2007-11-05

Activismo


Martha Stewart


Apenas lamento que o autor do blogue não assine com um nome identificável. Porque sim, o activismo exige nomes.

Daniel Oliveira


Vai-me desculpar, mas não concordo que o activismo precise de nomes. Pelo menos, não no sentido de que a existência de um nome ou apenas três letras ou um qualquer nick faça diferença para quem lê e concorda ou lê e discorda com uma qualquer opinião expressa num blog (que para emitir opinião noutro qualquer espaço é preciso bem mais do que ter opinião, certo?)

O mal da grande maioria do que seria possível chamar "activismo" em Portugal é o tanto que se submete aos nomes, aos fulanos de tais e aos amigos, mais os apaniguados e os apadrinhados e os amigos dos amigos dos amigos. Clubes restritos, que invocam grandes causas e depois…

Do lado de fora, para quem chega e bate à porta do "clube de mais um Bolinha com nome", o activismo enquanto causa organizada chega a feder apenas a política e a Política há muito que passou a ser palavrão para quem não se quer envolver em jogadas várias, mais os lances duvidosos e os apitos e as reformas chorudas e os jobs e tudo o mais que afasta quem defende causas daqueles que, na maioria dos dias, apenas parecem defender causas para ficarem bem na fotografia.

Até que ponto quem está na Capital percebe realmente como se movimentam as coisas em cidades mais pequenas? As portas abrem-se na velha tradição secular do Sr. Cunha e a possibilidade de concretizar um qualquer projecto fica sujeita a variadíssimos interesses. A causa perde-se; a acção enrola-se em acçõeszinhas e talvez se safe o mais esperto. Mas a militância, a vontade de agir, de ainda conseguir fazer qualquer coisa em prol da comunidade, só encontra obstáculos, a tal ponto que eu nem estranho que o activismo agora se aninhe no divã.

No fundo, acho que quem age não precisa dizer que age; não perde mérito por não ter tempo de antena. O activismo com demasiados nomes, especialmente quando tantos deles acham que valem bem mais do que valem realmente, afasta a maioria das pessoas das causas. Os nomes tornam-se empecilhos, fomentam clivagens, favorecem listas e listinhas. E as causas acabam soterradas em tretas.

A militância à pequena escala, com pequenos projectos, poucos fundos e um punhado de gente anónima mas bem motivada, é bem provável ser o último reduto de qualquer verdadeira militância. Porque a militância nos tons mais tradicionais há muito que não é prioridade para quem tem de enfrentar o dia seguinte com cada vez menos perspectivas e muito mais medo de perder o pouco que ainda tem.

E pergunto-me se ainda há grandes causas que façam realmente sentido numa sociedade cada vez mais de costas viradas para os seus políticos transformados em "classe" e todos os que se perfilam – já nem importa a cor, que aqui do lado de fora parecem demasiado iguais – para fazerem desse "activismo com nome" o trampolim para a remessa seguinte da "classe". E "classe" também acabou palavrão… Às tantas aconteceu o mesmo à "militância".

Não, não acho que o verdadeiro activismo precise de nomes. Acho aliás que precisa realmente é de menos nomes. Porque as causas deveriam motivar todos, até aqueles que preferem lutar por elas sem necessidade de protagonismo, sem prescindirem do seu anonimato, reencontrando as causas que façam as pessoas repensarem a política, consciencializarem que a Política é de todos, feita por todos e nunca, mas mesmo nunca, por uns quantos eleitos que só se lembram do povinho sem nome em vésperas de eleições.

Agora, se neste País se consegue fazer activismo sem nome… bem, isso já é uma história completamente diferente. Mas isso também não é novidade nenhuma.

2 comentários:

I. disse...

Não posso dizer mais nada sobre este post senão que concordo em absoluto.

Aliás, e falando de activismo, nem considero que os políticos o sejam. Estes, se estão investidos num cargo público, são nossos empregados, passe o simplismo da expressão. Têm como profissão, no sentido mais concreto do termo, servir a causa pública (qualquer semelhança com a realidade é pura ficção, lol), e esse serviço deveria ser temporário, intenso e exclusivo.

Os verdadeiros activistas, aqueles que diariamente e fora dos seus habituais empregos, fazem da causa pública uma profissão, esses, os "amadores" e tantas vezes anónimos, é que são verdadeiramente activistas. E não precisam de ter nome, valem pelo que fazem e não pelo que dizem e como se chamam. É claro que há quem tenha que dar a cara pela causa, para lhe dar visibilidade, mas não deixam de ser anónimos porque o seu activismo é-lhes exterior, é uma actividade em que se envolvem apenas com o fim de melhorar a vida dos demais e em nome da causa.

E, já agora, falando de profissões, a causa pública raramente o devia ser. É uma função, que deveria ser entregue a este ou aquele que a quisesse servir, de forma altruista (se bem que remunerada) e por periodos transitórios. O que me entristece é que neste país já há a carreira de político, ou seja, fez-se do serviço público uma profissão, com todo o perigo que dí advém: nem toda a gente está preparada para saber separar o "eu" da coisa e interesse público... e é pena.

(não quero com este comentário abranger os que trabalham em profissões ligadas à justiça e segurança pública, ou mesmo a medicina pública; obviamente estes terão que ser integrados numa carreira para melhor servir. Falo apenas dos outros, em cargos públicos da administração - governo - e ligados ao poder legislativo ou autárquico).

E vivam os amadores anónimos. Olé, que muitas vezes são eles que põem o país a mexer.

Hipatia disse...

Escolheste a palavra certa, I. A palavra que não soube usar no meu texto e que lhe dá toda a lógica: amadores.

É que é isso mesmo: quem faz por amor, na carolice; quem não se importa em saber se o nome aparece nos jornais, nas notícias, nas próximas listas para as próximas eleições, ou se recebem alguma coisa por fazer. É que de profissionais começamos a ficar todos fartos, não é?