A TV prefere a repetição à análise e o mito ao facto. Estampa os seus ícones na nossa psique tão bem como nas paredes das nossas cidades. A homogeneidade espalha-se como um fogo florestal através da TV, já que ninguém quer ser apanhado fora de moda. Qualquer centro comercial é TV "de passagem". Sons, cores e formas de TV que são as expressões sensoriais da nossa sensibilidade colectiva. Mas a arregimentação televisiva da nossa sensibilidade assume outras formas, como os risos e aplausos enlatados ou, num nível mais subtil, as votações electrónicas. A maior parte do que aparece nos noticiários ou documentários é pré-digerido e apresentado num formato estereotipado para uma dentada rápida, como fast food. Não terá a TV criado uma cultura de massas, fazendo desaparecer o espaço da reflexão privada e autonomia de escolha? (...) a TV pode muito bem estar a pensar por nós...
Derrick de Kerckhove – A Pele da Cultura
Vou manter a televisão desligada por uns dias... À espera que uma nova notícia deixe a morte do Papa passar para os arquivos.
Vou manter a televisão desligada, à espera que não me contamine a memória do homem em demasia com este fogo de artifício de supérfluo.
Parece que às vezes vamos tendo mais "fast food" do que gostaríamos. Os enlatados estão em todas as prateleiras e a autonomia perde-se enquanto um "grande-cérebro" vai pensando por nós.
E até o "1984" parece desactualizado algumas vezes, enquanto a visão de Orwell e MacLuhan se complementam e superam mutuamente.
Talvez a "cybercultura" nos devolva algum domínio: sempre nos sentamos atrás de um "computador pessoal", sendo que o "pessoal" nos obriga – ainda que só algumas vezes – a regressar ao "espaço da reflexão privada e autonomia de escolha".
Aqui, pelo menos escolho que leituras fazer...
Derrick de Kerckhove – A Pele da Cultura
Vou manter a televisão desligada por uns dias... À espera que uma nova notícia deixe a morte do Papa passar para os arquivos.
Vou manter a televisão desligada, à espera que não me contamine a memória do homem em demasia com este fogo de artifício de supérfluo.
Parece que às vezes vamos tendo mais "fast food" do que gostaríamos. Os enlatados estão em todas as prateleiras e a autonomia perde-se enquanto um "grande-cérebro" vai pensando por nós.
E até o "1984" parece desactualizado algumas vezes, enquanto a visão de Orwell e MacLuhan se complementam e superam mutuamente.
Talvez a "cybercultura" nos devolva algum domínio: sempre nos sentamos atrás de um "computador pessoal", sendo que o "pessoal" nos obriga – ainda que só algumas vezes – a regressar ao "espaço da reflexão privada e autonomia de escolha".
Aqui, pelo menos escolho que leituras fazer...
3 comentários:
Sim... parece mesmo que "o meio é a mensagem". A única coisa que é veiculada integral e repetitivamente, neste sistema de comunicação fechado em si mesmo... é o próprio sistema. Como Lucien Sfez afirma, esta sociedade de comunicação criou um monstro que se alimenta, multiplica e perpetua a si mesmo, circularmente, ininterruptamente. É uma "sociedade de frankenstein", como ele diz. É assustador o buraco negro em que se tornam certos acontecimentos... atraem todos os media de todo o mundo, como se a realidade fosse uma lupa hiper-desproporcionada apontada implacavelmente a uma porção da realidade que inunda tudo o resto. A informação é tão redundante, é tudo tão excessivo que se anula em si mesmo. Chega a roçar a náusea este abuso, este vampirismo. A solução que escolheste parece-me óptima. Temos sempre essa escolha. Desligar[mo-nos]. Um abraço, nuno (troblogdita).
Já antes tinha deixado por aqui essa mesma náusea (a tua palavra, Nuno, está mesmo de acordo com o que sinto) a propósito de todas as fábulas televisionadas que foram fabricando nos últimos dias de vida do Papa. Na altura, apelava a que o deixassem morrer em paz. Agora, talvez o apelo seja para o deixarem estar morto em paz. Tanta notícia só desprestigia o homem que foi João Paulo II. E mostra a pobreza a que os media se condenaram e nos condenaram junto. Ainda continua a ser notícia se o homem morde o cão. Só não precisam é repeti-lo tantas vezes...
Mais Vozes
On : 4/3/2005 3:10:55 PM vanus de Blog (www) said:
Mesmo as escolhas, na realidade nunca o são verdadeiramente, as limitações do absoluto obrigam-nos sempre a viver no mundo que temos...
Vê lá que nem sabia que o papa já tinha morrido, vantagens da desinformação
On : 4/3/2005 4:19:20 PM Jorge Morais (www) said:
É tão bom poder escolher o que queremos ler...
e até onde queremos intervir...
mesmo assim, por vezes, ainda temos de ler o que não queremos, quando fazem comentários nos nossos blogs que consideramos desajustados (espero que não dês como exemplo os meus ).
On : 4/3/2005 4:31:57 PM Hipatia (www) said:
Sim, Vanus, mas podemos sempre escolher reduzir a exposição à forma como vão retratando o mundo e o servem tipo jantar de gala, com não sei quantos pratos e ainda a sobremesa.
(mas provavelmente estás muito melhor informada do que eu sobre outros assuntos )
On : 4/3/2005 4:35:31 PM Hipatia (www) said:
Pois, estamos mesmo sujeitos aos comentários, porque escolhemos ter sistema de comentários. Podemos sempre apagá-los, não é, Jorge? Eu prefiro mantê-los, ainda assim, pela qualidade de comentários que me vão deixando. Se aparecerem uns menos felizes, não serão essas meia dúzia de linhas que me vão preocupar.
Mas estou farta da soap opera em que transformaram a TV...
On : 4/3/2005 4:57:53 PM Mar (www) said:
Quase nunca vejo Tv...o que pode transformar-se num drama quando também não tenho tempo de ler os jornais do dia e sou chamada a fazer algum comentário radiofónico, o que acontece com frequência...Mas, ainda assim, prefiro. A tv é desinformação na maior parte dos casos.
E eu gosto de estar no comando das minhas escolhas. É por isso que, como tu, prefiro andar por aqui
On : 4/3/2005 5:04:27 PM Hipatia (www) said:
Isso mesmo, Mar. Quantas vezes não encontro a notícia nos blogues antes de a ir procurar aos jornais ou mesmo à tv? Até porque acho que, cada vez mais, os meios de comunicação viraram meios de desinformação ditada pelo vil metal...
On : 4/3/2005 5:54:34 PM Jorge Morais (www) said:
Hipatia e mar, por coincidência acabei de postar no meu blog sobre isto antes de vir aqui.
O que realmente gostei de ver na blogosfera nesta semana foi o conseguir falar do Papa sem exagerar, como os restantes media, e mantendo os blogs a sua linha de actuação independente.
Penso que, no que toca à blogosfera (tirando as excepções habituais), o papa pôde morrer em paz.
On : 4/3/2005 6:55:14 PM Hipatia (www) said:
Sim, Jorge. Tirando as excepções óbvias que apenas confirmam a regra, a blogosfera não exagerou
On : 4/4/2005 2:35:16 AM Maria Branco (www) said:
A minha está desde sabado desligada. Infelizmente o que acontece hoje e nesta situação em particular, é o habitual, tudo o que toque as emoções, as crenças, enfim... é explorado para além do aceitável e daquilo que entendo por Respeito ao outro, e à dignidade de cada um...
Mas, isso só acontece porque existe publico não é?
Um beijo grande! Desejo de uma semana muito feliz!
On : 4/4/2005 6:43:40 AM vague (www) said:
As televisões e a comunicação social sugaram até à exaustão toda a questão da morte do Papa. Embora sendo um acontecimento marcante não se justificam directos a toda a hora e uma cobertura exaustiva. É o sensacionalismo a que nenhuma tv consegue escapar.
Enfim...exigia-se mais recolhimento e uma prece mais discreta, como o é a própria morte, sem tanto alarido e tanto apelo à emoção e tantas perguntas inúteis dos jornalistas.
Digo isto apesar de ser católica, ou melhor...por isso mesmo.
On : 4/4/2005 11:49:59 AM Hipatia (www) said:
Sem dúvida que só acontecesse porque existe público. Mas o público também se constrói, não é? E se só lhe dão a ração diária de miséria, que mais haverá ele de procurar?
Beijinho e boa semana, Maria
On : 4/4/2005 11:53:06 AM Hipatia (www) said:
"exigia-se mais recolhimento e uma prece mais discreta"
Não saberia nunca dizer isto tão bem, Vague. É que é mesmo isso. Exigia-se, mas ninguém parece exigir. Estaremos já demasiado soterrados em sensacionalismo?
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