2008-05-27

Phoenix


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Às vezes é como se, ao faltarem-nos os grandes eixos estruturantes das grandes ideias motivadoras, nos fosse momentaneamente fácil - e até reconfortante - encontrar uma qualquer ideia. Mas as próprias ideias estão sujeitas hoje em dia às regras da oferta e da procura, do melhor marketing, da visibilidade mediática e poucochinha.

Acho que quase tudo nos serve, nesta era que nem tem direito a nome próprio. Ainda seremos pós-modernos? E estas gerações que passaram a ser designadas por letras: y, x, z, abc... É quase como se já não houvesse palavras ou, havendo palavras, estas estivessem gastas de sentidos. Dos grandes sentidos essenciais, pelo menos.

E, sem se poder pensar a ela mesma, como fica a Humanidade? Leva para Marte e para a Lua o caos sem significado? Conseguirá ainda nomear a esperança, fazer dela um desígnio colectivo? Por entre os pingos da crise, da desagregação, do valor facial convertido em divindade, surge o medo, o sectarismo, a seita e a verdade convertida em dogma. Daí ao ódio e aos conflitos vai o passo pequeno medido em lucro.

Sem relançarmos as formas de nos pensarmos e ao Mundo, não saberemos largar as grilhetas e conquistar o infinito: temos demasiado lastro a segurar-nos a esta Terra e aos seus jogos do costume, os seus interesses do costume, à falta de grandes desígnios cada vez mais habitual. E Marte continuará longe.

4 comentários:

Maria Arvore disse...

Falta tempo para pensarmos. Estamos demasiado ocupados a sobreviver a cada dia.

Luis Duverge disse...

Na antiguidade Grega os filósofos eram os cidadãos da altura, tinham tempo, estatuto e não tinham de pensar em sobreviver. Mudar a forma de pensar é mudar as pessoas, sobretudo as gerações. Algo como a diferença entre o pão e a razão, ou Phoenix e Fónix.

Um beijo e parabéns pelos prémios.

Hipatia disse...

É verdade, Maria Árvore. O Luís fala ali no outro comentário sobre os gregos e talvez seja isso: hoje somos todos escravos, sem tempo nem direito a pensarmo-nos.

Hipatia disse...

Tens toda a razão, Luís. E quando nos falta cada vez mais o pão e dos dias, pelo meio da labuta, não sobra tempo para pensar em mais do que as contas que se continuam a acumular, não há tempo para filosofias. Mas não ficas com a sensação que nos roubam até os sonhos, com a convicção que Marte só lá vai continuar para uns poucos e, a haver proveitos a serem chupados da exploração do Planeta Vermelho, irão todos para as mãos dos suspeitos do costume? E que para todos os restantes, quando uns poucos eleitos se puderem pôr ao fresco, não sobrará mais do que um planeta arruinado e exaurido?