2005-05-01

Comfortably Numb


aqui


(...)
Até que um dia, corajosamente,

Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
- Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.

Miguel Torga - Liberdade



Águas paradas não movem moinhos, não é?

Quando já não há como olhar só em volta e o que está atrás é lastro em demasia;

Quando não se vê a possibilidade de progressão, só mais engulhos e armadilhas;

Quando nos querem calar a voz e já não sabemos como gritar a vontade certa;

Quando só a ruptura parece o caminho para nos encontrarmos de volta com o que somos, com o que fomos, com o que queremos voltar a ser...

Então tenta-se, mais uma vez, a fuga para a frente. "Quem muda, Deus ajuda!"

Não sou crente. Nem sei bem o que sou. Mas sei naquilo em que me estou a transformar. E, se não faço alguma coisa rapidamente, perco-me de mim.

Estou à deriva, mas não estou em movimento. Estou maniatada, castrada. Preciso correr o risco. Tentar esta vez. Talvez seja a última. Talvez esteja na hora. Antes que seja demasiado tarde e todos os medos que sempre tive de perder o controlo possível me agarrem de vez, me dispam de vontades, me segurem no confortably numb mudo e apático à espera que o peso dos anos resolva de vez o que não tive ou vontade, ou coragem para fazer...

Será que ainda sei como se faz?

2 comentários:

Hipatia disse...

Obrigada, amiga :)

Anónimo disse...

Mais Vozes

Não vale morrer em vida.
E viver é como andar de bicleta: basta tê-la à frente para recordarmos como se faz.
E o melhor da vida é olharmos para nós e gostarmos de sermos quem somos.
maria_arvore | Homepage | 05.02.05 - 12:39 am | #

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Eu faço figas por ti. Boa sorte, vai em frente! A apatia não vale, não serve, não presta. Antes correr o risco de nos espalharmos ao comprido tentando do que nada fazer pela nossa felicidade. Beijo grande.
1poucomais | Homepage | 05.02.05 - 2:03 am | #

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Força nesse quebrar das águas mornas.
Águas paradas fazem mal.
Sorte
vague | Homepage | 05.02.05 - 8:35 am | #

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Se precisares de ajuda, dá uma apitadela.
Ricardo Garcia | Homepage | 05.02.05 - 12:10 pm | #

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Aos quatro, o meu muito obrigada. Claro que as vossas palavras calaram fundo. Claro que sei que têm razão.

Não quero assustar ninguém com este meu estado de humor. A sério que não. Não se preocupem em demasia, porque eu devo estar a fazer uma tempestade num copo de água.

O mal talvez seja eu calar tanta coisa na vida real; talvez seja mesmo esta incapacidade para desabafar de outra forma, sem parecer demasiado dramática. Sempre precisei resolver as minhas coisas comigo, antes de as poder partilhar. Mas o blogue deu-me um espaço para atirar com todas as tretas para um éter onde me enovelo, como num umbigo.

Maio é um mês mau para mim. Confronta-me com a maior das ausências que a vida me reservou; deixa-me nostálgica, deprimida. E, como a saúde também não tem ajudado e o trabalho ainda menos, sinto-me a entrar numa espiral de autocomiseração a que preciso pôr um ponto final rapidamente. Recuso-me a ser uma pessoa triste e recuso-me ainda com mais força em arrastar os outros para as minhas melancolias. Em algumas semanas estarei melhor. Espero estar melhor. Até lá, não liguem muito. Já me bastou ter assustado ontem uma amiga.

Mais uma vez, obrigada pelas vossas palavras. Soube muito bem lê-las
Hipatia | Homepage | 05.02.05 - 9:15 pm | #