto. Tão só isso. Nada mais e nada menos do que um ano. Ou talvez seja mesmo muito mais do que isso. Porque aqui fiz ninho, fiz casa. Aqui dei licença a mim mesma para republicar pedaços perdidos, contar uns quantos novos, deixar que a vida real e a que inventei interagissem, partilhassem histórias, ou contassem histórias alheias na primeira pessoa.

Gosto de pensar que a Hipatia - a verdadeira, a de Alexandria - se vivesse hoje, teria um blogue. E que nele desabafaria do dia, contando anedotas, encontrando ainda uma qualquer forma de provocar as consciências, a própria consciência, os tabus, o instituído. E que se libertaria pela escrita de todas as pedras esquartejantes que o dia a dia nos arremessa.

Não seria por certo um blogue igual à Voz, mas seria também um blogue de mulher, cheio de "moods", com evidências de ciclos, guiado pela Lua e as suas manhas, ovulando textos doces e agarrando raivosamente argumentos com sintomas evidentes de PMS.

E esta Hipatia que vos escreve é um nick em pedaços. Ou o pedaço onde desaguaram todos os outros pedaços de mim que já foram nick um dia. Os pedaços do que sou, misturados com os pedaços do que fui, com os que quis ou quero ser, com os imaginados, os inventados, os canibalizados. Ou apenas um nick de embaraços onde, em alguns dias, me reconheço em demasia...

Mas, ao fim de um ano, já não sou só eu quem aqui escreve. São todos os que já li, mais todos os que quero ler. São os meus pedaços e os meus embaraços, entrechocando-se com os pedaços e os embaraços de quem aqui vem ou eu visito.

De resto, estes diferentes choques, mais ou menos amortecidos, transformam-se por fim em palavras que me seguram a Voz. E, aqui, nunca me sinto só!

Um ano não é muito tempo. Mas parece...

Obrigada por me aturarem as telhas e aparecerem sempre que preciso descobrir que a distância não me faz perder quem quero bem, por mais longe que esteja.

Tinha já bons amigos na net. O blogue veio apenas trazer-me mais uns quantos. E provar-me que fazer dos tais pedaços ou dos tais embaraços preciosos laços é o que realmente importa.

2005-09-04

Músicas e Agradecimentos


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Haverá, suponho, uma música para cada um de nós: para mim, para os que me lêem, os que lêem e até deixam ficar por cá um comentário...

Para alguns - os que já conheço melhor, especialmente aqueles que já tive o privilégio de ver - seria até capaz de propor eu uma música: há uma pessoa que identifico com o "Goodnight Moon", dos Shivaree. Uma outra para quem reservaria o "Crazy" da Patsy Cline. Outra ainda que me rio sozinha só de a imaginar a ensaiar a coreografia de "You can leave your hat on", do Joe Cocker...

Mas há mais, claro! Há outro nick para quem deixo o "Ombelico del mondo", do Jovanotti; o "Smooth Operator", da Sade, vai para outro; o "Private dancer", da Tina Turner, para outro ainda; e o "Kiss" e o "Cream", do Prince, para mais dois; a outro, reservaria o "Don't cry for Louie", dos Vaya Con Dios e, dos mesmos senhores, o "What's a woman?" parece-me ir a matar para outro nick ainda.

E podia continuar por aqui fora, porque, bem vistas as coisas, até a "Carmina Burana", de Carl Orff, ou a música da Pantera Cor-de-Rosa, me parecem possibilidades a explorar por uns quantos nicks... Mas é ainda mais giro tentar imaginar cada um de vós a experimentar o seu chapéu, ihihih.

No fundo - e perdoem-me estar tão destreinada após três semanas sem olhar para teclas -, o que queria dizer é que adorei todas as sugestões musicais que me deixaram ali em baixo, mesmo aqueles que só o fizeram após ameaça e intimidação (não é, Zu e Condessa?). Gostei que me viessem dar música. Muito! Tanto que, muito sinceramente, acho que vou ter de experimentar umas quantas do vosso rol, eheheh.

No entretanto, a Voz fez um aninho e entrou, portanto, na maioridade dos blogues. Mas podem ficar descansados que, isso, não vai mudar em nada o que por aqui se passa ou, mais precisamente, não se passa todos os dias. Tentarei continuar a manter a mesma postura do "deixa andar", com lágrima e gargalhada à mistura e, sem dúvida, pretendo manter a tradição de blogue "anónimo e anódino" (não é Vague?).

Finalmente, o meu muito obrigada pela simpatia na caixa de comentários abaixo: os vossos desejos cumpriram-se! Venho descansada destas férias e cheia de vontade de fazer coisas... talvez a primeira delas seja ir dormir, que amanhã já se trabalha. Mas, depois, estava a pensar dar uma mãozinha a uma amiga na organização de um jantar aqui pelo Porto. A ideia não é minha, portanto, esperemos que a minha amiga diga coisas e "se chegue à frente", que eu depois ajudo (ou estrago tudo, ainda falta ver isso...)



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Estou de volta, carago!

Tiveram saudades minhas?