2004-10-31

Lilith

(...)
E no amor que dei
e no Amor que tive
eu fui toda mulher – fui vertical

Eu fui mulher em espanto
fui mulher em espasmo
fui o canto proibido e solitário

Só tenho um itinerário: Amor-Mulher.

Manuela Amaral – Auto de Fé


Não quer a rotina da posse, nem o ciúme violento pelo que não tem tendo.

Nem quer o compromisso que cala em léxico ordeiro o desejo violento e verdadeiro.

Quer o encontro abençoado de corpos que se dão em liberdade, cantando na canção do sexo a música da paixão libertadora.

Será demónio condenado por não se privar de ser mais mulher do que farrapo, mais senhora do que capacho.

É o grito da independência em lugar de confissões mornas ou rosários da intolerância.

Não se põe rédeas nem peias, nem crises de moralidade, que não há pecado na natureza, só nos olhos e nas mentes que tentam domar o natural, recriando-o em artifício.

Filha da terra será. Filha pura e insubmissa, de Pai incógnito e ausente. Deusa pagã, matriarca, sem castas nem atilhos.

Dá-se. Por gozo, por prazer. Com fogo e sanha, voracidade. Prazer que se sacia para se renovar.

Não teme a liberdade de se dar por inteiro. Corpos nus rodopiantes, ao léu perante o fogo e o gelo.

É fogo. É gelo. É degelo em combustão.

Cai faminta ainda, voragem sugada e sugadora.

Em liberdade contra a mentira do pecado e a moral da subjugação.

Lilith será. Seremos...

1 comentário:

Anónimo disse...

On : 11/2/2004 6:08:20 AM Caliope (www) said:


Ora bem.. Ao ler o teu post, apercebi-me que o meu problema remonta a tempos muitos antigos... Suponho que devo descender de Lilith e não de Eva (suspiro...)

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On : 11/2/2004 7:31:30 AM Hipatia (www) said:


Eu também, Caliope. Eu também. Nunca tive um grama que fosse de Eva nos meus ossos