(...)
Les idées pétrifiées devant la merveilleuse indifférence
d’un monde passioné
d’un monde retrouvé
d’un monde indiscutable et inexpliqué
d’un monde sans savoir-vivre mais plein de joie de vivre
d’un monde sobre et ivre
d’un monde triste et gai
tendre et cruel
réel et surréel
terrifiant et marrant
nocturne et diurne
solite et insolite
beau comme tout.
Jacques Prévert - Lanterne Magique de Picasso
As palavras são armas e são beijos e esta melancolia outonal em dia de Primavera faz-me, mais uma vez, questionar as suas valias.
Há dias em que prefiro as minhas palavras armas, armas contra o tédio, a indiferença; há outros que as prefiro beijos, sussurradas, carinhos partilhados em tom de intimidade.
Nunca sei em que dia chego ao blogue. Depende muito de como me correu o dia, do que leio antes de ter vontade de escrever, como leio, como sinto. Nunca fui capaz de temer a intimidade para onde as palavras me transportam. Mesmo sabendo que é mais uma percepção do que uma verdade; mesmo sabendo que posso estar errada, que as minhas percepções podem ser deformadas pelo tanto de ruído que este meio de comunicação acarreta, ou que a reacção comentada é, muitas vezes, uma reacção apressada, descuidada, virulenta.
O mal - ou o bem - é que leio nos outros o espelho das minhas reacções mais naturais a toda e qualquer figura com que me cruzo na vida. E, se gosto, as palavras são beijos; se não gosto, as palavras são bombas. Nunca me caiu bem os meios tons. Por isso, tenho também mea culpas a assumir quando recordo as palavras com que povoo as respostas e até alguns posts neste meu playground palavroso. Mas não me sei suficientemente forte para ser diferente...
Há dias em que me apetece dar uma palavra-beijo a alguém. Porque nunca temi (apesar de tanto e tanto) a intimidade das palavras dos outros. Mas também há dias em que trago comigo apenas e só palavras-bomba e mino o caminho de todas as palavras que alinhavo por aqui e as intimidades possíveis das palavras dos outros. As palavras apenas e só espelham os meus humores...
Uma vez disseram-me que eu era uma "missionária" das liberdades que defendo. Não pretendiam que fosse um elogio. E, no entanto, para mim foi elogioso. Porque tenho as minhas verdades e defendo-as como posso, como sei, com todas as palavras que conheço, com raiva, com amor, com sofreguidão, com a arte possível ou a exaustão do "não sei mais". As minhas palavras sempre foram comprometidas com aquilo em que eu acredito. E talvez por isso ganhem, tanta vez, um peso desmedido.
As minhas palavras são o meu feudo e têm as matizes de humor dos meus dias. São palavras-beijo, palavras-arma, mas também palavras-lágrima, palavras-sorriso, palavras-gargalhada, palavras-intimidade. Só assim faz sentido para mim continuar a espalhar tanta palavra neste espaço.
E hoje apetece-me agradecer as tantas de palavras que, desde Agosto, tantos de vós deixaram ficar por esta Voz perdida. E mando-vos palavras-beijos, porque mais não posso fazer...