2005-05-17

Inveja


aqui


Admito: não tenho grandes pretensões na escrita. O sonho sempre foi escrever o livro, nunca foi publicá-lo. Ter as letras por aqui (mal) ordenados sujeitas a escrutínio alheio, ainda é algo que me espanta. Quando dizem que gostam - e a verdade é que ainda sinto que posso acreditar nos comentários com que me brindam - fico surpreendida e agradada. Porque a maior parte das vezes não encontro qualquer valia no texto debitado. Os que mais gozo me deram escrever nunca foram os mais populares; aqueles para os quais desde o início olhei de lado, parecem ter caído em gotos insuspeitos. No final de cada semana, quando o "sitemeter" me devolve os resultados das visitas, espero sinceramente não ter pregado demasiadas secas e que a ortografia e a gramática não me envergonhem pelos tempos mais próximos. E isso já é uma conquista.

No fundo, ainda olho bem de lado para o que escrevo. Tento ter algum conteúdo, mas um blogue feito a olhar para o umbigo só pode ter mesmo um conteúdo desinteressante. Porque todos os umbigos perdem a piada. Porque chegará o dia em que já ninguém vai ter pachorra para me aturar as luas ou as sanhas, as inseguranças ou as manhas, as tusas ou os banhos de água fria. No fim, talvez me sobre um punhado - bem pequeno - de letras alinhavadas num dia de superior inspiração, já que todos temos 15 minutos prometidos e eu faço questão de ter o que é de meu direito.

Mas a verdade é que morro de inveja de quem escreve bem. Morro de inveja de quem tem uma perspectiva interessante, inteligente, pertinaz, sobre as questões que me interessam e nem sei bem como abordar. E, mesmo sendo a inveja um dos tais pecados capitais, não sei como contornar o bichinho de olhos verdes que me acerca os calcanhares. É admiração, como é óbvio. É reconhecer o mérito também. Mas é acima de tudo uma inveja pequenina, que amordaço para que não se transforme em mesquinhice. Estranhamente, será também uma inveja salutar, porque sempre aprendi alguma coisa com quem admiro à distância.

Aqui há uns dias, falamos os dois de asnos. Só vi depois de escrever o meu texto. E, ao fim da tarde, rabinho entre as pernas e a sentir-me pequenina, vinha para apagar a coisita que me tinha atrevido a escrever. Lá está: a banalidade do meu texto pesava-me, enquanto
outro me deixava verde. Verde de inveja por não ter sido eu a escrever assim. Mas quem nasce para peixinho nunca chega a tubarão...

E
o texto de hoje, então, deixa-me já para o verde bisga. Já não é só verde inveja. É uma cor de dor de barriga, misto de aplauso e cobiça. E o verde nem me vai bem...

Admito: tenho inveja dos textos deste meu
conterrâneo. Nada a fazer. Não é bonito, mas é verdade. E só me resta admiti-lo.


1 comentário:

Anónimo disse...

Mais Vozes

Podia ter escrito isto...
Luna | Homepage | 05.19.05 - 8:42 pm | #

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Ui!