Ana Jotta é uma das artistas mais originais e surpreendentes no contexto artístico português, revelada na década de oitenta. A sua obra, extremamente singular, utiliza suportes como a pintura, a escultura, o bordado ou os objectos do quotidiano, num exercício diarístico em que a artista contrapõe a intimidade do dia a dia à assumpção das suas realizações enquanto obra de arte.
aqui
No meu entender, a arte envolve – ou deveria envolver – quer o objecto, quer o sujeito, numa relação dinâmica. Deve sempre implicar subjectividade. Deve sempre implicar emoções: as que o artista pretende despertar; as que o observador consegue sentir. Implica ainda, na minha perspectiva, a nossa vontade de nos limitarmos a uma "estética" ou de querermos uma arte abrangente, prática, inovadora, assumindo que aquilo que, num dado momento, não é considerado arte, possa passar a sê-lo no momento posterior.
Na minha perspectiva, o bom artista é aquele que me consegue envolver com a sua criação. É aquele que me implica na tal relação dinâmica, subjectiva, emotiva. É o que tem a habilidade de, além de uma boa execução, me transportar para um universo novo, de criatividade, de novidade.
Na minha perspectiva tão subjectiva deste tema, a arte pode vir do pior executante; da mesma forma que a melhor execução me pode deixar pura e simplesmente indiferente quanto ao resultado obtido.
Não sou capaz de fazer avaliações objectivas. Não me atrevo sequer a tentar. Aliás, não percebo nada de arte e há muito que assumi que qualquer avaliação que tente fazer será sempre subjectiva.
Mas uma panela que geme - e uma panela velha, ainda por cima - pousada em cima de um carpélio preto e sobre uma banheira apenas me fez lançar uma sonora, gigantesca gargalhada. E confessar a minha ignorância sobre a chamada "arte contemporânea".
Onde fica ali o meu envolvimento com a criação artística? Poderia ser mesmo a gargalhada que me convulsionou o corpo o objectivo da criadora? Onde encontrar beleza numa criação que me parece apenas alucinada? Aliás, toda a exposição que cobria as paredes, tectos, chão da Casa de Serralves me deixou perfeitamente indiferente. Ou, pior, às gargalhadas. E não consigo acreditar que fosse esse o objectivo da artista.
Na verdade, este fim de semana, limpei os pés à arte contemporânea. Literalmente. É que um dos objectos em exposição era um tapete onde se lia "firmeza". Um tapete!
E, numa casa de banho, estava uma panela que gemia. E voltei a descer as escadas e a limpar os pés na firmeza. Às gargalhadas ainda.
Deve ser arte. Apenas não me diz absolutamente nada. Nada!
No fim, volto sempre ao mesmo resultado: gostei, ou não gostei. Como em tudo, é apenas a minha opinião. Vou continuar a expressá-la. Podem, ou não concordar com ela. Mas não me obriguem a ver o mundo pelos olhos dos outros.
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No meu entender, a arte envolve – ou deveria envolver – quer o objecto, quer o sujeito, numa relação dinâmica. Deve sempre implicar subjectividade. Deve sempre implicar emoções: as que o artista pretende despertar; as que o observador consegue sentir. Implica ainda, na minha perspectiva, a nossa vontade de nos limitarmos a uma "estética" ou de querermos uma arte abrangente, prática, inovadora, assumindo que aquilo que, num dado momento, não é considerado arte, possa passar a sê-lo no momento posterior.
Na minha perspectiva, o bom artista é aquele que me consegue envolver com a sua criação. É aquele que me implica na tal relação dinâmica, subjectiva, emotiva. É o que tem a habilidade de, além de uma boa execução, me transportar para um universo novo, de criatividade, de novidade.
Na minha perspectiva tão subjectiva deste tema, a arte pode vir do pior executante; da mesma forma que a melhor execução me pode deixar pura e simplesmente indiferente quanto ao resultado obtido.
Não sou capaz de fazer avaliações objectivas. Não me atrevo sequer a tentar. Aliás, não percebo nada de arte e há muito que assumi que qualquer avaliação que tente fazer será sempre subjectiva.
Mas uma panela que geme - e uma panela velha, ainda por cima - pousada em cima de um carpélio preto e sobre uma banheira apenas me fez lançar uma sonora, gigantesca gargalhada. E confessar a minha ignorância sobre a chamada "arte contemporânea".
Onde fica ali o meu envolvimento com a criação artística? Poderia ser mesmo a gargalhada que me convulsionou o corpo o objectivo da criadora? Onde encontrar beleza numa criação que me parece apenas alucinada? Aliás, toda a exposição que cobria as paredes, tectos, chão da Casa de Serralves me deixou perfeitamente indiferente. Ou, pior, às gargalhadas. E não consigo acreditar que fosse esse o objectivo da artista.
Na verdade, este fim de semana, limpei os pés à arte contemporânea. Literalmente. É que um dos objectos em exposição era um tapete onde se lia "firmeza". Um tapete!
E, numa casa de banho, estava uma panela que gemia. E voltei a descer as escadas e a limpar os pés na firmeza. Às gargalhadas ainda.
Deve ser arte. Apenas não me diz absolutamente nada. Nada!
No fim, volto sempre ao mesmo resultado: gostei, ou não gostei. Como em tudo, é apenas a minha opinião. Vou continuar a expressá-la. Podem, ou não concordar com ela. Mas não me obriguem a ver o mundo pelos olhos dos outros.
1 comentário:
On : 10/14/2005 5:24:09 PM Hipatia (www) said:
Mais Vozes
Mas na casa de banho não somos panelas aos gemidos?...
Mais a sério, a arte também pode ser provocação.
Quanto ao que gostamos ou não na arte, concordo que só tem a ver com os olhos das nossas emoções.
maria_arvore | Homepage | 06.05.05 - 8:46 pm | #
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Bem, é certo que muito do que se passa na casa de banho é consequência da panela... e às vezes gememos mesmo
Visto por essa perspectiva, aquela panela ganhou um sentido completamente novo, Maria Árvore
Hipatia | Homepage | 06.05.05 - 9:07 pm | #
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Ai, a panela... Totalmente de acordo, Hipzinha. Mas ainda há mais uma coisa: a exposição que está em Serralves custou dinheiro, que inclui dinheiros europeus e nacionais para a cultura e desenvolvimento regional. Muito dinheirinho se gastou para trazer para ali objectos artísticos como uma panela a gemer sobre uma banheira, umas caixas plásticas sob um vidro, uns paninhos de crochet numa parede, uns livros velhos com bibelots em cima, entre outros possíveis exemplos da originalidade da artista.
E agora vou ali fabricar umas obras de arte com montinhos de trapos velhos, com licença
Zu | Homepage | 06.05.05 - 9:41 pm | #
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Vais fazer uma "Fonte da Telha", Zu? Eu ainda estou a ver se encontro as k7 velhas
Hipatia | Homepage | 06.05.05 - 9:52 pm | #
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Panelas eu arranjo e gemidos logo se vê
Bastet | Homepage | 06.05.05 - 10:42 pm | #
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Expressaste a minha opinião, Hipatia. Obrigada por me poupares ao trabalho de a escrever
Ou se gosta de determinado tipo de arte ou não se gosta, ou então (há uma 3ª opção não incompatível com as outras),
muitas vezes há algo de incómodo no que vemos, e aí a intenção do artista foi conseguida: incomodar, fazer-nos 'pensar'(?), querer que vejamos o mundo pelos seus olhos.
Não concordo numa coisa q dizes: Também é bom ver o mundo pelos olhos dos outros, até para confirmarmos o nosso próprio olhar. E ainda: esse mundo que nos é oferecido pelos olhos dos outros é nem sempre a visão que eles próprios têm, mas uma tentativa de colocar em causa, mexer com algo cá dentro. Como se fossemos cobaias dos seus caos (e eu gosto de caos em certos contextos artísticos)
Nem sempre é pacífico q seja bom que se mexa cá dentro. Há uns anos em Londres estive na Tate Gallery e à entrada, estava dependurado e suspenso no tecto um cavalo embalsamado. Mexeu, comigo, claro, mas não é este tipo de provocação que gosto que me façam no domínio da arte.
Às tantas tudo é arte. E afinal o que é a arte?
O que um macaco desenha quando lhe passam para a mão um papel e uns lápis de cor? É tudo aquilo que é interpretado do mundo exterior e catarquicamente exposto, são fantasmas, é o quê?
Desafio.
(Desconfio que este comentário vai passar a post no restaurante de nouvelle cuisine )
vague | Homepage | 06.05.05 - 11:06 pm | #
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Que tinhas graça, já sabia. Que eras inteligentinha... desconfiava. Agora que fosses uma notável detective, não fazia a mínima. "Prontes", decobriste-me a careca, perdi a pica e vou já apagar "aquilo" tudo (((
Estou tão chateado que já nem te comento as panelas )))))
espumante | Homepage | 06.05.05 - 11:07 pm | #
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Se eu tiver de ir para a cozinha, Bastet, normalmente há gemidos: meus e de quem prova o resultado das minhas aventuras com as panelas
Hipatia | Homepage | 06.05.05 - 11:17 pm | #
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Tens razão, Vague. A última frase não está nada clara em relação ao que eu queria dizer. Tem mais a ver com o que a Zu diz ali em cima: o meu desconforto perante a importância e o dinheiro que se gasta com uma coisa que não consigo valorizar. Mas a incompetência é minha, pela certa, que, provável e comparativamente, talvez até achasse mais artístico o desenho do macaco. Uma panela a gemer numa casa de banho não. E o pior é que não era desconforto. Muito menos provocação. Só conseguia achar que era demasiado ridículo. Que não, que nunca, uma coisa assim possa merecer o dinheiro de um bilhete de entrada num museu. Desta vez era à borla. Se tivesse pago para ver, ia sentir-me roubada.
E nem questiono muito a validade da arte, especialmente a contemporânea. Já sei que quase nunca a vou compreender e que, na maior parte dos casos, nem sequer vou gostar. Mas não ao ponto de me sentir defraudada.
Mas serão realmente objectos destes a chamarem o público às galerias e museus?
Hipatia | Homepage | 06.05.05 - 11:24 pm | #
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Ai, Espumante, homem, de que falas tu? Nunca, mas mesmo nunquinha, te iria querer roubar a pica! Era só o que me faltava! Um Espumante sem pica?
E que vais tu apagar?
Hipatia | Homepage | 06.05.05 - 11:29 pm | #
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É isso, Hip: se eu tivesse pago, sentir-me-ia roubada. Pelo menos, deu para umas fortes gargalhadas.
Há arte e arte, contemporânea ou de qualquer outra época. Se a maior parte do que está exposto é arte, eu vou-me tornar artista. Por exemplo, com os ditos pedacinhos de tecidos velhos: ato-os com uma fita e chamo-lhes o que me vier à cabeça. Depois não me poderei queixar se uma empregada de limpeza mandar a obra de arte para o caixote de lixo, como já tem acontecido...
Zu | Homepage | 06.06.05 - 12:34 am | #
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Eu vou ver se descubro como arranjar uma vida de cão Ou então encontrar um penico (o balde já está a uso) e pôr-lhe uma lâmpada acesa em cima
E que achas se usar o meu tapete que era caracol mas afinal pode ser borboleta? Faço-lhe um bordado ou então cubro-o de nódoas de gordura e...
Hipatia | Homepage | 06.06.05 - 12:46 am | #
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Eu vou aos bocadinhos de tecidos velhos, está decidido. E posso fazer uns bordados nuns bocados de tecido - será que os lençóis com patinhos que bordei para a caminha da minha filha poderiam ser expostos, com um título assim brilhante como, deixa ver... "Canção da barata tonta"?
Zu | Homepage | 06.06.05 - 1:14 am | #
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Olha olha!!
eu tinha deixado aqui um comment esta madrugada e não está aqui....
Era para te dizer, Hipatia que já fazes parte das faunas
Abraço,
Bin
bin da fauna | Homepage | 06.06.05 - 4:03 pm | #
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A canção da barata tonta, Zu? Antes uma carochinha
Hipatia | Homepage | 06.06.05 - 10:05 pm | #
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O Haloscan tem destas manias, Bin
E obrigada pelo link. Fico honrada de constar das Faunas. Talvez agora eu passe a deixar por lá os comentários mais do que merecidos porque, no que toca a leitura, essa já é diária
Bem vindo aos comentários da Voz!
Hipatia | Homepage | 06.06.05 - 10:08 pm | #
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Hipatia
Esquece o meu comentário lá em cima.
Estava redondamente enganado )))
Beijinhos
espumante | Homepage | 06.06.05 - 10:25 pm | #
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Cheira-me que deixei escapar algo realmente suculento, Espumante...
Ora bolas!
Hipatia | Homepage | 06.06.05 - 10:29 pm | #
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deixaste... realmente suculento, não sei. Um dia vais descobrir. Mais cedo do que imaginas
)
espumante | Homepage | 06.07.05 - 10:26 pm | #
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Tem alguma coisita a ver com o andares farto do verde Espumadamente?
Hipatia | Homepage | 06.07.05 - 11:14 pm | #
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Cuidado com essa das panelas na casa de banho (isto na perspectiva primária, claro...homofóbica? redutora?). Mas a panela é arte? E como se chama a quem a faz, não à panela, claro...e não á designação canónica.
Perspectivas bacoca e primárias à parte, grande parte do que dizes faria parte de um comentário meu, se tivesse sido tão infeliz como nessa ida a Serralves...
Mas há um outro aspecto, alkiás já abordado pela minha insignificante pessoa, no meu blogue, há uns tempos: Até aos Séc. XVIII-XIX, na arte dita gráfica, era possível ver surgir e ganhar dimensão, pessoas- artitas!- sem currículo académico na arte. Sem curso específico, de "Belas Artes" ou afins. Hoje já praticamente não é. Hoje pode um idiota qualquer de Belas Artes fazer as maiores "porcarias" e gozar com a nossa cara...que, apesar disso, é aceite nos "círculos" artísticos...Isto pelo menos nesta m... de país.
Mas, de facto, abordas um aspecto da maior importância: é verdadeiramente possível um artista, sem nome, "sem cara" ser melhor do que um renomado, quer seja em artes gráfica, quer, principalmente em Música, cinema, etc. Mas ainda há muito quem vá pelas "marcas"...ignorantes! ( e panelas para tudo isso!)
abf | Homepage | 06.08.05 - 4:08 pm | #
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Como já disse, não percebo mesmo nada de arte, abf. Limito-me a um "gostei" ou a um "não gostei". Se fosse só a "ars", a "habilidade", então suponho que a exposição que vi era pobre. Mas julgo que nem sequer era esse o objectivo da artista. Eu limito-me a achar que há por ali demasiados conceitos que não me dizem respeito, que são fruto de uma ou várias panelinhas. E já vi coisas de "estrangeiros" a que achei tão pouca - ou ainda menos - graça. Mas parece-me, acima de tudo, um mundo completamente desencontrado com as expectativas de quem, como eu, não percebe nada de arte. E penso que a maioria do público será como eu, pelo que duvido que exposições assim consigam encher museus.
Hipatia | Homepage | 06.08.05 - 8:02 pm | #
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