Já há mais :)
(Os textos novos ficarão no topo do post; não que os queira sequer hierarquizar. É apenas por uma questão de comodidade na leitura. Todos sabemos como os olhos nos fogem nestas páginas, não é?)
Síndroma Bridget Jones
De entre tantas heroínas cinematográficas inesquecíveis, capazes de mover mundos só com um pestanejar, suscitar paixões arrebatadoras à beira da loucura, de personalidades fascinantes e misteriosas, protagonistas de tramas e intrigas Shakespearianas, tinha logo de me identificar com a muito longe de perfeita da Bridget Jones!
Desde a primeira cena do filme, em que Bridget canta esganiçadamente uma canção da não menos esganiçada Celine "tou-a-gritar-assim-pra-vocês-perceberem-que-tenho-um-aparelho-vocal-potentíssimo" Dion, ressacada, desgrenhada e entre beatas de cigarros que logo senti uma enorme empatia com aquela personagem tão humana.
Continuando o filme fui-me revendo vezes sem conta em várias situações, principalmente na lei de Murphy que se verifica sempre no azar e falta de timing que a acompanha. Imagino-me nas situações embaraçosas, como chegar a uma festa de máscaras com uma completamente despropositada* porque ninguém se lembrou de avisar, ou a falar descontroladamente devido a verborreia nervosa despoletada por situações de stress agudo e uns copos a mais.
E lembro-me de mim, a espetar-me numas escadas enquanto tentava um ar sensual e acenava a um tipo que achava interessante, a ter um furo às 5 manhã no meio da auto-estrada no único dia do ano em que resolvi vestir mini-saia e saltos altos, ou encontrar o gajo que minutos antes entrou sem querer na casa de banho das mulheres, enquanto me equilibrava na típica posição gaja-em-casa-de-banho-pública, a contar animadamente o sucedido aos meus amigos, sentado no meu lugar na mesa. Não há charme que resista!
Mas se até uma Bridget, histérica compulsiva de cuecas à mãe com padrão de leopardo encontrou o seu príncipe encantado da camisola de lã com renas oferecidas pela avó nem tudo está perdido. Até porque a Julieta morreu e a Scarlett acabou sozinha, parada no tempo à espera do amanhã.
*Só duvido que alguma vez me mascarasse de coelhinha da Playboy, já que costumo adoptar posturas mais low profile – aliás todas as amigas da minha mãe passam a vida a aconselhar-me a andar mais descascada “Ai filha, se tivesse esse corpinho andava sempre de mini-saia”, para ver se arranjo homem, disfarçando mal a preocupação de que fique para tia no avanço dos meus 25 anos.
Luna - 2005-02-28Dança de Palavras...
Não mais a ti direi que meus olhos estão tristes.Que as palavras abafam na penumbra do meu peito.Palavras gastas de tempo de memórias, ilusões perdidas de mundos que se foram.Não mais a ti direi que o sentido é sentido, que o abraço é viver no sangue, a chama da saudade…Que todas as marés que percorri em palavras, trazem a odisseia de quem as viveu.E como dizia o poeta “… gastam-se as palavras…” mas não se gasta o íntimo pensamento, partilhado unicamente a duas mãos, em danças de luas, que não se repetem.
Bailam as folhas, bailam lentamente…
Em céus azuis de sonhos sofridos, de esperanças renascidas de sorrisos em meu rosto…
Silêncio...estou sozinha...eu me desnudo
Manifestando a dor, sem disfarçá-la...
E por adormecê-la e suavizá-la,
A noite envolve a terra, qual veludo!
...e as palavras correm como vento.
...O vento atrai tempestades, esse vento da noite, que derruba estrelas, vento que gela por vezes o meu corpo, vento de ira, vento que transforma um pequeno grão de areia, em pedra dura... vento que sempre volta, para lembrar a saudade e avivar a dor...vento que enlouquece a tempestade que se adivinha, nas ondas gigantescas deste mar que é a Vida.
Na dança... soltam-se lembranças…
...viajei no tempo das minhas memórias. Não que tenha saudades desses tempos. Nada disso. Mas voltar ao passado, lembrar amores e desamores, fortalece o meu espírito. Sempre gostei de assumir, perante mim própria, tudo aquilo que a Vida me dá. De bom e de mau. Nem tudo foram rosas, mas nem tudo foram espinhos. Já viajei em águas revoltas, já rompi madrugadas orvalhadas de lágrimas e suspiros. Mas também já vi o sol nascer, de sorriso rasgado, corpo molhado de prazer. Fui ao fundo das minhas memórias, sorri e voltei.
Hoje - estou feliz!
Diluem-se pensamentos…
A ti me dou em forma de palavras.
Para que nos teus sentires despertes os meus.
E nessa paixão que nos enlaça
Um poema satisfazemos...
Um poema...
Este poema mágico que sentimos dentro de nós...
As tuas palavras com que saboreias a minha alma...
Lavam-me a alma…
E se há uma estrela, além, marcando-nos o destino,
é esforço vão fugir ao perigo dum momento!
E se uma folha move - foi em pensamento -
Sacudida por Deus.
Não é livre o caminho...
...de quem as proferiu…
Aborto
1º Sou contra o aborto! sempre fui.
2º Sou a favor da legalização do aborto! sempre fui.
Parece contraditório, mas não é.
Toda a gente é contra o aborto. Mesmo as mulheres que conheço que já abortaram, por decisão, são contra o aborto. Por princípio.Assim o principal argumento do NÃO deixa de ter razão. Os NÃO dizem que são pelas crianças que estão para nascer (somos todos).
O aborto sempre foi proíbido em Portugal e isso nunca fez com que abrandásse. É proíbido, mas continua-se a fazer. De que serve o argumento do NÃO de continuar a proíbir se, se vai continuar a fazer? De que tem servido proíbir? Mas respondam! De que tem servido?
E não me venham com as consultas de planeamento familiar. Na minha zona, em dois anos, o centro de saúde já teve a pílula esgotada por três vezes. E o que dizem às mulheres é, para voltarem dentro de oito dias. Já grávidas, concerteza.
E não me venham dizer que os serviços têm de melhorar, porque é óbvio que têm, mas até lá continuarão a fazer-se muitos abortos.
É bom que percebam, os homens principalmente, que há mulheres que não se dão bem com a pílula e que os outros métodos contraceptivos são ainda mais falíveis. E que há também que "descansar" da pílula e aí, mesmo usando outros métodos contraceptivos, é a desgraça completa. A maior parte das mulheres engravida. Há um terror generalizado em fazer o "descanso".
Os NÃO pensam, pelo menos parece, que se o aborto fôr legalizado haverá mais mulheres a fazê-lo; falam como se elas o fizessem por gosto. É falso. As mulheres quando o vão fazer já o pensaram dez mil vezes, já se arrependeram outras dez mil, não vislumbram saída, traumatizadas por terem de o decidir, fazem-no em desespero.
Não estão a brincar, são adultas, são mães (a maior parte dos casos), são conscientes.
Cuidado com os julgamentos, porque de todas as classes sociais, de todas as "educações" e de todos os credos já o praticaram. Com que direito se recusa áquelas que já o fazem, mesmo sendo proíbido, dignidade e condições médicas. Ou pretendem já castigá-las em terra em nome de uma moral, ou de um qualquer deus?
O castigo não é prender, o castigo tem sido pior: morre para aí porque não mereces melhor, e se sobreviveres que fiques com a saúde arruinada é o que te desejo. E às poucas que só ficam traumatizadas, por fim prendem-nas.
Não tenham a mínima dúvida que é isso que a sociedade pensou, disse e fez quando respondeu NÃO ao referendo anterior.
É esta a minha declaração de voto.
Mapa
O teu corpo um mapa onde solitária mergulho corpo que se acende em mim, vive e transbordae cada letra do abcedário uma chavetu o cofre, mapa que percorro com as mãos quentestentando adivinhar-te onde te dói mais o gritoe no meu olhar cresce o brilhoem todas as carícias te encontroe cabes inteiro nas minhas mãos cheiastalhados que fomos à medida do encontroe caibo inteira ns tuas mãos cheiasDas pontas dos meus dedos nascem asascontorno-te a boca de desejo num voodifusos os sentires no corpo suadosexo palavra brevebrevecompleta Vague - 2005-02-28
"Forgive Father, for I have sinned. It's been 30 years since my last confession."
Chamava-se Manuel. Devia ser novo ainda na altura, talvez trintas e tantos, alto, bem-parecido, simpático, acessível, sempre disponível e bom ouvinte e ainda por cima, Padre. Todos gostavam do Padre Manuel, novos e velhos, era disputado pelas famílias influentes para os jantares, recorriam a ele para tudo, opinião ou obra, nunca tanto se fez na freguesia inteira, nunca tanto bailarico se organizou, nunca houve tanta moça disponível para catequizar ou fazer a limpeza da sacristia ou paramentos.
O meu primeiro filme projectado vi-o no salão paroquial. Depois de uma festa qualquer que meteu farto almoço, seguiu-se a exibição de uma fita. Seria de esperar que escolhesse uma qualquer coboiada, mas não, escolheu O Rapaz dos Cabelos Verdes de Joseph Losey.
Também na hora da confissão podíamos contar com ele. Estar à espera em silêncio, a ensaiar a lista de pecados, era angustiante. Depois entrava-se na sacristia, ele estava à espera, sorria.
"Então, conta lá...." Puff, mente em branco, gaita, nem um pecadinho, ai rápido, alguma coisa.....
"... aborreceste a tua avó?" Sim! Isso, isso...!
"... não a ajudaste em casa?" Exactamente!
"... não tens estudado nem feitos os trabalhos da escola?" Mais, mais....
"... e disseste palavras feias?" Merda! disse merda!
Saía uma tonelada de cima, ele sabia tudo de cor e salteado, conhecia-nos por dentro e por fora e garantia uma safa divina! Que mais se pode pedir de um padre aos 7 anos? Mas nada se mantem eternamente na mó de cima e o estado de graça do Padre Manuel não era diferente. Espíritos mesquinhos começaram a espalhar frases maldosas aqui e ali, quem conta um conto acrescenta um ponto e num ápice passou de santo a cruxificado na praça pública.
A gota de água veio na forma de uma criança a quem o Padre Manuel deu o seu nome. Escândalo, escárnio, maldizer, ouro sobre azul para a cambada de hipócritas ingratos e de memória curta que conseguiu assim expulsá-lo da freguesia com o amém dos superiores hierárquicos. Foi enviado algures para os subúrbios de Lisboa, onde aparentemente não fazia diferença ser padre perfilhador de crianças.
Ele foi o primeiro e último padre com P grande que conheci e marcou a minha primeira desilusão com a Igreja. Não sei o que foi feito dele, se continuou a espalhar a "palavra de Deus" com o entusiasmo contagiante que o caracterizava e arrastava tudo e todos. Espero apenas que não seja só amargura o que sente quando ocasionalmente se lembrar de nós.
Teóricas e práticas
Ele era inexcedível quando se atracava a mim e subia uma mão por dentro da camisola até fazer saltar um seio do soutien para os dedos titilarem o mamilo enquanto a outra se metia desvairadamente pelo cós das calças ou da saia, na ansiedade de um bando de pássaros migradores a bicarem cada milímetro das zonas húmidas.A gaita, Senhor Doutor, era quando naquele período do aquecimento se empenhava em fazer do meio das minhas pernas o seu prato de leite que era uma pressa de schlep, schlep, tal e qual os gatos fazem com a língua. Eu bem sei que os filmes pornográficos são um fraco material de apoio para esta questão já que a maior parte das vezes são gajas com gajas e nenhum mânfio as vai copiar, não vá perder virilidade por isso e, quando são gajos na função, aquilo é mais estética para o plano que outra coisa qualquer.O facto é que a falta de comunicação emitida em gemidos da minha parte o fez repensar a questão e a solução que encontrou foi pegar no popular passar o corredor a pano e, literalmente, fazer de mim chão de esfregona. Oh Senhor Doutor, eu nem queria acreditar, dada a sua idade cronológica que o sexo oral fosse para ele matéria virgem mas em boa verdade, ainda me irritava mais a sua contínua falta de espírito de investigação.E assim, fartinha do trivial que era o que a minha avózinha chamava às refeições dos dias de semana, resolvi fazer-lhe um desenho e pespeguei uma imagem de um pénis e de um clítoris nas minhas nádegas que era o expositor que tinha ali mais à mão e paulatinamente, pedi-lhe que observasse bem as semelhanças que permitiam que as técnicas de sucção aplicadas num pudessem ser igualmente aplicadas no outro, tal como o contorno a língua no topo da elevação e que, de igual modo, as mãos colocadas na base permitiam a aceleração do estado de erupção.Só não lhe disse mesmo que me parecia que o pénis era uma evolução natural da espécie clitoriana para não lhe criar um crise de identidade e consequente demissão de quaisquer funções.
O terceiro mês
As cartas são várias ao dia, os telefonemas também. Ela levita, ele suspira, ela acha-o o homem mais completo que já conheceu, ele acha-a a mulher mais extraordinária que já conheceu, ela diz que ele a faz sentir-se uma mulher melhor, ele fala-lhe das melhorias que ela tem provocado nele, ela tem vontade de partilhar tarefas domésticas com ele, ele tem vontade de a trazer para a sua casa, ela pede aos pássaros junto da janela dele para cantarem na madrugada do seu aniversário, ele tem vontade de aprender a cozinhar receitas só para ela, ela diz-se alucinada, ele diz-se nas nuvens, ela canta-lhe ao ouvido "nunca me deixes", ele quer ajudá-la nos dias bons e nos maus, ela diz que vai com ele para todo o lado, ele ganha horas e dias de vida, ela agradece ao seu Deus por a deixar estar ao lado dele, ele diz que a traz dentro de si a toda a hora, ela diz que nunca encontrou ninguém com quem desejasse tanto partilhar o mundo e os dias, ele sente-se feliz por esta mulher gostar dele, ela tem medo que ele não espere e desista, ele garante que não o fará, ela diz que tem quase a certeza de que vão ser felizes ao lado um do outro, ele também, ela adora-o indubitavelmente, ele adora-a serenamente.
A perspectiva que se tem das coisas é substancialmente alterada consoante o contexto e os sentimentos envolvidos. Ambos têm o seu passado, que os faz querer tomar cautelas, dar um passo calmo de cada vez. Pequenas ousadias com confiança. Dizem-no um ao outro. E concordam. Mas a realidade é que não resistem à vertigem, como se viu pelos excertos que lhes roubámos no parágrafo anterior. E acabam por se entregar mais do que desejariam tendo em conta as condicionantes, sentindo a vulnerabilidade que daí resulta. Só mais tarde poderão perceber com maior clareza a velocidade com que tudo aconteceu. E lembrar que quanto mais depressa se sobe, mais depressa se desce, embora o soubessem todo o tempo. Só que não tinham forças para segurar a avalanche.
Mas estou a adiantar-me, porque afinal temos aqui um cavalheiro prestes a encetar uma longa viagem, decidida há minutos. Ela não tem a certeza de ser a melhor opção nesta data, mas também não sabe se algum dia terá essa certeza. Por isso ele vai.
E ao encontrarem-se as palavras quase desaparecem. Falam primeiro os braços que envolvem tudo. Falam as mãos que procuram tudo. Falam as bocas que devoram tudo. Durante horas nesta noite, haverá momentos imperfeitos uns, mais saboreados outros. Vão-se conhecer os detalhes dos rostos, as formas dos dedos, as texturas da pele, dezanove pulseiras de prata, as cores da roupa que não se vê. Vai haver um sono abraçado, sorrisos partilhados, palavras em voz baixa. De um lado há quem queira dar tranquilidade, do outro há quem queira ensinar a sorrir mais. Ambos querem viver o presente sem promessas, mas aqui e ali saem palavras que falam mais de futuro do que desta noite, porque nem sempre se controla o que se quer e o que se diz.
Existem duas maneiras de ver os efeitos de um primeiro encontro nos moldes em que este aconteceu. Por um lado há quem diga que agora ainda vai ser mais difícil a distância. Por outro lado pode-se argumentar que ao consumarem-se os gestos e se perceber a realidade do outro se perde a magia da idealização. Só que não vai haver tempo para descobrir se algum destes mecanismos entrará em acção. A verdade é que nos dias seguintes houve acontecimentos na vida dela que os ultrapassaram.
Como se dirá daqui a uns anos naquela nova arte que vai nascendo agora, a realidade morde. E morde-lhe as canelas sem dó, puxa-a para baixo da sua levitação e trá-la de volta a todas as condicionantes e dificuldades do dia a dia. Não vou explicar ao leitor do que se tratou, o caro amigo terá de me fazer fé.
Nestas semanas de Maio ele vai tentando à distância dar o apoio que sabe e pode. Nem sempre acertará no melhor modo, porque afinal se conhecem ainda pouco e há pouco, principalmente em situações de crise. E sobretudo por faltarem os olhos nos olhos e os abraços que podem ser bem mais úteis do que palavras nestas horas. Pouco a pouco vão rareando os telefonemas, ele continua a escrever as cartas, vai recebendo uma de vez em quando. Ela diz que não o merece e que teme que ele se desiluda. Ele aceita tudo e mantém-se ali. Até quase já não ter resposta.
Sendo um homem confiante que não desiste ao primeiro obstáculo, soube continuar a remar sozinho. (e esta confiança era das coisas que a ela mais lhe aprazia) Sendo um homem pragmático que consegue distanciar-se de si para analisar as situações, soube depois parar de remar ao ver que o barco ia vazio.
Foi então neste início do quarto mês, o de Junho, que li uma última vez a carta mais extensa e sentida que me enviaste, (e que entretanto já perdeu o perfume) voltei a dobrá-la segundos antes de se dar o cliché das letras borratadas e pestanejei para clarear a visão. Arrumei a carta no fundo da gaveta, arrumei-te a ti no fundo da memória. Com um sorriso dos que me ensinaste.
Obrigada!