2004-10-24

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I think my heart must be made of clay,
'cause everyone said it would be broken someday.

Black – Sweetest Smile


Há muito que me sinto perdida num limbo e quase canibal de sentimentos alheios. Sou o ombro amigo, de emoções equilibradas, onde se busca o conselho, ou tão só a disponibilidade para ouvir.

Emoções minhas, dores minhas, paixões minhas... Quase sinto que lhes perdi há muito o rasto. Que, por vezes, só as invento para continuar a fazer frente a um quotidiano banal e cada vez mais banalizável.

E há todos os amigos que nunca consegui amar. Todas as portas que deixei que se fechassem. Todos os sentimentos que só me foi possível viver pela metade. Olho para tantos amigos e sinto-os a prazo na minha vida. Hoje ainda presentes e, com mais uma reviravolta do destino, mais uma recordação agradável perdida nos confins da memória. E há dias em que me pesa e lamento antecipadamente a falta do que ainda tenho.

Vou perdendo partes de mim pelo caminho. Perdendo para o tempo, para a distância. Perdendo para quem sabe sentir mais e melhor do que eu. Ou talvez não saiba, mas pelo menos sabe tolerar o sabor de sentir pela metade, conformista, já pouco esperançoso num futuro em que sentir por inteiro ainda é possível.

Dizem-me que há coisas que não vão mudar nunca. Faço de conta que acredito.

Dizem-me que não há necessidade de mudar nada. Faço de conta que acredito.

Dizem-me que há sempre espaço para todas as coisas. E eu faço de conta que acredito.

Mas a experiência diz-me que afinal vai mudar tudo. Que tem de mudar tudo. Que volta a ser minha a opção de sair ou ficar, enfrentando a mudança ou limitando-me a reagir a ela.

Já aconteceu tanta vez que nem é sequer uma novidade. Fico ainda? Vou já? Será que aguento a dor prolongada de ver mais uma agonia anunciada?

1 comentário:

Anónimo disse...

On : 10/25/2004 6:12:36 AM corpo visivel (www) said:


Pois é... andamos todos ausentes e ausentados, desencontrados, perdidos... mas sempre em viagem.

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On : 10/25/2004 1:13:37 PM Hipatia (www) said:


É verdade sim. Quanto maior a viagem, maiores as ausências, também. E é com essas ausências que vou tentando apreender a conviver. Às vezes custa. Muito. Mas a viagem não pode parar. Para ninguém...

Mais um beijinho

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On : 10/25/2004 2:56:10 PM sara (www) said:


Pior é parar e ficar a olhar os caminhos sem pegadas.
Beijos

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On : 10/25/2004 3:07:49 PM Hipatia (www) said:


É verdade, sim, Sara. Felizmente, tenho uma série de caminhos já trilhados onde pegadas se misturam. E alegro-me por isso. Mesmo sabendo que há tantos caminhos onde pegadas que seguiram um dia a par se separam. Doem-me as separações. Nunca os caminhos. Por mais tortuosos que fossem. Por mais doloridos que se me quedassem os pés.



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On : 10/25/2004 3:29:17 PM sara (www) said:


Doi e muito

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On : 10/25/2004 3:35:06 PM Hipatia (www) said:


Mesmo assim, mesmo que doa tanto, prefiro não ficar indiferente. Prefiro continuar a trilhar todos os caminhos possíveis, mesmo sabendo que vai doer, mesmo sabendo que há sempre um fim, mesmo sabendo que há separações que não se podem evitar. Fica sempre o passo certo onde um dia acertamos passo, onde, do caminho de um, fizemos o caminho nosso.

:)