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Cada vez me assusta mais que as ideias deixem de ser questionadas ou debatidas, que se aposte no preceito dogmático e imposto, ou que os valores da igualdade e liberdade sejam pura e simplesmente descartados, por subversivos. No fundo, assusta-me sempre quando alguém, por questões de fé, só aceita a ideia de liberdade e igualdade desde que seja a mesma igualdade e liberdade que assume como sua. Esta é que tem de ser imposta. A liberdade dos outros, em matéria de fé ou de recusa da mesma, será sempre vista como uma agressão. E ai o debate deixa de ser possível. E a questão é que nem sempre a fé e a crendice vêm do lado da religião organizada. Podem vir em igual medida, fardadas de iguais espartilhos, do lado da fé que diz renegar a fé. E esquecem que os dogmas, se bem que maioritariamente religiosos e sem carecerem de prova, podem ser construídos com igual impacto e semelhante perniciosidade do lado de quem apregoa o ateísmo como se este fosse uma religião igual. Ficam todos os debates inquinados, sobrando uma polémica estéril, fundamentada em silogismos, longe da liberdade de opção e sem resolução previsível: onde não são precisos factos demonstráveis, que adianta tentar provar seja o que for?
15 comentários:
Sem colocar em causa o direito de cada um ter as suas opiniões e as manifestar, sem que por isso tenha que renunciar à sua nacionalidade (lol), neste caso do mano do Abel tanto andou mal o proselitismo religioso como o ateísmo atávico do Saramago. Cruzes, que o home disse algumas que até me envergonham, como ateia, de tão mal (in)formadas, e tal a ignorância que perpassa.
Quando li o Evangelho Segundo Saramago achei o livro mauzinho e chocou-me o fraco estudo que ele devotou à bíblia e questões religiosas. Até eu, que sou uma inguinurante...
Olha, lá vamos andando. Eu acho que se pode ter uma discussão bem boa entre ateus e crentes, sem merdas. Vi uma no youtube, entre o Sam Harris e um rabi, que me parti a rir. O rabi sabia-a toda, e tinha cá um sentido de humor e poder de encaixe que dava vontade de lhe dar uma beijoca.
Há quem acuse o Dawkins de proselitismo, mas nem acho muito. Se fosse um crente a defender a religião com a mesma paixão, não o diriam... e o tipo é muito claro. Mas sim, cortante, agudo e sem piedade. Eu adoro. Foi ele o responsável por eu me assumir, que antes andava p'raí a dizer que era agnóstica, para não ferir susceptibilidades... not any more.
Acho que não tenho em mim a capacidade para a fé. Nunca seria capaz de me sujeitar a uma religião organizada, nem mesmo se ela se travestisse com bigodes de Estaline ou algo parecido. E era tão mais fácil! O calhau já não era só meu para carregar encosta acima todos os dias. Mas, depois, há qualquer coisa que criou o próprio primeiro movimento "natural" que faz o calhau rodar encosta abaixo. E se bem que os fractais já nos tenham provado sobejamente que pode haver harmonia e beleza no caos, não há como não querer acreditar que tem de ter havido uma causa primeira, antes de todas as causas e todas as coisas, que pôs tudo em movimento. É ai que esbarro na falta de um Deus. Não o Deus das religiões, sacras ou mundanas, mas um à minha medida e à falta que me faz. A falta que provavelmente me continuará a fazer, por mais fácil que fosse, que tudo o mais não pode ser apenas justificado por um sopro inicial de divino. Mas é também por isso que me mantenho agnóstica.
É muito mais desgantante ser um ateu ou um crente do que um agnóstico. Só uma constatação...
desgastante, sorry
Ai, Paulo, que mauzinho :D Primeiro anda a cuscar como são os rabiosques das meninas, e agora a insinuar que um agnóstico é um ateu sem tomates?
Fora de brincadeira, eu acho que ter uma atitude de dúvida, de questionar os dogmas que nos são transmitidos, e no fim admitir que não se sabe e se tem dúvidas, também é muito desgastante.
Ora nem mais, I.
E tu diz-me, Paulo, como pode ser viver sem muletas menos desgastante do que ter sempre um culpado designado, quer para o bom quer para o mau? E Deus é uma excelente muleta, especialmente na sua versão católica, onde é tão fácil confessar pecados, rezar umas ave-marias e esperar que venha outro Cristo resolver o resto e assegurar uma nuvem topo de gama, com vista para o Paraíso.
Assumo a minha dúvida, mas não assumo a desresponsabilização, nem espero – ou acredito – em seja o que for que venha depois da morte, muito menos que seja qualquer entidade bonecreira do meu destino. Entraria facilmente no ateísmo, não fosse a questão que exponho acima quanto a um momento inicial. Apenas isso. E aí se finda também o meu agnosticismo. Tudo o resto são efabulações e construções em que não acredito realmente, muletas com que não sei nem consigo contar, ainda que não tenha dúvidas que a minha vida seria bem mais fácil se não me sentisse tão absoluta e irremediavelmente responsável por ela.
Poizé, poizé. Apesar de me considerar ateia, não tenho certezas absolutas sobre a inexistência de Deus. Guardo sempre um nico de dúvida, ao menos porque admito (sempre) a possibilidade ou probabilidade de me convencerem do contrário.
Acho que qualquer pessoa com certezas absolutamente absolutas é que tem uma vida regalada. Triste, mas regalada.
Sem entrar pelo lado sério da questão (mas se quiserem, disponham):
As meninas já, com certeza, sentiram-se (sentem-se) profundamente apaixonadas, retombantes de paixão, cegas, sofredoras, capazes dos maiores sacrifícios. Mais tarde, avançaram (ou não) para um determinado estado de bonomia, ressarcidas, mas vigilantes, preocupadas para que, agora o Amor, não deixe de alumiar uma vida plena de alegrias, mas também de consumições, dependendo do relacionamento em questão. Ora, na primeira fase, foram bafejadas pela fé mais profunda (Paixão) e depois pelo amadurecimento da mesma, zelando pela sua continuidade. Mas sofrendo, sofrendo sempre, à medida que vão alcançando uma Paz interior inexplicável (Amor).
E vão lá dizer que os crentes não são sofredores... Não sei se estiverem sozinhas - agnósticas - será pior do que questionarem permanentemente uma relação: pelo menos sabem com o que -não- contam.
retumbantes, sorry (isto não tem corrector...?
Homem, sou de monogamias sucessivas e não nasci para mártir. Tenho para mim que uma relação só é boa enquanto não há esse tal de sofrimento e mais sofrimento e, já agora, a paz interior é coisa da minha responsabilidade e vou sentir-me muito mal se um dia a tiver a depender de outro que me pode dar cabo dela sem autorização. Daí talvez as monogamias sucessivas. Mas, aplicando esta minha predisposição nos relacionamentos amorosos à relação com uma qualquer divindade, então seria o quê? Um ano de Deus, outro do Buda, outro para Alá, depois o Deus do Fogo, a Lua de seguida? E em qual formato? O de uma qualquer imagem criada e formatada há uns quantos séculos por uns quantos marmelos e ainda tida hoje, por alguns, como lei (mesmo quando nem essa lei cumprem), assim tipo casamento organizado pela família com vista à procriação mas com amantes por fora à procura do prazer?
(o firefox tem corrector :P)
Milady (inglês suave),
Parece o Saramago: não suporta figuras de estilo.
A natureza humana é demasiada frágil para alcançar individualmente a paz interior e demasiadamente vigorosa para atingir a monogamia sequêncial :P
Sir,
Ai é que divergimos completamente: apenas a natureza humana, de forma individual e sem dar trela ao que externamente a oprime e amofina, pode alcançar a paz interior. E a monogamia sequencial é o que resta aos que não se querem enganar nem mentir a outros, por mais vigorosos. É que a I está certa ali em cima: a vida regalada é só para quem consegue ter dessas certezas absolutas, de amores eternos a deuses bonecreiros.
I, ontem a resposta que te dei não entrou e não dei conta. Também já não sei bem o que dizia, tirando que concordava contigo, menos no caso ateu: só a minha dúvida na capacidade de viver sem duvidar me mantém agnóstica; a crença em Deus e a sua total negação parecem-me enfermar do mesmo extremismo. Mas não acredito em qualquer religião e muito menos na construção que cada uma faz do divino.
Antes que esta resposta vá para o cu de judas, devo-te dizer que um ateu não nega nada (não vás pela semântica!), simplesmente não crê em qualquer Deus. Já agora revê o conceito de Agnóstico: há-os teístas e ateístas.
Que tal uma revisão da matéria...? :)))) Fui!
PS: Qualquer dia dou-te uma resposta a sério e vais gramar com um tratado chato como a potassa: não te metas comigo :P
Errado, Paulo. Nem sequer em relação ao agnosticismo ponho qualquer barreira. Há dias em que vou para o agnosticismo ateísta sem problemas (aliás, quase todos os dias, que sobrevivo bem sem a necessidade acreditar em deuses); mas também há muitos outros em que me resumo ao agnosticismo deísta (sim, qualquer deus ou até deuses, desde que não sejam fruto de uma religião organizada) ou até para o ignosticismo (é que no dia em que fizeres o tratado, vais primeiro precisar definir-me muito bem deus) e isso penso que terá ficado claro. Mas penso que te referias ao comentário supra à I, quando falo da dúvida. É que essa dúvida estende-se também ao próprio agnosticismo e se não o chegas a entender, então nunca conseguirás perceber a minha posição: todos os extremos se tocam e, no fim, todos os conceitos elevados ao absoluto enfermam do mesmo mal, deixando de lado o conhecimento possível e provável para entrarem no campo dos absolutos da crença onde a fé se substitui à prova. E não é ter a lição mal estudada (ou revisão da matéria, como lhe chamas). É pura e simplesmente recusar toda a lição ou que haja matéria a rever. Só o facto de te referires ao caso como um tratado que implica matérias leccionáveis por tratado diz-me tudo e o catecismo, meu caro, esse fica mesmo na borda do prato.
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