aqui
Às tantas poderá parecer estranho se eu confessar aqui que estou sindicalizada. Pois é verdade, estou mesmo. Com cartão e quota paga. Até hoje não me serviu para nada, mas parece que têm por lá uns advogados que podem eventualmente (com grande ênfase no eventualmente) servir para alguma coisa. Tirando isso, acho que os sindicatos já não funcionam. Ou que os sindicatos que temos não funcionam. Funcionariam se não estivessem tão alheados da realidade. Mas o pior é que estão. E já nem sei como ainda alguém os ouve, muito menos porque têm ainda tanto tempo de antena, apenas para desbobinarem conversa com muito pouca valia e menos pertinência ainda e organizarem-se de forma a que a greve se reflicta em fim-de-semana prolongado. Isto, claro, para a farândola geriátrica do costume, que já nada teme porque também já nada tem a perder, muito menos a conquistar.
E de cada vez que um sindicalista abre a boca, eu abro também a minha. Só que de espanto pelas parvoeiras que conseguem ainda encadear em discursos ensaiados para caberem exactamente nos mesmos minutinhos do costume das entrevistas e o tanto que se espreme das resmas de palavreado sem nenhum suco. E, quase sempre, mudo de canal ou viro a página, com um enfadado "lá está este gajo outra vez com a cassete do costume".
São muitos os motivos que se juntam para fazer dos nossos tempos um período de retrocesso ou, pelo menos, de abrandamento na conquista de direitos. E a verdade é que seria fácil – demasiado fácil até – culpar apenas os que têm poder e os que põem e dispõem da insegurança que mina a vida dos tuguinhas. Visto deste lado, até quase chega a parecer abuso o facto de a quantidade de direitos que a Função Pública ainda preserva lhe permitir chegar ao ponto de malbaratar uma ferramenta de reivindicação como a Greve Geral. E porque raios chamar greve geral a reivindicações sectoriais, que estão bem a marimbar-se para todos os (des)empregados de todas as fábricas que negociaram escandalosos despedimentos colectivos no último ano?
Mas a verdade é que, na prática, os tuguinhas já não querem saber de mais que o próprio umbigo; na prática, o esforço colectivo, com cedências e riscos, de uma posição de força à moda do sindicalismo de antigamente, já não é possível: os empregos estão diferentes, os patrões estão diferentes, os empregados estão diferentes. E, acima de tudo, o País mudou realmente. Só alguns sindicalistas (e alguns líderes partidários) é que pararam no tempo e nem se apercebem das verdadeiras múmias em que se transformaram.
E de cada vez que um sindicalista abre a boca, eu abro também a minha. Só que de espanto pelas parvoeiras que conseguem ainda encadear em discursos ensaiados para caberem exactamente nos mesmos minutinhos do costume das entrevistas e o tanto que se espreme das resmas de palavreado sem nenhum suco. E, quase sempre, mudo de canal ou viro a página, com um enfadado "lá está este gajo outra vez com a cassete do costume".
São muitos os motivos que se juntam para fazer dos nossos tempos um período de retrocesso ou, pelo menos, de abrandamento na conquista de direitos. E a verdade é que seria fácil – demasiado fácil até – culpar apenas os que têm poder e os que põem e dispõem da insegurança que mina a vida dos tuguinhas. Visto deste lado, até quase chega a parecer abuso o facto de a quantidade de direitos que a Função Pública ainda preserva lhe permitir chegar ao ponto de malbaratar uma ferramenta de reivindicação como a Greve Geral. E porque raios chamar greve geral a reivindicações sectoriais, que estão bem a marimbar-se para todos os (des)empregados de todas as fábricas que negociaram escandalosos despedimentos colectivos no último ano?
Mas a verdade é que, na prática, os tuguinhas já não querem saber de mais que o próprio umbigo; na prática, o esforço colectivo, com cedências e riscos, de uma posição de força à moda do sindicalismo de antigamente, já não é possível: os empregos estão diferentes, os patrões estão diferentes, os empregados estão diferentes. E, acima de tudo, o País mudou realmente. Só alguns sindicalistas (e alguns líderes partidários) é que pararam no tempo e nem se apercebem das verdadeiras múmias em que se transformaram.
3 comentários:
um beijinho a lembrar saudades 8)
Beijos, Vague Maria :)))
Mais Vozes
E sugestões para que isto não se torne uma selva comandada apenas por cifrões. tens algumas para recomendar? conheces algum travão mais eficaz para a perca sucessiva dos direitos de quem trabalha por conta de outrem ? Que os sindicatos são cada vez menos eficientes já quase todos sabemos ,o que eu não sei é o acontecerá quando eles deixarem de todo de amedrontar
frogas | | 11.22.07 - 8:45 pm | #
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Já é uma selva comandada por cifrões. E, do outro lado, só há gente que não trabalha de facto há tanto tempo que, quando desbobina despautérios, está completamente alheada da realidade que se vive onde os empregados sobrevivem aos malabarismos dos patrões.
E poupem-me com as greves a servirem de fim-de-semana prolongado!
E poupem-me ao discurso dos tipos do meu sindicato: só dizem merda e não sabem, de facto, como são as coisas. Pior, não querem saber, tirando uns panfletos que volta e meia põem a circular com exigências que todos sabem que nunca serão cumpridas e esquecendo de mencionar aquelas que poderiam realmente ser feitas e até cumpridas, porque baseadas em legislação que há muito ninguém cumpre e os sindicatos fazem de conta que não há.
Hipatia | | Email | Homepage | 11.23.07 - 11:33 pm | #
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Mas se assim é porque é que és sindicalizada? Repara que concordo com quase tudo o que afirmas, até acredito que pecas por não referir mais algumas verdades, só que subsiste a questão de fundo. Quais as alternativas para fazer sentir algum possível descontentamento? Votar de quatro em quatro anos ou de 5 em5 anos? Não votar não fazer greve e deixar andar o barco como se tudo corresse ás mil maravilhas? Não sei se votas ou não , mas sei que a rapaziada do parlamento não fica a dever nada aos sindicalistas do tipo que referes.
Uma das minhas funções actuais passa pela distribuição de donativos a famílias carenciadas, podia dizer-te algumas coisas a respeito , mas termino com uma questão. COMO È QE SE ABANA ESTA MERDA
Se não é com greves como é que se faz sentir a esta gente que nos governa que as coisas tem que mudar?
Já agora e para terminar aqui fica um conselho de quem espera qualquer coisa dos advogados dos sindicatos. Arranja uma caixinha grande e faz dela um mealheiro para alguma eventualidade que possa surgir
frogas | | 11.26.07 - 1:46 am | #
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Claro que voto. Religiosamente. Só não votei uma vez, porque estava de férias (para o primeiro referendo da despenalização da IVG) e já corrigi esse grave erro.
Não sei como se abana esta merda enquanto não se deitar fora as múmias que por lá andam, percebes? É que esse é o mal: são múmias, já não percebem nada de nada, estão sem picar o ponto diário há demasiado tempo. São, como os políticos, um bando de carreiristas agarrados a poleiros. Porque achas que me indignei tanto com o professor da DREN que usa o computador do escritório para meter o IRS e para organizar tertúlias na base da anedota, como contra o excesso de zelo da chefe lambe-botas? Qual deles estava a fazer alguma coisa pelos professores? Nenhum! E, nos Sindicatos, é exactamente a mesma coisa. Pior ainda, nem sequer sabem adaptar o discurso e, nisso, o populismo demagógico de alguns políticos, há muito que os bate aos pontos. Porque a demagogia dos sindicatos está apenas datada e mofada. Só isso.
E sou sindicalizada porque nasci utópica e assim hei-de morrer: enquanto houver uma ténue esperança de aparecer alguém que mude de facto esta merda, eu quero estar lá para ter voto na matéria.
Hipatia | | Email | Homepage | 11.26.07 - 2:27 am | #
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